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Após passar por Veranópolis, Ypiranga de Erechim e Juventude, a ascensão de Tite no cenário nacional ocorreu em seu retorno à casamata do Estádio Centenário. Em uma temporada inesquecível para o torcedor grená, comandou o Caxias no primeiro título gaúcho de sua história, em 2000, contra o Grêmio de Ronaldinho e da ISL.
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Foi um campanha repleta de dificuldades, especialmente financeiras, mas com amplo domínio dentro de campo. Na primeira partida da decisão, uma avassaladora goleada por 3 a 0. Depois, um empate sem gols no Olímpico, que garantiu o título inédito.
O que poucos sabem, talvez nem o próprio treinador, é que sua trajetória naquela equipe poderia ter sido interrompida antes da glória, se não fosse o empenho do grupo de jogadores em cobrar a permanência do técnico à direção no momento mais difícil. Foi em uma espécie de pré-Gauchão, em que 13 clubes disputavam cinco vagas para enfrentar Grêmio, Inter e Juventude em um octogonal.
Após boa arrancada, o desempenho caiu e o time corria o risco de ficar de fora (tanto que só se classificou por conta de uma vitória do Esportivo diante do São José em Porto Alegre). O ex-zagueiro Paulo Turra, capitão daquele time, lembra do pacto feito para proteger o treinador, que corria risco de demissão:
– Nos bastidores, nós sabíamos que havia uma intenção de demitir o Tite. Então, reunimos os principais líderes do grupo com o vice de futebol, o Alceu Fassbinder, para dizer que o grupo não aceitaria a demissão. Foi uma conversa no centro do gramado, em que cada um assumiu a responsabilidade pelo mau momento. Nós gostávamos do Tite, mas mais do que isso, sabíamos que não era ele o culpado. Foi uma atitude que pode ter interferido na vida futebolística no nosso treinador – lembra Turra.
Tite ficou e o resto é história. Uma história que 16 anos depois culmina na Seleção Brasileira, como sucessor de Dunga. Entre as qualidades que Tite pode agregar à Seleção, Turra elenca uma série delas, mas elege uma principal: segundo ele, o homem que o treinou no Caxias não abre mão de ter jogadores experientes em seus times:
– O Tite é um treinador muito atento a cada detalhe e está sempre preocupado com a forma de jogar da equipe adversária. Isso está na essência dele. Além disso, é um técnico que não abre mão de ter jogadores experientes, com muitas decisões disputadas. O Tite, em todo time onde foi vencedor, contou com jogadores rodados e com características de liderança.
O título gaúcho era o trampolim que Tite precisava para alçar novos voos. E o destino era a Capital gaúcha. Em 2001, o treinador assumia o Grêmio, o primeiro clube grande. O maior desafio até aquele momento.
– Lembro dele contar que acordou no dia seguinte do acerto e me falar: "Vou treinar o Grêmio, realizar meu sonho" – conta o irmão Miro.
O resultado foi o melhor possível. O título estadual, diante do Juventude, e da Copa do Brasil, contra o Corinthians, veio com um time que mesclava jogadores consagrados, jovens e apostas, como o lateral-direito e volante Itaqui, que destaca:
– Foi um privilégio. Trabalhei com ele tanto no Juventude, em 97, como depois em 2001, no Grêmio. É um grande profissional e ser humano. Só tenho elogios a fazer para ele. O Tite trata todo mundo igual. Jogadores podem vir de um time grande ou do Interior. Como profissional, ele não quer ganhar apenas por ganhar, mas com um time que convença dentro de campo, que jogue bem. É um cara que não chegou por acaso.
Quis o destino que o adversário do primeiro título nacional se tornasse fundamental na história do treinador. Porém, antes disso, muita água rolou. Depois do Grêmio, Tite passou pelo São Caetano, onde classificou o time para a Libertadores de 2004. De lá, foi para o Corinthians pela primeira vez, mas deixou o clube após boa campanha de reabilitação no Brasileirão.
No ano seguinte, pelo Atlético-MG, sucumbiu com o time que acabou rebaixado para a Série B. Ele saiu antes da queda, em agosto. No Palmeiras, em 2006, o objetivo era recuperar a equipe que vinha na zona de rebaixamento. A meta foi alcançada, mas faltava o título expressivo.
A volta ao Sul serviu como redenção. Chegou contestado pela ligação com o maior rival e assumiu o Inter em junho de 2008. Levou o time ao sexto lugar no Brasileirão e à conquista da Copa Sul-Americana. No ano seguinte, faturou o Estadual e foi finalista da Copa do Brasil, novamente contra o Corinthians. Ao mesmo tempo em que comemorava o bom momento, veio o grande baque. A perda do pai, seu Genor, aos 74 anos. Ele estava internado há 28 dias em um hospital de Caxias do Sul e a notícia chegou ao treinador em uma quinta-feira à noite, dia 30 de julho de 2009, logo após a vitória sobre o Barueri no Brasileirão.
Tite voltou para Caxias e, mesmo abatido pela perda, voou com o Inter no dia seguinte para a disputa da Copa Suruga, no Japão. Era uma forma de homenagear seu grande incentivador. Voltou com o título.
Retorno triunfal – O Timão estava no caminho do treinador e após uma breve passagem pelo Al-Whada, dos Emirados Árabes, ele reassumiu a equipe paulista para fazer história. Após um início ruim e a eliminação na pré-Libertadores em 2011, recuperou a confiança do time e conquistou o Brasileirão ao final da temporada.
– É uma mistura de sentimentos muito grande. Lembro que na hora só olhei para o céu e agradeci ao meu pai – disse Tite, em entrevista ao Pioneiro, no dia após a conquista.
Se o título nacional já representava um novo patamar para Tite, o coração da Fiel iria ser totalmente dominado com os triunfos em 2012. A conquista da primeira Libertadores do Corinthians, de forma invicta, e do Mundial, sobre o Chelsea, no final do ano. Para fechar o ciclo, em 2013, títulos do Paulistão e da Recopa. Como méritos de sobra, novamente o técnico utilizou a mescla entre jogadores tarimbados e jovens apostas como Paulinho e Edenilson, que saiu do Caxias para conquistar o mundo.
– Acho que o Tite tem na sua maior virtude a justiça com o grupo. É um cara muito correto. Para ele, não importa onde e quando os seus comandados jogaram. Vai para o jogo quem está melhor. Ele respeita e faz com que os jogadores tenham o mesmo sentimento um com o outro – afirma Edenilson.
Para o jogador de 26 anos, que hoje atua na Udinese-ITA, Tite construiu uma carreira que o credencia ao comando da Seleção:
– Ele merece a Seleção. Seria muito bom ver um cara como ele sendo recompensado por tudo o que fez.
Quando deixou o Corinthians em dezembro de 2013, Tite partiu para um ano sabático. Enquanto se atualizava com os profissionais europeus, o Brasil sofria o impacto dos 7 a 1 para a Alemanha. A consequente queda de Luiz Felipe Scolari da Seleção parecia o cenário perfeito para finalmente um convite a Tite. Mas então Marco Polo Del Nero preferiu dar nova oportunidade a Dunga, técnico derrotado na Copa de 2010.
Em diversas entrevistas, Tite reconheceu a frustração com a decisão do presidente da CBF. Em dezembro de 2014, surgiram convites de Inter e Corinthians. E o retorno ao clube paulista lhe rendeu mais um título brasileiro.
A nova chance se concretizou agora depois da mais frustante eliminação em Copa América, desta vez ainda na fase de grupos diante do Peru, nos Estados Unidos. O caminho para o comando da Seleção reapareceu com a queda de Dunga na terça-feira. Uma conversa com Del Nero, algoz em 2014, o fez agarrar a oportunidade negada dois anos antes.
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