Querido Wianey,
Antes de tudo, queríamos todos dizer que fazes uma tremenda falta. E não falamos apenas como leitores da tua coluna ou ouvintes da rádio. É como colega de trabalho mesmo.
Os inícios de tarde, depois do Sala de Redação, nunca mais foram os mesmos sem teu passeio diário pela redação. Como era divertido ver teu desfile pelas editorias, debochando e sendo debochado pelos companheiros, dedo em riste, frases de efeito (nem todas publicáveis), até parar no esporte e enlouquecer todos, rigorosamente todos, os presentes.
Essa carta, Tata, é sobre um dos temas que mais adoravas odiar. Era uma provocação que fazíamos. Quase sempre alguém lançava bem na hora que dizias: "Vou sair para não desaprender o pouco que sei".
— E aí, Wianey? Taison ou Messi?
Esta terça, aliás, seria um dia para fazer isso até cansar. Porque neste 28 de maio está completando 10 anos aquela coluna de Zero Hora que viralizou no Brasil. Falamos com a dona Marisa, tua esposa, sobre isso:
— O fato de estarem lembrando dessa coluna 10 anos depois mostra o tamanho da importância que o Tata teve para a crônica esportiva gaúcha. Ele tinha uma visão muito ampla sobre o futebol, conhecia muito. É um reconhecimento a isso.
Como não te temos mais no convívio, não vamos (só) te provocar. Na real, vamos admitir uma verdade: talvez, no nosso íntimo, especificamente naquele dia, alguns de nós tenhamos pensado que tua previsão da coluna poderia acontecer.
Naquela época, ninguém jogava mais do que Taison no país. O guri de Pelotas era uma máquina. Saía cinco metros atrás do zagueiro, chegava dois à frente. Arriscava de fora da área e colocava a bola na gaveta. Quando desabalava a driblar, entortava adversários. Parecia questão de tempo. E de calma.
É que calma não era bem uma característica tua, né, Wianey? Pelo contrário: tuas marcas eram a explosividade, a intensidade, o humor, o pensamento rápido, a resposta na ponta da língua.
Mas, no fim das contas, a previsão foi só um pouco equivocada. Porque Taison deu certo. A parte que falaste dele se cumpriu: o guri foi para a Europa e ganhou mais de uma dezena de títulos na Ucrânia. Fez carreira sólida. Virou capitão. Esteve bem próximo de jogar no Chelsea. Foi chamado para a Copa do Mundo da Rússia.
E mais do que tudo: Taison melhorou a vida de muita gente. Não só dos Barcellos Freda, seus familiares. Ele, sempre que pode, volta a Pelotas e ajuda os amigos do bairro Navegantes, os antigos colegas de futebol de campinho e até de mendigos que encontra pela rua. E sem fazer alarde. É no Sul que admitiu ter adorado aquela coluna, como disse para a Rádio Gaúcha, quando foi convocado por Tite.
— Tenho uma camisa (com a frase de) Wianey que ando em Pelotas. Eu amo a camisa — disse o atacante, que havia prometido te dar um abraço quando viesse ao Sul, mas infelizmente nos deixaste em 29 de setembro de 2017.
A única falha da previsão, Wianey, diz respeito a Messi. Não sabíamos que seria tão melhor do que os outros, como o tempo mostrou. No mundo inteiro, só apareceu um homem para rivalizar com ele na contemporaneidade. Messi é tão bom, mas tão bom, que já pararam de compará-lo a Maradona. Alguns até arriscam usar o nome de Pelé (a quem chamarias de lunáticos).
Na tua coluna na página 61, encontramos a última frase do texto: "E que os santos me protejam da enxurrada de gracinhas que vêm por aí". Pato, Ganso, Robinho, Anderson, Dentinho, Fred, Conca, Petkovic. Todos esses foram bem demais em 2009, Wianey. Se tivesses feito a comparação por algum deles, talvez facilitasse o trabalho dos santos na proteção da "enxurrada de gracinhas".
Mas, também, assim, não teria sido Wianey Carlet, né?
No dia 24 de junho de 1987, nascia em Rosario, na Argentina, Lionel Andrés Messi Cuccittini. Meses depois, em 17 de janeiro de 1988, vinha ao mundo, em Pelotas, Taison Barcellos Freda.
Enquanto o primeiro construiu toda a sua carreira na Europa, o segundo passou pelas etapas naturais para a maioria dos meninos sul-americanos: peneirão, alojamentos e viagens de ônibus. Assim, trilharam caminhos opostos, disputando e conquistando títulos completamente diferentes.
Taison ou Messi? A profecia de Wianey Carlet foi posta à prova em 2017. No dia 9 de setembro, oito anos depois da publicação, "o futuro chegou" em um amistoso entre Brasil e Argentina, realizado em Melbourne, na Austrália. Os dois jogadores ficaram frente a frente pela primeira e única vez até hoje. Porém, o confronto direto durou pouquíssimos segundos.
Uma década depois da famosa coluna, parece fácil responder quem é o melhor. Porém, teste seu conhecimento neste quiz e tire a prova se você é um especialista sobre as carreiras de Lionel Messi e Taison.