Alisson Becker foi formado em uma família de goleiros. Começando por um bisavô, na década de 1940, passando pelos pais: José jogava peladas de final de semana no Vale do Sinos e Magali atuava na posição em partidas de handebol. Por fim, o irmão mais velho, Muriel, também criado no Inter e que hoje atua no Belenenses, de Portugal.
A trajetória de Alisson começou em Novo Hamburgo, no campo de areia dos blocos do Mundo Novo, no bairro Canudos. Era lá que ele acompanhava o irmão nas partidas da vizinhança. Aos 13 anos, Muriel foi levado para as categorias de base do Inter. Alisson, então com oito anos, pediu para ir junto e acabou nas escolinhas do Beira-Rio. No clube, eles viveram juntos muita coisa. Primeiro, Muriel se destacou e foi titular em muitos momentos entre 2011 e 2013. Mas em 2014, Alisson assumiu o gol colorado, se firmou, chegou à Seleção Brasileira, até ser vendido em 2016 para a Roma.
Na Itália, a primeira temporada foi como reserva de Szczesny. Mas foi mantido como titular no time de Tite, e na metade de 2017 chegou o seu grande momento na Itália. Virou o dono do gol da Roma, fez grandes partidas e chamou a atenção da Europa. Tanto é que na última janela de transferências o seu nome foi especulado no Real Madrid, Chelsea e Liverpool.
No dia 19 de julho, após a Copa do Mundo, onde foi titular da Seleção Brasileira, o Liverpool anunciou a sua contratação por 72 milhões de euros, até então a negociação mais cara envolvendo um goleiro na história do futebol, logo depois superada pela venda de Kepa Arrizabalaga, do Athletic Bilbao para o Chelsea, por 80 milhões de euros.
A vida em Liverpool
O dia 19 de julho foi bastante agitado para Alisson. Antes do anúncio oficial da sua contratação, o goleiro fez todos os procedimentos burocráticos em Liverpool. Hospedado pelo clube em um hotel da cidade, seguiu de manhã cedo até uma clínica para exames médicos. Ao chegar no local, ouviu as recomendações do médico sobre o que seria feito e ali deixou uma marca sobre como seria a sua adaptação. Falando inglês, se mostrou à vontade e fez inclusive brincadeiras com os funcionários da clínica, ao perguntar como tinha ficado o visual com o avental hospitalar.
Dentro de uma das salas de exame, colocou pela primeira vez a camisa vermelha do Liverpool e posou para fotos e gravação de vídeos, que seriam utilizados depois pela comunicação do clube. Neste momento, também fez a tradicional selfie. Depois disso, colocou terno e gravata e foi levado à Melwood, que é o local onde fica o centro de treinamentos. Por lá, cumprimentou funcionários e concedeu a primeira entrevista para o canal oficial do Liverpool. A curiosidade é que a conversa foi interrompida por Jurgen Klopp. No meio da entrevista, o técnico pediu desculpas e invadiu o local, provocando risadas de todos os presentes. Trocaram um afetuoso abraço, e depois de um rápido bate-papo, o alemão desejou boa sorte. Por fim, as fotos oficiais com a camisa amarela de goleiro. Foram estas imagens que ganharam o mundo com o anúncio oficial da contratação. Contratação que era muito aguardada pelos torcedores.
A reportagem de GaúchaZH esteve em Liverpool nos dias 17 e 18 de novembro. Depois de sair de Londres, foram três horas de trem. No caminho para o Anfield Road, o histórico estádio com capacidade para 54 mil torcedores e que se transforma em um caldeirão a cada partida do time, o motorista de táxi deu um sorriso de satisfação ao saber o destino da corrida. Fã do Liverpool, perguntou sobre o motivo da ida ao estádio. Ao ouvir a resposta, não se conteve e começou a rasgar elogios a Alisson, reclamando do goleiro anterior, Karius, que ficou marcado com as falhas na final da Champions League, contra o Real Madrid, e acabou emprestado ao Besiktas, da Turquia.
Ao chegar em Anfield, a surpresa pela movimentação em uma final de semana sem rodada do Campeonato Inglês, afinal a semana era de data Fifa, com os amistosos ente as seleções. Dezenas de turistas, a maioria orientais, procuravam a entrada principal para fazer o tour oficial. Na ampla loja, muita gente atrás dos produtos do clube. Em termos de visibilidade, não resta dúvida que Salah, Sadio Mane e Firmino estão em um primeiro patamar. Mas as vendas das camisas de goleiro são muito boas. Na loja oficial, o uniforme custa 60 libras (cerca de R$ 290). Para estampar o nome de Alisson, com o número 13 usado por ele, são mais 15 libras (R$ 72).
— Tanto a camisa verde, como a amarela, são comercializadas, todas as pessoas acham lindas. De vez em quando aparecem alguns brasileiros por aqui, aí eles sempre querem ou a do Firmino ou do Alisson — falou a vendedora Emily Roberts.
Depois de Anfield, o destino foi a região de maior movimento de Liverpool. A primeira parada, Albert Dock, antigo e histórico porto da cidade, que passou por uma grande processo de revitalização. Após uma rápida caminhada, se chega ao Cavern Club, onde os Beatles começaram a carreira. A poucos metros dali, na Paradise Street, várias bancas com produtos não oficiais dos clubes da cidade. Com temperatura na casa de dois graus, uma grande quantidade de mantas e toucas ficam à disposição dos compradores. Na parte principal das bancas, o material do Liverpool, uma marca mundial e de maior torcida na cidade. Nos fundos, os produtos do Everton, o rival local, que tem como grande jogador atualmente o atacante brasileiro Richarlison. A manta de Alisson custa 8 libras (R$ 38).
Essa eu vou levar para o meu neto, que é fã dele. Acompanhamos todos os jogos pela TV na nossa cidade, então vai ser uma lembrança incrível — comentou Jack Hughes, de St. Helens, que estava visitando Liverpool.
O aconchego da família em Southport
Aos 26 anos, Alisson é ídolo em Liverpool, cidade de cerca de 800 mil habitantes e que lhe dá toda a tranquilidade para criar a filha Helena com a esposa Natália. O programa favorito é ficar na confortável casa em Southport, nos arredores da região central. De lá, ele segue diariamente para o CT, em Melwood, a cerca de 30km de distância. A vantagem é que no Liverpool não existe concentração para os jogos em casa, então é possível ficar com a família até o dia do jogo. Na residência, recebem com frequência a visita dos familiares. O irmão Muriel já esteve por lá.
Quem apareceu agora em dezembro foi Durgue Vidal, um dos preparadores de goleiros do Inter, para observar os métodos de treinamentos na Inglaterra. Porém, essa rotina pacata fica só nos momentos de lazer. Quando o assunto é trabalho, o principal reflexo da mudança de clube é que Alisson virou uma estrela mundial. Antes da entrevista para GaúchaZH, ele atendeu, em italiano, a uma emissora de TV da Itália, e logo depois, em inglês, a um outro canal da Inglaterra. Agora, tudo o que ele faz tem repercussão em todo o planeta.