Duvido que qualquer pessoa diria a seguinte frase: "O Três Passos venceu o Bayern de Munique, fora de casa, por 2 a 1". Pois, podem acreditar, é verdade. (A rigor, a sentença está um pouco incompleta. Obviamente, não se trata do time principal do atual campeão alemão — mas também não é a equipe profissional do clube gaúcho, né?)
A partida ocorreu na quarta-feira, no CT do Bayern e reuniu o time sub-19 do TAC e o sub-17 do Bayern. O time gaúcho saiu na frente com um gol do paraibano Luís Henrique, apelido Boca. Os alemães empataram em uma cobrança de pênalti. No segundo tempo, o paulista Khawan fez o 2 a 1 em um contra-ataque. O resultado foi garantido principalmente pelas defesas do goleiro três-passense Felipe.
— Quando o Lúcio (ex-zagueiro do Inter e da Seleção) veio jogar aqui, estreitamos o contato com a direção do Bayern, que mudou pouco desde aquela época. Praticamente todos os anos conversamos. Falei que tinha o projeto no Três Passos e queria trazer os meninos. Eles aceitaram esse ano e viemos — explica o empresário Sandro Becker, diretor do projeto "Futebol com vida", que reestruturou a categoria de base do TAC e agora conta com o ex-centroavante colorado Amarildo, goleador do Brasileirão de 1987, como um de seus parceiros.
Para esses amistosos, Sandro fez peneiras em todo o Brasil, recolhendo quem se destacava, oferecendo abrigo e rotina na cidade de pouco menos de 25 mil habitantes. O time passou o primeiro semestre inteiro se preparando para esses jogos, abrindo mão, inclusive, de disputar o Campeonato Gaúcho.
Nessas avaliações, descobriu o atacante Luís Henrique. Boca, como é chamado, foi bem em uma peneira em Rio Tinto, na Paraíba. Em 2016, aos 14 anos, aceitou atravessar o Brasil e morar no RS. Chegou a passar pelo Inter, mas voltou ao TAC para disputar os amistosos.
— Comecei a jogada pelo meio, toquei para o Zé Vitor, que chutou cruzado. Entrei no segundo pau e completei — conta, orgulhoso.
O campineiro Khawan, 18 anos, descoberto quando atuava no Independente de Limeira-SP, fez o segundo gol. Em suas palavras:
— A bola chegou no Boca na ponta e percebi que ele ia avançar. Então estiquei a passada pelo meio e comecei a gritar: "Boca! Boca! Olha o meio!". Ele largou e eu bati chapado, no contrapé do goleiro.
O resultado foi garantido pela grande atuação do goleiro Felipe Scheibig, 18 anos. O gaúcho de Três Passos mesmo voltará para casa com o orgulho de só ter levado gol de pênalti do Bayern. No último lance da partida, ainda evitou uma chance cara a cara com o adversário.
— Foi um orgulho ter vivido essa experiência aqui, um clube que tem tanta tradição na escola de goleiros. Quem sabe isso nos abre portas para grandes equipes — torce o menino, que terminou o Ensino Médio e agora se dedica exclusivamente ao futebol.
A esperança deles é alimentada por Sandro Becker:
— Recebi vários elogios para os meninos. Eles se comportaram muito bem, era importante esse intercâmbio. Acho que alguns podem, mesmo, voltar para a Europa. Temos três ou quatro sondagens já.