Os ingleses, que inventaram as regras modernas do futebol no século 19, têm um belo motivo para se orgulhar da sua criação neste sábado (1°). Após dois milagres nas semifinais, Tottenham e Liverpool decidem às 16h, em Madrid, na Espanha, o título da Liga dos Campeões. Será a segunda decisão britânica da história da competição – a primeira foi em 2008, quando o Manchester United bateu o Chelsea nos pênaltis.
Enquanto os Reds golearam o Barcelona por 4 a 0 em Anfield, os Spurs fizeram três gols em 40 minutos no Ajax, na Holanda, para avançar à sua primeira decisão na história do principal torneio de clubes do mundo. O retrospecto é favorável ao Liverpool, que busca sua sexta “orelhuda”. Desde 2013, os clubes disputaram 14 jogos pela Premier League, com nove vitórias dos Reds e apenas uma da equipe de Londres.
A final britânica interrompe um domínio dos clubes espanhóis na Liga dos Campeões, que venceram sete das últimas 10 edições do torneio. A temporada é marcada pela superioridade dos ingleses na Europa. Na quarta-feira, o Chelsea goleou o Arsenal por 4 a 1 na decisão da Liga Europa, a segunda competição de clubes mais importante do continente, demonstrando a imponência da Premier League perante os outros campeonatos nacionais.
— Nesta temporada, os ingleses foram melhores. O Real Madrid sentiu o desgaste de uma geração vencedora, ainda mais agora sem Cristiano Ronaldo. O Barcelona está mal e acabou perdendo até a Copa do Rei. Ano que vem pode ser tudo completamente diferente. Os ingleses não conseguiram chegar antes talvez porque o calendário deles é muito forte, os jogos exigem mais, mas não acho que uma temporada sinalize o que vai ocorrer nas próximas — analisa Mauro Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN.
Quem conhece de perto a competitividade da Premier League é o volante Sandro, 30 anos. Formado nas categorias de base do Inter, o jogador despediu-se do clube com o título de bicampeão da Libertadores em 2010. Seu destino foi o Tottenham, onde jogou durante quatro anos. Agora na Udinese, Sandro relembra os tempos de Spurs e se diz surpreso com a troca vertiginosa de patamar do clube londrino:
— Não esperava que fossem chegar tão rapidamente à final. Quando estava lá, o time brigava para se classificar à competição. Foi muito rápido. O clube já estava preparado, mas é muito difícil por causa dos confrontos contra equipes de tradição no continente — disse Sandro ao programa Planeta Bola, da Rádio Gaúcha.
A presença do Tottenham em Madri é ainda mais surpreendente por outro motivo. Para a temporada 2018/2019, o clube não gastou um centavo em contratações e se tornou o primeiro da Premier League a não se reforçar com nenhum atleta na janela de transferência desde a temporada 2003. Todo o investimento esteve voltado para as obras de conclusão da sua nova arena. Inaugurado em 3 de abril, o Tottenham Hotspur Stadium substituiu o antigo White Hart Lane e custou US$ 1,1 bilhão.
Para dificultar ainda mais a vida do técnico Mauricio Pochettino, o time não pôde contar com Harry Kane, maior artilheiro da história dos Spurs na Liga dos Campeões, com 13 gols, no jogo de volta das quartas de final contra o Manchester City e na semi contra o Ajax. Quem o substituiu foi Lucas, ex-São Paulo, que colocou o Tottenham na final após marcar três gols em Amsterdã. O brasileiro, porém, pode deixar o time titular, já que Kane está recuperado da lesão no tornozelo.
— O banco de reservas fez toda a diferença. Quando Kane se machucou, entrou um jogador do mesmo nível. Lucas está na história — disse Sandro, que foi um dos jogadores consultados pelo atacante brasileiro quando recebeu proposta dos Spurs.
Ao lado de Bayern de Munique e Barcelona, o Liverpool é o terceiro clube que mais venceu a Liga dos Campeões, com cinco conquistas. O número de taças dos Reds é o mesmo que o de participações do Tottenham na competição continental. Lucas Leiva, 32 anos, conhece bem a obsessão dos torcedores pelo torneio. Em 2007, após ser vice da Libertadores com o Grêmio, foi vendido ao time inglês, onde permaneceu por 10 temporadas. No seu segundo ano no clube, chegou às quartas de final, mas foi eliminado pelo Chelsea — marcando um gol no confronto.
– Quando saí do Grêmio e cheguei ao Liverpool, tive de mudar o meu estilo de jogo para me adaptar ao nível físico e à exigência da Premier League. Evoluí demais taticamente. Foram 10 anos que me ajudaram a melhorar como atleta e pessoa — disse o volante, que hoje joga na Lazio-ITA, ao Planeta Bola.
O Liverpool tenta ser o primeiro time a vencer a Liga dos Campeões uma temporada após perder a decisão – em 2017/2018, foi superado pelo Real Madrid por 3 a 1 em Kiev. Para Lucas, uma das principais forças do time de Jürgen Klopp está no trio brasileiro formado pelo goleiro Alisson, o volante Fabinho e o atacante Firmino.
— Alisson é um dos melhores do mundo. Já o Fabinho tem um grande futuro no Liverpool. Seu estilo condiz com o que Klopp exige para a posição. Firmino está entre os três principais camisas 9 do mundo. Não é apenas um centroavante fixo, mas também um atleta que ajuda na marcação. É o titular da Seleção com méritos. Torço muito por ele, até porque sou seu padrinho de casamento (risos). Chegou o momento de o Liverpool coroar este trabalho espetacular do Klopp — disse Lucas.
Apesar de terem criado as regras modernas do futebol, os ingleses não vencem uma Copa do Mundo desde 1966. Em 2018/2019, um alento: os times do país dominaram as principais competições de clubes do mundo. Pelo menos nesta temporada, o futebol voltou para casa.