
O anúncio da contratação de Fabio Carille pelo Al-Wehda da Arábia Saudita, onde deve ficar por duas temporadas, segue um script tantas vezes repetido no futebol brasileiro. O treinador – por vezes o jogador – que sai em busca da tal independência financeira. Na Arábia, o ex-corintiano deve ganhar três vezes o seu salário atual (R$ 300 mil), além de luvas pela contratação. Mas isso não o torna livre do julgamento.
Ao escolher por um destino onde apenas o dinheiro fará diferença e que em nada contribuirá para a sua trajetória profissional, Carille, como relembra o blog Dois Pontos, de Fábio Chiorino, opta pela interrupção de um trabalho que o elevou de interino a um dos técnicos mais bem avaliados por imprensa, jogadores, torcedores e rivais. A decisão é legítima, não resta dúvida, mas a lógica de que ganhar mais lá fora por dois anos vai mudar a vida do treinador é ilusória. Uma visão de curto prazo.
Um salário de R$ 900 mil não é tão distante do que muitos clubes pagam – ou já pagaram - pelos seus comandantes por aqui. E, com toda a insegurança que os clubes brasileiros oferecem aos treinadores, ainda somos uma vitrine muito maior, para voos mais altos, do que o inexpressivo futebol árabe.
Campeão brasileiro e bicampeão Paulista, Carille colocou o Corinthians em um patamar impensado após o desmanche de 2015. Ao dizer adeus, interrompe uma jornada que o colocou como ídolo instantâneo de uma torcida historicamente crítica, como são quase todas aquelas que não aceitam o papel de coadjuvante. Há coisas que não tem preço.