SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Trinta e oito anos atrás, no dia 13 de dezembro de 1981, Flamengo e Liverpool se enfrentaram, pela primeira e única vez, no Estádio Nacional de Tóquio.
Era, como a partida deste sábado (21), uma final de Mundial. A deste ano é a decisão do Mundial de Clubes, organizado pela Fifa. A de 1981, a do Mundial interclubes (Copa Intercontinental), que reunia em jogo único os campeões europeu e sul-americano.
Assisti ao jogo na íntegra, e a decepção com o Liverpool foi enorme. Reconhecidamente um dos melhores times do fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, a equipe mostrou quase nada de futebol, individual e coletivamente.
Parecia um catadão, sem organização e sem estratégia. Os jogadores mais técnicos, como a dupla Souness e McDermott, que eram os articuladores do meio-campo, errava passes com frequência.
Disposição até havia, a equipe inglesa não deixou de correr do começo ao fim. Menos um. Astro do Liverpool, o atacante escocês Kenny Dalglish, era um morto-vivo em campo.
Parecendo desorientado, o camisa 7 quase não pegou na bola, e, quando o fez, apanhou dela ao tentar dominar (deu uma joelhada), errou passe de um metro, escorregou e caiu sozinho (cômico), fez um cruzamento bisonho (por trás do gol) e finalizou uma única vez (de longe e para longe).
Do outro lado, o craque fez a diferença em um time muito concentrado e com uma tática bem definida.
A bola deveria passar por Zico, o capitão flamenguista, que atuava naquela formação (4-3-3) do técnico Carpegiani como o homem mais avançado do meio-campo.
Não foi a partida mais genial da carreira do camisa 10, longe disso. Mas o Galinho de Quintino fez algumas jogadas de efeito, incluindo um chapéu, e teve participação nos três gols do Flamengo, todos no primeiro tempo, registrando duas assistências.
Aos 12 minutos, Zico viu disparada de Nunes e, do círculo central, lançou. O zagueiro e capitão Thompson errou o tempo da bola, que o encobriu, e Nunes tocou na saída do bigodudo Grobbelaar: 1 a 0.
Aos 33 minutos, Zico cobrou falta no meio do gol. Não era uma defesa difícil, mas Grobbelaar não segurou e, no rebote, Adílio marcou: 2 a 0.
Aos 40 minutos, Zico, novamente acionado no círculo central isso ocorreu muitas vezes, deu um passe rasteiro e preciso para Nunes, nas costas do lateral Lawrenson. O centroavante avançou, entrou na área e chutou no canto do goleiro do Liverpool.
O jogo parecia ganho ali, e o tempo mostraria que estava.
Na segunda etapa, o Liverpool pouco mudou, a não ser por uma insistência maior nos chuveirinhos e teve uma única chance clara, aos 15 min, com o meia Kennedy ""o goleiro Raul interveio com os pés. O Flamengo criou três boas chances de ampliar, todas defendidas por Grobbelaar, que evitou uma goleada humilhante.
É possível fazer uma comparação de 1981 com 2019? Sempre é, mas os times atuais são muito diferentes daqueles.
Na formação tática, por exemplo, há uma inversão. Aquele Flamengo jogava em um 4-3-3, hoje joga em um 4-4-2, que se torna não raro um 4-2-4, com os avanços de Éverton Ribeiro e De Arrascaeta.
O Liverpool, que se postava no 4-4-2 àquela época, hoje se forma no 4-3-3, com ótimos laterais apoiadores ""diferentemente dos de 1981, que eram limitados e quase não deixavam a defesa"" e um trio de ataque afinado e perigosíssimo.
Se houver equilíbrio no plano tático, o que costuma decidir é a individualidade.
Em 1981, os craques de cada time eram Zico e Dalglish. Só o primeiro jogou. E, frise-se, tão vital quanto Zico foi Nunes, o goleador da partida.
Hoje, no Liverpool, todos esperam que brilhe o futebol do egípcio Salah, a estrela maior da companhia ""será um grande desafio para Filipe Luís conseguir marcá-lo.
No Flamengo, não há um craque em evidência. Mas três têm condições, pelo histórico, de decidir o jogo em questão de segundos: Gabriel, Bruno Henrique e De Arrascaeta.