Acusado por mais de 40 atletas ou ex-atletas de ter praticado abusos sexuais entre 1999 e 2016, o ex-técnico da Seleção Brasileira de ginástica artística, Fernando de Carvalho Lopes, disse nesta quarta-feira durante a CPI dos Maus-Tratos do Senado que acredita em vingança por parte dos que fizeram as denúncias, devido ao seu jeito rígido. Ele reafirmou que é inocente.
Os relatos dos ginastas foram apresentados ao denunciado pelo senador Magno Malta (PR-ES), presidente da Comissão. Fernando negou cada relato de que teria assediado seus comandados ou feito filmagens dos ginastas nus.
— Eu trabalho há 20 anos, não há 20 meses, nem há 20 dias. A partir do momento em que uma acusação dessas é feita em meu nome, eu entendo que é uma denúncia muito grave e difícil de lidar. Sou pai e sou o primeiro a falar que sou contra (assédio) e correria atrás dos direitos pelos meus filhos. Mas o volume que foi colocado sobre mim, a forma que foi feita, eu não penso outra coisa a não ser vingança — disse Fernando.
Alguns dos relatos ouvidos, entre eles de Petrix Barbosa, ouro no Pan de Guadalajara-2011, afirmou que Fernando pedia para observar o órgão genital dos atletas para determinar o tipo de treino que deveria ser dado. Questionado se acredita que esse procedimento é necessário, o treinador também negou. Mas admitiu que brincadeiras sobre o crescimento dos pelos pubianos entre os ginastas aconteciam.
— Dos ginastas mais velhos com os mais novos era feita esse tipo de brincadeira. Eu participei algumas vezes dessa brincadeira, mas nunca só eu e o atleta — afirmou Fernando.
O técnico lembrou que, além de ser conhecido pelo estilo explosivo nos treinamentos, já cortou bolsas e demitiu auxiliares no decorrer da carreira. Ele trabalhou durante 20 anos no clube Mesc, de São Bernardo do Campo (SP), onde teriam acontecido os abusos, de acordo com as supostas vítimas.
— Nunca fui um técnico manso, pelo contrário. Muitas crianças treinavam comigo chorando por causa da rigidez, mesmo depois de competições. Criei inimigos, cortei bolsa de atleta, cortei salários de atletas, salários de auxiliares e prejudiquei quem não seguia a minha linha de trabalho. Criei desavenças — disse.
Sobre o possível movimento de técnicos e atletas para derrubá-lo, Fernando lembrou que havia cinco nomes na disputa por três vagas de treinador na Seleção Brasileira em 2016.
— Quando tem um momento pertinente, eu sou colocado em xeque. Havia uma disputa, em que tinham cinco treinadores para três vagas, para participar dos Jogos Olímpicos. Aí surgiu. Depois, no momento em que tem uma situação do médico dos Estados Unidos, se resgata esse tipo de assunto. Vivo essa vida há dois anos. Alguém precisava cair — disse o treinador.
Fernando foi afastado da Seleção em julho de 2016, um mês depois as famílias de dois menores de idade procurarem o Ministério Público para denunciar Fernando.