Foi no Rio Grande do Sul que Lúcio se projetou para o futebol, e é na capital gaúcha que ele pretende expor os feitos de sua carreira. Revelado pelo Inter no final da década de 1990, o zagueiro ganhou o mundo, jogando por Bayer Leverkusen, Bayern de Munique, Inter de Milão e Juventus. Com a camisa da Seleção Brasileira, disputou três Copas, tendo sido titular do time pentacampeão em 2002. As lembranças de todas estas passagens estão expostas em um escritório na zona norte de Porto Alegre.
Nesta semana, Lúcio mostrou seu acervo pessoal, que em breve deve ser aberto à visitação do público, à reportagem de GaúchaZH. Aos 41 anos, o jogador nascido em Planaltina, no Distrito Federal, ainda não decidiu se continuará atuando profissionalmente — em 2019, defendeu o Brasiliense na Série D e na Copa Verde. Em uma conversa descontraída, o defensor analisou o momento do time comandado por Tite, elogiou um atleta colorado e revelou que pensou em voltar ao Beira-Rio: "Infelizmente, não fui procurado". Confira a entrevista na íntegra.
Qual sua relação com Porto Alegre? Costuma vir muito para cá?
Porto Alegre foi o início de tudo. Foi no Inter em que tive minha primeira chance no time principal. Desde 1997 que estou aqui. Constituí minha base aqui na cidade, vivi durante muito tempo, até 2001, quando fui transferido para a Alemanha. Minha filha nasceu aqui, minha esposa ama Porto Alegre, meus melhores amigos estão aqui. O time que tenho o maior carinho é o Inter, que me revelou tanto para a Seleção, quanto para o mundo. Então, é por isso que a gente criou esse vínculo. As pessoas muitas vezes até pensam que sou gaúcho, porque fui revelado pelo Inter. Sempre que possível, venho a Porto Alegre.
Tem planos de abrir este acervo para visitações?
A gente tem o projeto de, futuramente, abrir a visitações. Claro que essa ideia será mais interessante com uma visita guiada, com eu estando aqui para falar de cada detalhe, de cada conquista e da minha passagem por vários clubes. Nosso publico é a criançada e as pessoas que gostam de futebol e, com isso, vão poder ver e escutar algumas histórias contadas por mim. Quando eu permanecer por mais tempo aqui em Porto Alegre, vamos abrir para as pessoas conhecerem mais minha carreira. Este é o próximo passo.
Como você analisa este momento da Seleção Brasileira treinada pelo Tite?
Da Seleção, a galera não espera outro resultado que não seja vitória. Mas a gente sabe que fazem parte estes altos e baixos, até porque quem joga contra a Seleção vem muito motivado. No empate com Senegal, eles (senegaleses) estavam muito motivados e deram trabalho para o Brasil. A Seleção tem tempo hábil até a próxima Copa do Mundo, que é o principal objetivo. Mas tem que melhorar. Todos os jogadores sabem disso, fazem sua autocrítica também. Para se ganhar uma Copa do Mundo, este planejamento tem que ser um crescimento tanto como time, quanto como grupo, para chegar bem a 2022.
Você foi revelado pelo Inter. Em algum momento de sua carreira você pensou em voltar?
Eu pensei. Infelizmente, não fui procurado. Quando eu estava na Juventus, voltei para o São Paulo, passei pelo Palmeiras e, dois anos depois, aconteceu minha saída para a Índia. Infelizmente, não aconteceu. Mas não muda o carinho, apreço e gratidão que tenho pelo Inter.
Você tem acompanhado o Inter? O que acha da dupla de zaga? Tem também o Bruno Fuchs, que está subindo da base. Já o viu jogar?
Eu não vi o Fuchs jogar. Vi a dupla de zaga. Sempre muito estável, sempre jogando muito bem. No que observei, pude notar uma qualidade muito grande e uma técnica muito apurada, principalmente do Cuesta. É um grande jogador. O Inter tem um privilégio de contar com ele. Sem dúvidas, é um jogador que pode ir além e sonhar em jogar na Europa.
Dos zagueiros atuais, qual você mais gosta de ver jogar? Tem algum "novo Lúcio"?
Gosto muito, até por ter tido a oportunidade de ter jogado com ele, do Rodrigo Caio (ex-São Paulo e hoje no Flamengo). É um cara com caráter e profissionalismo muito grandes. E o próprio Cuesta, que tem muita força, raça e determinação. Então, esses dois são os que vejo que estão se destacando no futebol brasileiro. O Cuesta, inclusive, tem características mais ou menos parecidas com as minhas.
No último Lance de Craque organizado por D'Alessandro, você jogou ao lado de seu filho. Ele vai ser jogador também?
Ele agora está em Washington, estudando. Tem 17 anos, gosta de jogar e está jogando na universidade de lá. Vou ficar na torcida para que ele possa se tornar, primeiramente, o que ele gosta. Peço a Deus que ele seja feliz, mas temos que respeitar sua decisão. É sempre uma alegria quando podemos jogar juntos. No último Lance de Craque, me emocionei bastante com o gol que ele fez.
Você já pensa em aposentadoria? E depois, continuará trabalhando como empresário ou treinador?
Ainda não decidi, mas a cada dia que passa chega mais próximo o tempo de parar. Até pelo fato de dar atenção maior para a família, descansar um pouco. Por enquanto, vou pegar este período de férias para analisar direito e decidir qual o melhor caminho. Mas acredito que não vou conseguir ficar longe do futebol, mesmo que seja fazendo algo diferente. Tenho planos de fazer cursos de gestão, para treinador. Não sei o que realmente vai acontecer. Agora é descansar e refletir um pouco até tomar a decisão de qual caminho seguir até o final do ano.