Bebeto de Freitas era uma catedral de 1m80cm. No livro O Reino e o Poder, o repórter e escritor norte-americano Gay Talese, pai do jornalismo literário, conta a trajetória do The York Times. Ele imortalizou uma alegoria criada por Iphigene, filha única do fundador Adolph Ochs, para explicar o porquê do sucesso do jornal mais importante do mundo. É a história do viajante que encontra três cortadores de pedra e pergunta a cada um o que está fazendo. "Cortando pedra", responde o primeiro. "Fazendo uma pedra angular", explica o segundo. O terceiro revela a epifania: "Estou construindo uma catedral".
Pois o carioca Paulo Roberto de Freitas era uma catedral do esporte, com torres erguidas no vôlei, primeiro como jogador e depois como técnico, e no futebol, como dirigente, não como cartola.
Sobrinho do jornalista e treinador de futebol João Saldanha e primo por parte de mãe do jogador de futebol Heleno de Freitas, Bebeto fez o planeta olhar e começar a admirar o vôlei do Brasil. Ao conduzir a seleção masculina à histórica medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles, em 1984, com método, trabalho árduo e muito coração, alicerçou as bases para que o esporte seduzisse e se desenvolvesse ao longo das décadas seguintes. Garimpou o que de melhor, mais eficiente e forte havia em jogadores como Bernard, Bernardinho, Renan, Montanaro, Carlão, Giovane e Paulão e, como mestre, ainda influenciou o nascimento de técnico vitoriosos como Zé Roberto Guimarães e Bernardinho, também campeões olímpicos.
No vôlei, ainda que os atacantes exerçam o glamour de fazer a bola estourar em um ponto, é o levantador quem está no comando. Seu cérebro espirituoso e ágil identifica quem está em posição mais privilegiada na quadra para driblar o bloqueio adversário e, assim, distribui as jogadas. Bebeto começou como levantador. Como técnico, até a Itália, que dominou o vôlei nos anos 1990, se rendeu a ele. Um Bebeto circunspecto e constrangido liderou sua seleção de italianos em vitória sobre os brasileiros.
Adepto da filosofia de que não adianta reclamar das situações das quais não se gosta sem agir e fazer sua parte, após deixar o vôlei, encarou o futebol. Teve coragem de mudar. Primeiro, em 1999, atuou no Atlético-MG e, entre 2003 e 2008, presidiu o Botafogo, pelo qual sempre foi apaixonado. A Secretaria de Esporte e de Lazer de Belo Horizonte ocupou seu tempo em 2017. No final do ano, retornou ao Galo. E, na terça-feira, estava trabalhando dentro do clube quando uma parada cardíaca apagou as luzes da catedral.