Mais um Gauchão está chegando, e confesso: sou um saudosista. Quando garoto, nos anos 1970, me criei em Ijuí acompanhando o São Luiz em sua estreia na Primeira Divisão. Era uma época de um Inter extremamente vencedor e de um longo jejum gremista. Mas era também o momento da SER Caxias no Brasileirão, do ressurgimento do Juventude e dos retornos do Brasil-Pel e do Pelotas.
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E que, quase na virada da década, teve o Esportivo de Carlão, José, Adílson e Celso Freitas, entre outros, ser vice-campeão em 1979. E vimos ainda surgir um São Paulo que contava com um meio-campo inesquecível com Astronauta, Motor e Valdir Lima. Era um Gauchão diferente. Disputado no inverno, no frio, na chuva e em campos, às vezes, com barro pela canela. Tinha times fortes e treinadores marcantes como Chiquinho, Daltro Menezes, Carlos Froner, Marco Eugênio, Galego, Ernesto Guedes e Paulo Sérgio Poletto, entre outros. Vencer em Bagé era difícil e, em Passo Fundo, era a prova dos nove. O teste definitivo para um centroavante da Dupla
Gre-Nal, por exemplo, era marcar um gol e sair vivo na disputa contra o Gaúcho dos irmãos Pontes.
Nos anos 1980, o Grêmio conquistou a América e o Mundo, e o Gauchão mudou. O Brasil-Pel foi o bicho-papão do Interior. O time que tinha Silva, Lívio, Andrezinho, Bira e Zezinho revelou dois técnicos vitoriosos: Luiz Felipe Scolari e Valmir Louruz. O Xavante fez façanha chegando a uma semifinal do Brasileiro. Mas essa fase também tem o Novo Hamburgo do Rached e do Inter-SM, de Donga, Roberto, Valdo, Guinga, Nei e Toninho.
O mesmo Felipão foi o grande nome dos anos 1990. Mas em Porto Alegre, onde comandou o maior Grêmio dos últimos tempos. E o Inter perdeu espaço para um Juventude turbinado pela Parmalat. A Papada foi ao delírio com os títulos do Gauchão e da Copa do Brasil, mas que depois viu o rival conquistar o Gauchão de 2000 e revelar outro técnico de Seleção: Tite.
Aquele Gauchão guerreado, folclórico, parece que ficou para trás no novo século. Times tradicionais perderam espaço e novos projetos surgiram. A Ulbra foi um deles e se tornou vice-campeã gaúcha. O 15 de Campo Bom também ficou no quase. Quase chegou à final da Copa do Brasil e, por duas vezes, quase conquistou o Gauchão. E deixou como herança outro grande treinador, Mano Menezes.
São grandes histórias e boas lembranças. Tomara que o próximo Gauchão também tenha algo para contar. Pois, mesmo que o Inter tenha sido rebaixado no Brasileiro, dá pra dizer que o futebol gaúcho vive um grande momento. Não só pelo título da Copa do Brasil conquistado pelo Grêmio, mas pelo crescimento de times do nosso Interior, como Brasil e Juventude, que estão na Série B, e o Ypiranga, na C.
*ZH ESPORTES