Foi na Olimpíada de Sydney, em 2000, que a cena das duas Coreias unidas, desfilando juntas na cerimônia de abertura, emocionou o mundo. Quase 18 anos depois, os Jogos mais uma vez motivam um esforço de união entre os vizinhos. A reação à aproximação, porém, não é unânime.
Os Jogos de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul, que têm início das competições hoje e cerimônia de abertura marcada para sexta-feira, terão uma atração especial. Haverá um time de hóquei feminino que reunirá atletas das duas Coreias.
Enquanto a técnica, a canadense Sarah Murray, tenta ultrapassar as barreiras de uma comunicação trilíngue (os termos em inglês, típicos do esporte, são traduzidos para o coreano do Sul e do Norte), a equipe suscita protestos dos sul-coreanos que não querem qualquer aproximação com o regime vizinho. De acordo com reportagem do jornal El Pais, a reprovação ao time unificado chega a 70% na Coreia do Sul.
As manifestações contrárias ao diálogo entre as Coreias se traduzem em um bordão: quem rejeita a participação da Coreia do Norte diz que a Olimpíada de Inverno são os "Jogos de Pyongyang", em referência à capital norte-coreana. Nesta terça-feira, uma embarcação que levou artistas da Coreia do Norte para o Sul, para se apresentarem durante os Jogos, foi recebida por um grupo de manifestantes que carregava bandeiras sul-coreanas e gritava palavras de ordem contra o ditador Kim Jong-Un.
Enquanto as tensões políticas invadem o ambiente esportivo, Sarah Murray tenta preparar a equipe para os Jogos. O time “intercoreano” estreia no sábado, contra a Suíça. Nesta semana, perdeu por 3 a 1 para a Suécia em um amistoso.
– Nós fizemos algo parecido com um dicionário, de inglês para coreano e norte-coreano, para conseguirmos nos comunicar – contou a treinadora ao site da rede americana ABC.
Além das dificuldades com a língua, Murray tem de lidar com as peculiaridades das rígidas regras do regime norte-coreano. As jogadoras de lá não podem, por exemplo, se hospedar no mesmo local das colegas – ficam com o restante da delegação da Coreia do Norte, em outro edifício.
Até o fim dos Jogos, quem sabe as comandadas de Sarah estejam falando a mesma língua, ao menos no sentido figurado da expressão. Seria mais uma mostra de que a Olimpíada, até mesmo a de inverno, pode quebrar o denso gelo de uma difícil relação.