Antônio Carlos Zago está prestes a escrever o capítulo mais importante do renascimento do Juventude no cenário nacional até aqui. De 2010 a 2016, o clube sobreviveu por sete anos no limbo, com o esquecimento total do centro do país, sem prestígio e afundado em dívidas. Muito diferente do momento vivido agora, perto da Série B de novo e entre os gigantes da Copa do Brasil, a ponto de lembrar os tempos áureos da década de 1990, quando foi campeão da Série B, do Gauchão e da Copa do Brasil. Mas o respiro que começou a tirar o clube do fundo do poço ocorreu em 2013, quando o técnico Lisca liderou a campanha do acesso à Série C. Segunda-feira, ele volta ao Alfredo Jaconi, mas agora ao lado da torcida.
– Tenho um carinho muito grande pelo Juventude. Vivi muitas coisas boas, como a Copinha, o Gauchão, o acesso, a revelação de jogadores, mas principalmente a relação com o torcedor. Tenho uma relação de carinho com o pessoal da Mancha Verde, o pessoal dos blogs e do Facebook, a menina do blog do futebol feminino, enfim, muita gente na cidade. Torço muito pelo Juventude e com certeza ainda vamos se cruzar pela frente. Vou ao jogo na segunda-feira torcer junto com toda essa torcida – diz o popular Lisca Doido.
Apelidado pela torcida do Juventude em 2013, a fama de técnico sanguíneo e de ser muito próximo aos torcedores atravessou o país e virou marca também no Náutico e no Ceará. Depois de passar pelo Joinville recentemente, aguarda propostas em Porto Alegre. A experiência na Série B o coloca em um nível que o próprio Juventude pode chegar em 2017. As últimas participações do Ju na Segundona foram em 2008 e 2009.
– O mínimo que o Juventude merece é a Série B. Pela estrutura, pela história, por tudo o que o clube representa no futebol brasileiro. Seria a retomada de crescimento da instituição e da parte financeira. No ano que vem, a cota da B será de cerca de R$ 7 milhões, só da TV, o que praticamente viabiliza o ano do Juventude, que briga há um tempão com essas dificuldades financeiras. Fora isso, todo mundo acompanha a competição, o mercado se abre mais, dá visibilidade aos jogadores formados pelo clube, além da volta da credibilidade para obter novos parceiros – comenta.
Como técnico do Ceará no ano passado e no início de 2016, ele tem conhecimento sobre quase tudo que envolve o Fortaleza, adversário do Juventude pelo acesso. E garante que tanto Juventude quanto Fortaleza estão prontos para 2017:
– Os dois estão preparados. Acompanhei o Fortaleza quando estava no Ceará, e é um clube que vem há sete anos nessa briga. Tem o maior patrimônio que um clube pode ter, que é uma torcida apaixonada, que apoia muito. Os dois clubes estão preparados, são dois times com história, já jogaram séries A e B. Torço para o Ju, mas não dá para negar que o Fortaleza também é um grande clube.
Segundo Lisca, o que difere o futebol nordestino do daqui é o envolvimento da torcida.
– O futebol do Nordeste aprendeu a ser mais competitivo, apesar de muita gente ter dificuldade de entender o futebol moderno de hoje. Na questão de organização, o Nordeste está crescendo muito. O Sport e o Ceará são exemplos, cumprem com os compromissos, têm ótima estrutura. Mas ainda temos alguns clubes que não cumprem o combinado, que não têm estrutura suficiente. Quanto à torcida, é diferente. Lá, realmente eles torcem para os clubes da cidade, têm uma identificação forte, é tradição de família. Os jogos estão geralmente com estádios cheios – explica.
Quando Lisca lembra do acesso de 2013, passa um filme na cabeça. Filme que Antônio Carlos deve estar vendo agora.
– O mais marcante naquele acesso de 2013 foi a unidade do clube entre todos: torcida, jogadores, diretoria e comissão técnica. Essa unidade, o comprometimento dos jogadores e essa vontade de todos de estar ali representando o Juventude foram fundamentais para que ocorresse o sucesso. Lembro de uma coisa legal daquele acesso: entreguei uma camisa para cada jogador na palestra do jogo decisivo com os dizeres "um por todos e todos por um." As famílias se reuniram em um mesmo local, vestiram as camisas e mandaram mensagens através de um vídeo. A gente subiu ali – recorda Lisca.