O time tricolor firmou uma parceria com a seleção Gaúcha de futebol feminino e já está disputando o Campeonato Brasileiro. O Inter, acertadamente, colocou nas mãos da ex-jogadora Duda a direção do futebol feminino e contará com Tatiele Silveira de técnica. Um futebol construído por e para as mulheres.
O futebol feminino, que enfrenta duras barreiras para se profissionalizar no Brasil apesar do talento de sobra, comemora essa conquista do futebol gaúcho e a reconhece como fruto de uma luta que atravessou o século. Poucas pessoas sabem, mas as mulheres foram proibidas constitucionalmente de praticar alguns esportes, entre eles o futebol, durante mais de 30 anos no Brasil. Mesmo após a legalização da modalidade feminina, as atletas não podiam se profissionalizar. Pensem duas, três ou mil vezes antes de julgar o nível técnico-tático do futebol feminino ou
compará-lo com o masculino, pois as oportunidades e investimentos nunca foram iguais.
A Conmebol tornou obrigatório que os grandes clubes brasileiros tenham suas equipes de futebol feminino para participar da Libertadores, mas já sabemos que a obrigatoriedade não necessariamente trará o incentivo e investimento merecido. A legislação do Profut, sancionado em 2015, diz apenas sobre manter o investimento mínimo na formação de atletas e no futebol feminino, o que pode ser qualquer coisa, um uniforme ou chuteiras, pois não definem valores e nem direcionam o investimento. Não há compromisso com a profissionalização das mulheres.
É urgente que exista um calendário regular e estrutura para competições no Brasil e que as atletas recebam salários para conseguirem se dedicar ao esporte. Ao longo desses anos, milhares de atletas sofreram com o descaso do governo, da mídia e da sociedade. Está na hora de mudarmos a forma como enxergamos o futebol exclusivamente para os homens. Mulheres também têm o direito de aprender a jogar bola desde a infância, a participar da educação física sem constrangimentos e a vivenciar o futebol dentro das quatro linhas ou em arquibancadas.
Emily Lima é a primeira mulher a assumir a seleção feminina. Agora, os grandes clubes começam a planejar o investimento no futebol de mulheres. Enfim, estamos avançando, mas ainda há muito trabalho. Espero que, em breve, as atletas do futebol feminino possam jogar em seu país, ao lado de sua torcida.