Li, com uma ponta de esperança, a entrevista de João Patrício Herrmann, novo dirigente colorado, sobre as prioridades do Inter para 2017: humildade e boa comunicação. Nós, colorados, estamos carecidos de uma direção que nos represente. A postura topetuda de nossos dirigentes derrotados deixou sequelas. Isso ficou ainda mais evidente depois do jogo que sacramentou a queda para a Segundona – é isso mesmo, nada deste papo de Série B.
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Perguntado por repórteres sobre o fiasco, o presidente do Grêmio Romildo Bolzan Jr. foi cortês, cavalheiro e digno quando poderia ter agido com oportunismo. O ex-prefeito de Osório agiu como magistrado. Em momento algum, vilipendiou com soberba sobre o momento vergonhoso vivido pelo coirmão. Aliás, trata-se de um comportamento comum do dirigente tricolor.
No mundo que supervaloriza o consumismo, a ostentação e a superficialidade, agrada verificar que ainda existam pessoas que cultivam a dignidade, mesmo diante de um retumbante sucesso profissional, agregado à tragédia do tradicional adversário. Isto chama a atenção porque o futebol se transformou numa arena, dentro e fora do campo, na mídia, em todas as relações que envolvem este esporte. Há violência, agressões gratuitas, falta de racionalidade, um vale-tudo em que as maiores aberrações se justificam.
A bestialidade presente nos estádios refle o comportamento observado no trânsito, na fila do supermercado, nas redes sociais, na convivência cotidiana.
O infortúnio da Chapecoense talvez tenha o condão de deflagrar o resgate do caráter desportivo do futebol. Tomara que esta catástrofe sirva, ao menos, de alerta para parar, refletir, revisar, modificar comportamentos, para mitigar os absurdos tão comuns.
A falta de educação que choca o cidadão cumpridor de suas obrigações precisa ser banida a qualquer custo porque não combina com o esporte. Nos microfones, nas arquibancadas, no bate-papo do bar ou dentro do campo, a civilidade se impõe, sob pena do recrudescimento dos mais diversos tipos de violência que têm, no futebol, seu principal agente.
O caráter pedagógico do futebol deve fomentar uma conduta respeitosa que permita conviver com as diferenças e dar cartão vermelho à intolerância, ao preconceito e à insensatez que grassa na esfera esportiva. E isso começa através da conscientização de que é preciso humildade. Sempre, em tudo.
A soberba é o caminho mais curto para a agressividade. Que 2017 seja o ponto de partida de uma nova mentalidade.
*ZH Esportes