Nesta sexta-feira (12) o treinador Zé Ricardo foi hostilizado por torcedores do Botafogo no aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro, após eliminação da Copa do Brasil para o Juventude. Um comportamento que infelizmente nos acostumamos a assistir em todo o país: covardes que acham que com atos de violência irão "arrumar a casa".
Algumas horas depois, o treinador terminava despedido do cargo que ocupava desde agosto de 2018, quando assumiu no meio do Brasileirão após eliminação do Botafogo na Sulamericana. Um estadual ruim neste ano e a eliminação para um time da Série C na Copa do Brasil, levaram à demissão do técnico.
Esse modelo se tornou um padrão no futebol brasileiro: técnico é demitido "porque não conseguiu os resultados", alguém chega para apagar incêndio sem tempo para trabalhar e executar suas ideias com um elenco que não foi montado por ele, os resultados não chegam, a torcida se impacienta, os covardes tomam conta e o técnico é demitido.
Será que ninguém percebe que essa roda insana - junto com a impunidade generalizada - é que permite que a violência tome conta dos espaços do esporte? Ao trabalhar sempre contra o relógio, com a pressão dos resultados e sem as condições normais para desenvolver um trabalho sério, os treinadores no Brasil são sempre as primeiras vítimas dessa roda.
É necessário dizer que eles também têm sua responsabilidade ao aceitarem fazer parte desses processos, sem respeitar os tempos e muitas vezes "puxando o tapete" de colegas por um salário melhor. Também procede dizer que alguns treinadores mais jovens, como Roger Machado e Tiago Nunes, tentam não alimentar essa roda da profissão com suas decisões de carreira.
Enquanto não houver uma rede de proteção ao trabalho do treinador e da comissão técnica nos clubes profissionais e enquanto dirigentes amadores tomarem suas decisões no calor da vitória ou da derrota, os idiotas da violência sempre tomarão a frente e passarão impunes em seus atos.
Afinal, a roda segue triturando quem passa por ela e se alimentando dessa falta de civilidade dos processos em um esporte onde ainda se pensa que "sangue nos olhos" é uma vantagem profissional.