Rodrigo Caetano é o novo diretor-executivo de futebol do Inter. Substitui Jorge Macedo e, ao que tudo indica, recebe mais poderes de atuação do que o seu antecessor. Pela primeira vez em sua história, o clube contará com um profissional sem qualquer ligação com o Beira-Rio sendo remunerado para ser um dos comandantes do departamento de futebol.
Antes dele, passaram pelo cargo no Inter Newton Drummond, Fernandão e Macedo. Caetano, de 48 anos, começou como executivo no Grêmio, passou por Vasco, Fluminense e Flamengo, até que deixou o clube carioca, ao final de março.
No Inter, Rodrigo Caetano ficará subordinado ao vice de futebol Roberto Melo. Algo como acontece na grande maioria dos grandes clubes brasileiros, com o diretor profissional sob o guarda-chuva do político. O Palmeiras, por exemplo, faz diferente. Extinguiu a figura do vice político e os dirigentes profissionais do futebol se reportam diretamente ao presidente do clube.
— O primeiro passo foi dado: o cargo de executivo de futebol está estabelecido no futebol brasileiro. Mas muitos clubes ainda enxergam o executivo como um mero contratador de jogadores para a equipe principal. Este pensamento é algo absolutamente superado. O executivo lida com planejamento, com contratações e dispensas, com a parte científica e tecnológica do futebol, com análise de desempenho, com legislação, com logística, com regulamentos, com processos. Enfim, com o futebol como um todo. Lida com orçamentos que muitas vezes superam os R$ 500 milhões por temporada. O futebol de alto rendimento exige pessoas que tratem 24 horas por dia come ele, alguém que faça da gestão do futebol a sua profissão — comenta o gaúcho Cícero Souza, gerente executivo de futebol do Palmeiras e presidente da Abex Futebol (Associação Brasileira dos Executivos de Futebol).
Com Alexandre Mattos, o diretor executivo de futebol do clube, Cícero comanda um exército de 90 profissionais _ afora os elencos, profissionais e de base _, trabalha com um orçamento anual superior a R$ 400 milhões, e uma exigência por conquistas tão grande como os recursos que dispõe.
— O Palmeiras é vanguarda no Brasil. Tem o melhor CT do país, estádio próprio e possui as categorias de base que mais cederam jogadores para as seleções nos últimos anos. Nada disto é garantia de vitórias, mas quem não tem um trabalho assim estará cada vez mais distante de obter performance técnica — afirma Cícero Souza. — Torço para que todos os clubes do futebol brasileiro possam compreender a verdadeira área do executivo de futebol, independente de militância com o clube, e que o objetivo final obedeça a um critério mais técnico do que político — acrescenta.
Diretor executivo do Vasco, Paulo Pelaipe trabalha diretamente ligado à vice-presidência de futebol do clube. Com passagens por Grêmio e Flamengo, Pelaipe lembra que cada clube tem a sua forma de comando.
— Temos autonomia para atuar, mas sempre obedecendo os critérios traçados pela direção do clube. Para contratar, por exemplo, podemos definir os nomes, mas os valores de compra e de venda são sempre definidos pelo presidente e pelo vice. Tudo o que fazemos no clube é em comum acordo com a direção eleita — diz Pelaipe.
Foi ele, em dezembro de 2006, quem sugeriu ao então presidente do Grêmio Paulo Odone transformar Rodrigo Caetano em executivo de futebol remunerado. Um ano antes, o Grêmio havia conquistado a Série B, e Caetano era o responsável pelas categorias de base do clube.
— É importante que o Inter quebre este paradigma e que busque alguém de fora. Rodrigo é experiente e fez bons trabalhos recentes no Rio de Janeiro — destaca o diretor executivo do Vasco.
Diretor da Trevisan Escola de Negócios e realizador do Conafut (Conferência Nacional do Futebol), o consultor Fernando Trevisan trata há anos do tema dos executivos no futebol. Recentemente, em eleição nacional, a Conafut elegeu o diretor executivo de futebol do Grêmio, André Zanotta, como o melhor do Brasil. Segundo Trevisan, o título levou em conta o fato de o clube ter conquistado a Libertadores de 2017, com um investimento inferior ao de Corinthians e Cruzeiro _ os outros clubes brasileiros que tiveram títulos relevantes no ano passado, e cujos executivos foram finalistas na eleição.
— Já se avançou muito no Brasil, foi a função que mais cresceu no futebol. A visão geral, porém, é que ele é responsável por contratações. Mas é muito mais do que isso. O executivo é responsável pelo CT, pelo elenco, é a pessoa chave na hierarquia do futebol, tem o dia a dia. Por vezes, até mesmo a categoria de base. Tem a responsabilidade de montar o elenco de jogadores, supervisionar pessoa, empréstimos, compras dentro de orçamento do clube. É uma tarefa de enorme responsabilidade — afirma Trevisan.
O consultor acredita que a maioria dos clubes de futebol não está preparada para dar autonomia total aos executivos. Por serem clubes associativos, e não Sociedades Anônimas, eles precisam responder aos torcedores, não a investidores:
— Nem Barcelona e Real Madrid, os maiores clubes do mundo, têm condições de contar com um executivo no comando, sem que respondam a um presidente ou a um vice de futebol.
Fernando Trevisan elogia o movimento colorado, de apostar em Rodrigo Caetano projetando o futuro do clube.
— Nomes como o de Rodrigo Caetano e o de Alexandre Mattos dão segurança aos dirigentes, pois fica fácil de defender tal contratação junto ao torcedor. Caetano chegará ao Inter com um respaldo grande da direção. Sem isto, fica difícil trabalhar, uma vez que a pressão externa acaba sobrando para o executivo e para o treinador, caso não haja uma blindagem. Caetano ficou muito tempo no Flamengo, apesar de toda a pressão que sofreu, justamente porque tinha o apoio integral dos dirigentes — pondera. — O ideal é fazer como Santos, Flamengo e São Paulo, que reduziram ao máximo os seus cargos estatutários, a fim de colocar executivos e não políticos em cargos-chave para o clube. Ainda existe muito ciúmes de dirigentes políticos por aí — conclui Fernando Trevisan.
O trabalho de Rodrigo Caetano no Inter terá início nessa quinta-feira, após o treino da manhã no CT Parque Gigante.
Como funciona na Europa
Gustavo Fogaça
Executivos de futebol nos grandes clubes europeus geralmente são ex atletas emocionalmente ligados ao clube, e que se prepararam para o cargo. Entendem de gestão, de campo e de mercado. Não é só parar de jogar e assumir. Ou pegar um executivo de empresa e encaixar em um modelo de futebol.
No Brasil, há muitos que se prepararam pro cargo. Mas há poucos Edu Gaspar, PC Tinga, por exemplo. Esses são o exemplo europeu de executivo.