Treinador de time profissional da segunda divisão de Santa Catarina procura jogador desempregado para formar plantel para disputa do Estadual e da Copa SC. O anúncio em rede social é a armadilha que termina em golpe de quase R$ 900 de prejuízo e com a esperança de jogar futebol arruinada. Um estelionatário se faz passar por técnico para arrancar dinheiro de atletas com a falsa promessa de oportunidade de defender uma equipe de Santa Catarina. O Guarani de Palhoça foi utilizado pelo golpista nos últimos dias que conseguiu enganar pelo menos dois atletas, um da Paraíba e outro do Rio de Janeiro.
O criminoso se fazia passar pelo técnico Sérgio Ramirez, que expôs a fraude em suas redes sociais. A oferta de emprego incluía acerto de salário, garantia de hospedagem e alimentação fornecidas pelo clube, inclusive com envio de fotos da estrutura do Bugre e treinamentos pelo aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, em que transcorrida o golpe. Porém, para sacramentar o negócio, o estelionatário exigia que o atleta fizesse um depósito bancário para da suposta taxa de inscrição, que a "norma" do clube era não pagar por ela, tampouco poderia ser abatida no primeiro salário do jogador. O valor é de R$ 897.
— Isso não existe, de um clube cobrar pela transferência. A inocência dos meninos e de empresários é o que também permite que o dinheiro seja depositado — aponta Ramirez, que soube por meio conhecidos do meio futebolístico.
O Guarani de Palhoça emitiu uma nota em seu site e nas redes sociais em que informou que o nome do clube e seus profissionais foram usados por golpista e que não cobra valor financeiro algum para a contratação de atletas e outros profissionais. Sérgio Ramirez registrou boletim de ocorrência. De acordo com o treinador, nomes de outros clubes de Santa Catarina e treinadores foram utilizados pelo golpista, que utiliza telefones com código de área 77, do interior da Bahia. As ligações da reportagem para os dois números não foram atendidas. Um chamou até cair e no outro as chamadas eram interrompidas pelo recebedor.
— Uma ligação poderia ser o bastante para notar que havia algo errado. Sou uruguaio e apesar de morar há 42 anos no Brasil ainda tenho o forte sotaque espanhol. A pessoa do outro lado da linha tem sotaque do Nordeste do país bem perceptível — atesta.
A Associação dos Clubes de Futebol de Santa Catarina (SCclubes) está ciente de que os nomes dos clubes do Estado e dos profissionais que nele trabalham têm sido utilizados e a Polícia Civil foi informada da fraude.
- Começam os campeonatos que envolvem times da segunda divisão e temos notícias destes golpes. É uma quadrilha do interior da Bahia, usam o nome do treinador e são sempre os jogadores, que nem conhecemos, os lesados. Tanto a associação quanto os clubes têm alertado da prática por seus canais, informando que não existe esta prática aqui em Santa Catarina – informa o presidente da SCclubes, Luiz Henrique Ribeiro.
O golpe não é novo, tampouco no Estado. Em agosto do ano passado foram registrados casos em diferentes clubes catarinenses que foram utilizados da mesma forma como o ocorrido com o Guarani de Palhoça. Começa com o golpista se fazendo por treinador de futebol em captação de jogadores, com anúncios em redes sociais dirigidos a atletas desempregados e pede os números de telefone nos comentários, ou entra em contato diretamente pelo aplicativo Whatsapp, com alguma informação falsa de indicação – embasada nas informações sobre ex-clubes e dos profissionais com que o atleta poderia ter trabalhado. Ele ainda pede vídeos e outras informações.
Depois disso, o golpista oferece salário, com moradia e alimentação inclusas, mas alega que o clube não arca com a inscrição ou transferência. Pergunta onde foi o último registro do jogador e, independente da última federação em que esteja vinculado, e supostamente calcula qual o valor para tal. Nos dois casos, dos atletas da Paraíba e do Rio de Janeiro, em que o nome do Guarani de Palhoça foi envolvido, o criminoso pediu R$ 897. Para se ter uma noção, o registro no Boletim Informativo Diário (BID) de um atleta da federação carioca para a catarinense custa mais de R$ 3,5 mil.
O depósito de um dos jogadores lesados foi para uma conta poupança de uma agência do interior de São Paulo. Recebido a foto com o comprovante da transferência bancária, o golpista ainda mantém contato com o atleta por algum tempo, com orientações de como proceder, até de deixar de responder as mensagens.