Uma pizza com bastante recheio e borda. Assim pode ser definido o relatório oficial da CPI do Futebol no Senado, apresentado ontem pelo relator da comissão, senador Romero Jucá (PMDB-RR). O documento com 380 páginas apresenta apenas sugestões rasas para mudanças no futebol brasileiro. E as medidas sugeridas passam longe do objetivo da CPI, que era, documentado em ata, "investigar a CBF".
O relatório disserta sobre mudanças no calendário, na formação de atletas nas categorias de base e a criação de uma liga. Em um contexto adequado, estas medidas até poderiam ser elogiadas. O problema é que o objetivo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito é investigar.
E isso não foi feito ao longo dos trabalhos.
Os senadores Romário (PSB-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) tiveram que fazer um relatório separado, com 1.024 páginas, citando vários episódios nebulosos da história recente da CBF e pedindo o indiciamento de nove pessoas, entre elas os principais dirigentes e ex-dirigentes da CBF, Marco Polo Del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, e também um parlamentar da Bancada da Bola, o deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), um dos atuais vices da CBF.
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A iniciativa do relatório paralelo é louvável, mas poderia ter rendido muito mais frutos para a sociedade se a Bancada da Bola não tivesse prejudicado os trabalhos da comissão. Na última edição da série Coronéis do Futebol, reportagem feita em setembro por mim e pelo colega Eduardo Gabardo, mostramos como o grupo agiu para barrar as duas CPIs que investigaram o futebol na Câmara dos Deputados e no Senado no ano de 2016.
Na Câmara, a CPI foi extinta sem nem sequer ter sido votado o relatório final. Já no Senado, em uma manobra que contou inclusive com a participação do presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o grupo impediu a convocação do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, do
ex-presidente Ricardo Teixeira, do vice da CBF, Gustavo Feijó, e do empresário Wagner Abrahão, histórico parceiro de negócios da entidade. Este canetaço paralisou as atividades da comissão por quase sete meses. É doloroso observar que a sociedade bancou duas CPIs para que elas mantivessem o cenário do futebol brasileiro exatamente como está, garantindo que a CBF continue a mesma caixa-preta que é desde o fim dos anos 1980, quando Ricardo Teixeira começou a construir o império que está de pé até hoje.
Os habilidosos pizzaiolos da CBF no Congresso Nacional seguem vencendo de goleada.
*ZH Esportes