– Difícil dizer, numa palavra, o que me fez empurrar meu carro na última parte do (treino) classificatório. Para dizer a verdade, arrisquei em demasia.
As frases acima, proferidas por Fernando Alonso e transcrito de comunicado emitido por sua equipe (McLaren) no final da tarde de sábado passado, demonstram que o piloto espanhol, mesmo alijado da briga pelo título, não perdeu a verve e a garra com a qual se consagrou na categoria máxima do automobilismo.
Mas, por outro lado, comentários nas redes sociais não deixaram dúvida: para muitos, difícil entender o 'tresloucado gesto' em busca de uma posição no treino que nem sequer permitir sonhar com um lugar no pódio durante a corrida agendada para o dia seguinte. O que, diga-se de passagem, acabou não acontecendo: aliás, em nenhum momento da prova Alonso demonstrou condições de brigar pela ponta – e muito menos, sustentar a posição da tomada de tempos.
É fácil, no mundo do automobilismo, encostar o carro no primeiro problema que aparece. Culpa dos mecânicos. Culpa do motor. Culpa da falta de patrocínio. Ou, mais simplesmente, culpa do carro. A tarefa do piloto é dirigir – e já faz demais. Para Alonso, contudo, não é bem assim. Naquele sábado, ele fez tudo ao contrário. Quis sustentar no braço sua paixão e sua vontade de mostrar serviço. Não importa que Sebastien Vettel tivesse 86 pontos à sua frente, que Lewis Hamilton folgasse outros 73.
De vez em quando brotam neste mundo moderno cenas assim, tão raras, tão marcantes: o homem retomando sua condição humana, tentando superar-se, já que a máquina estava vencida. O resultado do esforço pode não significar ponto algum: o nada para os insensíveis, tudo para os sonhadores.
Quem já entrou no vestiário de um tenista após uma derrota entende aquele olhar no chão procurando uma resposta. Quem observou de perto a frustração de um golfista quando errou o 'put', entende seu gesto. Em todos os esportes, onde o homem depende apenas de si mesmo, é assim.
Surpreende, porém, quando ocorre no automobilismo, onde o homem é apenas uma peça que depende de pneus, de combustível, de um motor confiável. Nele, se o piloto demonstra esforço
sobre-humano para levar um carro totalmente errado em sua concepção até o sétimo lugar do grid, ele se torna vencedor. Mesmo sem ter vencido.