Ainda é cedo para qualquer projeção, mas é só observar os resultados para entender por que a caxiense Amanda de Oliveira é considerada um talento especial do tênis. Com apenas 11 anos, é a número 1 do Brasil na categoria sub-12, venceu todas as etapas do circuito nacional nesta temporada e chama a atenção pela qualidade apresentada nas quadras.
Em quatro anos, a menina conquistou a quantidade impressionante de 59 torneios. Em nível estadual, joga contra adversárias de até 14 anos, e, na maioria das vezes, sai vitoriosa. Amandinha, como é conhecida, iniciou no esporte aos sete anos. Começou treinando duas vezes por semana e após um mês já estava competindo. Desde muito cedo, a própria família notou que tinha um talento em casa.
– Com três anos, ela já saiu andando de bicicleta sem precisar de ajuda. Com cinco, andava de roller e skate. A gente via que ela tinha uma coordenação diferente, era especial. Por isso, fomos procurar um esporte individual no qual ela pudesse se desenvolver – explica a mãe e fã número 1, Flaviane.
A empatia com a modalidade foi rápida. Com o passar do tempo e as primeiras conquistas, a jovem jogadora passou a treinar todos os dias e se empolga ao falar sobre as atividades. Para ela, não tem cansaço que atrapalhe a rotina na Bohrer Sports, onde exibe a sua força e talentos todas as tardes.
– Gosto de todas as partes do tênis. Nos treinos, vejo que estou cada vez mais regular, e sempre melhorando. E isso ajuda muito para os torneios. Assim, tenho conseguido vitórias mais folgadas. Treinar faz a diferença. As gurias jogam bem e o que define é o treinamento bem aproveitado – diz Amandinha.
A força com que encaixa os golpes, a simetria quase perfeita nos movimentos e a maneira como se transforma dentro de quadra impressionam a qualquer um. Do técnico a um espectador que não conheça a modalidade. Em 2016, os resultados falam por si. Ela conquistou as cinco etapas do Circuito Nacional Correios (Curitiba, Porto Alegre, Criciúma, Uberlândia e Aracaju) sem perder nenhum set. Ainda foi campeã dos tradicionais e internacionais torneios Banana Bowl, em São Paulo, e Copa Gerdau, em Porto Alegre.
Por conta do bom desempenho, foi chamada para representar o Brasil no Mundial da categoria no Canadá e participou de um período de treinamentos na Academia Sánchez-Casal, na Espanha, em julho.Até o final da temporada, Amandinha ainda disputará três torneios internacionais, em Londrina, no final deste mês, Itajaí e Florianópolis, em outubro. O objetivo é continuar no lugar mais alto do pódio:
– É difícil chegar ao topo, mas mais complicado ainda é se manter. É uma responsabilidade ser a número 1 do Brasil, mas é muito legal ter essa posição.
Na escola, ótima aluna
Fora de quadra, Amanda de Oliveira é como qualquer outra menina da sua idade. E, uma questão em particular chama a atenção de quem conhece a garota. Mesmo com tantas viagens, treinos e compromissos por conta do esporte, ela não deixa os estudos de lado.
– Eu procuro recuperar as aulas, pego os cadernos com as minhas amigas, repasso a matéria e estudo em casa. Faço as provas atrasadas no período contrário, no caso, de tarde – conta Amanda.
A mãe de Amandinha faz questão de agradecer e elogiar o colégio São João Batista que, além de patrocinar a estudante, oportunizou que ela tivesse uma estrutura diferenciada para fazer as provas atrasadas.
– É muito boa a escola. A Amanda ganha atestados da CBT, é como se fosse de médico. Não abona as faltas, mas ela não pode repetir e faz as provas em outro período. A gente correu muito atrás e só duas escolas de Caxias aceitaram – lembra Flaviane.
A rotina de aulas, treinos e competições não afeta o desempenho escolar de Amanda. No sexto ano do ensino fundamental, tem notas exemplares.
– Ela é muito inteligente, tem a facilidade para recuperar os materiais de aula e se esforça muito quando não está em quadra treinando ou jogando. E isso, de certa forma, ajuda. Tem uma colaboração importante das colegas, dos professores e ela é muito concentrada, a ponto de esquecer do tênis quando está estudando – comemora Flaviane.
Na escola, Amanda deixa até um pouco o tênis de lado. A menina gosta de testar novas modalidades, participa dos Jogos Escolares e relembra as aventuras longe das quadras e com raquetes bem menores.
– Eu gosto de todos esportes. Um pouco de cada um. O ano passado fazia tênis de mesa e participei dos Jogos Escolares de badminton. Antes, cheguei a fazer natação. Mas, o tênis é o que eu amo – afirma.
Viagens, responsabilidade e aprendizado
Para qualquer menina de 11 anos, viajar sozinha seria motivo de apreensão. Em competições no país, normalmente Amanda é acompanhada pela mãe. Já fora do país, ela normalmente embarca com representantes da Confederação Brasileira de Tênis e outros atletas da base.
– Claro que é difícil. Mas quando ela viaja a gente se fala sempre, toda hora, só evita quando ela está treinando. Ela é muito responsável pela idade que tem, arruma sempre a própria mala, faz o check in no aeroporto sozinha – conta a mãe.
Por conta do esporte, mesmo com a curta carreira, Amandinha já viajou para a Argentina, Bolívia Canadá e Espanha. E as experiências devem se multiplicar nos próximos anos. O crescimento na modalidade passa também por jogar contra meninas de outros países, que apresentem maiores dificuldades e tenham outros estilos de jogo.
– É legal a experiência de aprender com novos lugares e pessoas diferentes. No torneio no Canadá, joguei com canadenses, mexicanas, peruanas. É mais difícil, o estilo é diferente. Você aprende coisas novas – diz Amandinha.
A menina que gosta de assistir aos vídeos dos próprios jogos, só pensa em melhorar a cada treino e chegar ao nível dos grandes da modalidade. Ela enumera os ídolos no esporte:
– Meu jogador favorito é o Roger Federer. E, claro, o Guga também. E das mulheres, gosto da Teliana Pereira, da (Eugenie) Bouchard e da Serena (Williams). Gosto muito do que eu faço e quero ser uma tenista profissional. Gostaria muito de chegar ao nível delas – projeta.
Trabalho dentro e fora da quadra
O trabalho em torno de Amandinha envolve toda a família, que passou a também investir no futuro da menina no esporte. Por conta disso, ela faz pilates, e trabalha com nutricionista e o fisioterapeuta esportivo Rafael Plein.
Na Bohrer, ela treina há dois anos com Paulo Rubira Jr., o Juninho. Com 33 anos, sendo 15 dedicados a ensinar o tênis, ele vê Amandinha como um talento precioso.
– Já vi muitos jogadores bons, especialmente no masculino, mas igual a ela não cheguei a trabalhar. A Amandinha tem uma técnica refinada e três fatores fundamentais: foco, concentração e inteligência – explica.
Mesmo que ainda tenha só 11 anos, é difícil não imaginar Amanda como profissional. E a precocidade das meninas na modalidade faz que tanto os pais como o técnico tenham noção exata dos desafios que a jovem atleta terá pela frente nos próximo quatro ou cinco anos, na transição de categorias. Mesmo que imaginem um futuro longe da cidade, o foco está na evolução diária.
– Esse ano foi um diferencial por ter essa evolução muito grande, tanto na questão tática como técnica. A gente tem uma parceria muito legal e é isso que ajuda muito nos treinamentos. Tem que saber entender ela, até por ainda ser uma criança – explica Juninho.
Sem pressionar a menina e cientes da importância do apoio, independentemente dos resultados, a mãe Flaviane e o pai Telmo não interferem em treinos e jogos. Algo importante para que o crescimento de Amanda ocorra da forma mais natural possível.
– Eles assistem os jogos e ficam bem tranquilos – diz Amanda.