A voz mansa é a mesma. O português correto, bem pronunciado em frases elucidativas e firmes, é igual. A educação com que trata a todos que o cercam é idêntica. E não para por aí. Éder Mazzochi, primo de Tite, também nasceu na localidade de São Braz, no interior de Caxias do Sul, jogou futebol no Esporte Clube Juvenil, passou pelo Caxias e hoje é um técnico de sucesso. A fama na várzea já ultrapassou as fronteiras das comunidades, as faixas de campeão viraram rotina e a comparação com o parente famoso se tornou inevitável.
Leia mais
Caxiense Tite estreia nesta quinta-feira como técnico da Seleção Brasileira
Juventude tem uma longa operação logística antes da decisão de sábado
Caxias do Sul Basquete acerta volta de Arthur e renova com Guto, Marcão, Vinícius e Rafael Stabile
Caxias mira renovações de Marcelo Pitol e Geninho
Enquanto Tite estreia nesta quinta-feira na Seleção Brasileira, Éder se prepara para a reta final da primeira fase do Integração, um dos torneios mais tradicionais do futebol amador caxiense.
– Não gosto muito que me comparem com ele, essa é a verdade. Tenho muito orgulho de ser primo do Tite, mas não gosto dessa comparação. É bem diferente: ele é profissional, eu sou amador. Alguns torcedores até me chamam de Tite ou de primo do Tite, mas não gosto. Até porque da última vez que fizeram isso, o meu time tomou quatro do Santa Lúcia – conta o treinador de 46 anos.
Mas como não comparar com esse currículo vencedor? Na época de volante, foi pentacampeão da Copa União de Clubes pelo EC Juvenil. Como técnico, comandou o time na emblemática conquista do hexa no ano do 80º aniversário do clube de São Braz, em 2010. E, nos últimos dois anos, foi bicampeão do Integração pelo Aliança, de Monte Bérico, além do título da Copa dos Campeões de 2015. O segredo é o mesmo do primo: a relação com os jogadores.
– O que admiro no Tite é o trabalho que ele faz com o grupo. Ele vai na casa do jogador, conversa com a família, conquista todo mundo. Eu faço isso também. Semana passada, tomei cerveja com alguns jogadores. Falamos de futebol, trocamos uma ideia. Fazemos janta e almoço com eles e os familiares. Trabalho muito em cima do caráter e da confiança. Se o jogador não vem num dia, no outro fica no banco. É amador, é varzeano, mas se o cara não chega até as 15h para o jogo da tarde, eu fecho a porta do vestiário e dou a camisa para outro – explica.
Com o apoio da mulher Aline, 34 anos, da filha Ana Caroline, 17, e do filho Marco Aurélio, seis, Éder renova a paixão pelo futebol e pelo ofício de treinador a cada temporada. Mas não pensa em se tornar profissional:
– Em 2010, tive um convite para treinar o sub-17 do Caxias, mas não quis. Na várzea, dá para conciliar com um trabalho. Sou representante comercial de calçados femininos.
No Aliança, Éder comanda alguns ex-jogadores profissionais, como o atacante Kito, ex-Juventude, e o lateral Sena, ex-Caxias. No domingo, tem jogo contra o 1º de Maio, fora de casa. O time já está classificado e busca o tricampeonato do Integração. Mesmo que não goste, a fama de ser o Tite da Várzea só aumenta a cada conquista.
Certeza no sucesso de Tite na Seleção
Mais do que primo, Éder é fã de Tite. Conviveu bastante com ele quando tinha 16, 17 anos. Aliás, foi Adenor Bachi quem deu uma forcinha quando o sonho de ser jogador falou mais alto.
– Tive um bom contato com o Tite na época que fui para o Guarani, de Campinas. Foi ele quem me levou para treinar lá na equipe juvenil, mas tive uma lesão no joelho e fiquei só por 40 dias. Quando ele vinha a Caxias do Sul, a gente estava sempre junto também, com as famílias e tal. Mas depois que ele foi para o Grêmio, em Porto Alegre, o contato ficou mais difícil. E depois ele foi para São Paulo e aí houve um afastamento natural.
Éder acompanha a carreira de Tite há muito tempo e sabia que a hora na Seleção Brasileira ia chegar:
– Quando fui campeão em 2010 no Juvenil de São Braz, ele foi lá visitar a comunidade e eu escrevi uma carta em tópicos para ele. Era muita gente atrás querendo pegar autógrafo e fazer foto, então resolvi só cumprimentá-lo e entregar essa carta. Como já o achava o cara, escrevi que não dava quatro anos para ele ser o técnico da Seleção Brasileira. Ele lembra disso até hoje.
A torcida pelo sucesso na Seleção é enorme. Ao mesmo tempo, há uma certeza de que tudo dará certo a partir desta quinta-feira.
– Não por ser meu primo, mas pela competência que tem, tenho certeza absoluta que ele vai dar certo na Seleção Brasileira. Ele tem todas as condições do mundo, já devia ter sido chamado antes. Uma coisa que eu admiro nele e também me espelho, é não deixar ninguém passar por cima. Se uma diretoria me contratou para ser o técnico, eu é que vou escalar o time. O Tite deixa muito claro isso. Se alguém quiser escalar o time, eu digo assim: então, tu vens escalar o time e eu caio fora – destaca Éder.
Para o técnico amador, a filosofia e a conduta de Tite vão ser determinantes nos próximos resultados:
– A causa vai ser ganha no vestiário, ele tem os jogadores na mão. Tenho certeza que com o Tite o futebol brasileiro vai tomar um novo rumo. Vai mudar, vai ter planejamento.
Tite sabe que Éder é treinador no futebol amador, mas ainda não houve oportunidade para falarem sobre o assunto. Da próxima vez que vier a Caxias do Sul, com certeza o técnico do Brasil vai conhecer a fama do primo na várzea.
– Ele sabe que sou técnico no amador. Ele me mandou um vídeo em 2014 para eu usar antes de um jogo importante. Mas nunca falamos sobre essa questão de sermos treinadores. Quem sabe um dia – revela o filho de Cláudio, irmão de dona Ivone Mazzochi Bachi, mãe de Tite.