Ao longo dos 20 minutos da coletiva que se seguiu ao jogo com o Peru, o técnico Dunga lamentou a eliminação precoce do Brasil da Copa América Centenário, mas declarou várias vezes que a responsabilidade pela desclassificação inédita na primeira fase não era apenas da Seleção, mas do "imponderável" e dos "erros grosseiros" cometidos pela arbitragem.
– Meu sentimento é igual ao do torcedor e dos jogadores. Nós de nosso lado fizemos nossa parte. Mas hoje todos viram, não tem o que fazer. Se não tiver as imagens para haver troca de informação, todo um trabalho pode ser colocado fora por uma situação imponderável. Era um jogo para ter terminado empatado. – lamentou o técnico.
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Ao ser indagado por que não lançou mão das três substituições a que tinha direito (apenas Hulk entrou, no lugar de Lucas Lima, no segundo tempo), Dunga declarou que não as considerou necessárias porque o time estava "encaixado" e criando boas situações de gol. Questionado também sobre se faltou ao Brasil um toque individual em campo capaz de mudar a situação do jogo, Dunga insistiu que o Brasil escalado por ele tinha, sim, esse tipo de jogador decisivo.
– No primeiro tempo, tivemos essa individualidade, tivemos jogadas combinadas, o que nos faltou foi definir as oportunidades que havíamos criado. Sabíamos que o Peru ia jogar só por uma bola, só por um lance, e foi o que aconteceu.
Ao falar sobre seu futuro na Seleção, Dunga minimizou a possibilidade de ser demitido.
– Não tenho receio nenhum. O presidente sabe o que estamos fazendo, como estamos trabalhando, sabemos que o cargo é muito exposto às críticas, que as cobranças tendem a aumentar não vindo o resultado.
Reconheceu, contudo, que a pressão deve aumentar com as Olimpíadas e lembrou mais de uma vez o trabalho feito pela seleção alemã ao longo da última década e meia. E relacionou, ainda que de modo indireto, a crise da seleção brasileira com a crise política no país.
– É normal, quando não se tem resultados, a tolerância vem menos. No momento em que passamos no Brasil, tudo se reflete no futebol. O Brasil venceu muito até 1970. Depois, de 94 a 2002, venceu muito também. Nós nos acostumamos a ganhar, e agora estamos vivendo um momento de transição, e é preciso ter paciência. A Alemanha passou por essa transição e fez um grande trabalho, mas teve que ter paciência, e no Brasil a gente não tem paciência. A gente quer achar solução de uma hora pra outra.
Mais de uma vez, o técnico se referiu em tom amargo ao gol de mão marcado por Ruidíaz. Ao responder a um jornalista peruano, disse que o Peru teve a virtude de esperar o momento justo e atacar para fazer o gol.
– Ainda que tenha sido um gol de mão, fez o gol – alfinetou.
Também aumentou o tom nas críticas à arbitragem, manifestando estranheza com o longo tempo que o árbitro e seus assistentes demoraram para chegar a uma definição sobre o lance, aparentemente consultando alguém fora do campo de jogo – e ainda assim, tomar a decisão errada.
– Com todas as câmeras que se têm, me vem a dúvida sobre como assim mesmo, com essa tecnologia, ainda se comete esse tipo de erro tão grosseiro. Eles (o juiz, os assistentes de campo e o árbitro reserva) precisavam falar só entre os quatro, então não havia necessidade de se comunicar com mais ninguém, estavam no campo os quatro juntos. Então me vem a dúvida sobre quem estava sendo consultado.
*ZHESPORTES