Apesar de o Inter levar para o jogo do Beira-Rio a vantagem de ter vencido por 1 a 0 no Alfredo Jaconi, o Juventude se nega a entregar os pontos. E não se dá por vencido muito porque o seu camisa 10, perto de completar 36 anos, quer ser campeão. Mais: Hugo Henrique Assis do Nascimento considera uma possível virada sobre o Inter como um dos maiores feitos de sua carreira.
O meia Hugo é uma espécie de treinador dentro de campo. Durante a semana, antes de a delegação de Caxias do Sul viajar a Porto Alegre, o experiente meia tratou de conscientizar os mais jovens (ou seja, quase todo o elenco do Juventude, menos o zagueiro Pereirão e o volante Wanderson) de que o campeonato ainda é possível. Tricampeão brasileiro (uma vez pelo Corinthians, duas pelo São Paulo) e campeão gaúcho em 2010, contra o Inter e defendendo o Grêmio, Hugo acredita no título. Jogador à moda antiga, é daqueles que responde o que realmente pensa.
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Hugo conversou com Zero Hora na manhã de sexta-feira. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Pela sua experiência, o que você tem dito aos jogadores para motivá-los e tentar dar a volta no jogo de Porto Alegre?
Quando você é campeão, você ganha respeito e valorização. A carreira se expande e as pessoas te olham de outra maneira. Tento passar o que já vivi. mas isso vai de cada jogador. Os meninos, apesar de jovens, estão acostumados a decisões de Gauchão na base. Já subiram com essa mentalidade forte, entendendo esse clima de decisão.
O Gauchão surge como a chance de uma última grande conquista na sua carreira?
Última não, né? Não sei o dia de amanhã. Poderia ser até a última se eu estivesse dando a carreira por encerrada, mas quero ir até os 38 anos. Se eu conquistar esse título com o Juventude, será o mais importante da minha carreira.
Por quê?
Olha a dificuldade que é para o Juventude. Desde questões financeiras e tudo o mais. Você desbancar um Grêmio, que tem um elenco rico e com jogadores de Seleção, já é algo. Agora, você enfrentar o Inter em seus domínios, e ter a chance de conquistar o título, será importante. Joguei no São Paulo, no Corinthians, no Grêmio, no Flamengo... É mais fácil você conquistar com grandes jogadores, apesar da pressão da torcida e da pressão interna.
A arbitragem é mais benevolente com os times grandes?
Sim. Há momentos em que puxa para o lado do grande. Foi o que aconteceu domingo aqui (Hugo reclama de chute que deu a gol e a bola bateu no braço de Ernando, que estava junto ao corpo), mas, infelizmente, Vuaden não marcou. Ele é um excelente árbitro, um dos melhores que vi, mas acho que ele foi infeliz naquele lance.
Te pergunto isso porque você já esteve nesses dois lados.
Claro, conheço e sei como funciona. Até mesmo quando os jogadores dos times grandes entravam pendurados em decisões. Jamais levavam o cartão para não acabar prejudicando o grande.
Inter e Juventude são times tecnicamente semelhantes?
Tecnicamente o Inter é melhor. Temos nos superado na vontade e na garra. E na gana de conquistar o Gauchão. Se o Inter ganhar, será apenas mais um troféu, que ficará empoeirado no Beira-Rio. Para o Juventude, será uma grande conquista, histórica outra vez.
Você foi campeão em 2010, em um Gre-Nal. Uma das imagens daquela final é quando você ergue um caixão do Inter, na comemoração do título.
A conquista foi marcante, levantar o caixão foi inexperiência. Acabei levando para o lado do torcedor, no entusiasmo. Mas já me desculpei com o Inter. Jogador nenhum deve fazer isso, se envolver assim, mas, sim, se entregar em campo.
Você é um dos donos da última conquista do Grêmio. Por que o clube está há tanto tempo sem ser campeão?
Rapaz, é difícil dizer. Vou até levar em questão algo que a imprensa reclama muito: a arbitragem. Acabou acontecendo com o Juventude, agora. Por exemplo, quando começa o Brasileirão, vocês (imprensa) dizem que os times do Sul são prejudicados pela arbitragem, que favorece os times de Rio e de São Paulo. Acho que um pouco é isso: os grandes provando do próprio veneno. Por vezes, são coisas que acontecem no futebol e que não podemos fazer nada. Mas vejo o Grêmio com uma torcida que apoia muito, como poucas no Brasil. Mas, para voltar a ser campeão, não sei o que falta. Nem sei se sou o mais gabaritado para responder isso.
Essa Libertadores tem mostrado que o toque de bola dos argentinos é superior ao nosso. Por quê?
Os treinadores da base não têm aval da diretoria para que façam grandes jogadores, independentemente dos resultados que terão. Os treinadores querem segurar emprego, acabam optando por jogadores que corram, que marquem e que pensem pouco. Eles não têm a proteção das direções e, assim, preferem segurar os seus empregos. Logo, não se preocupam em formar jogadores. Um exemplo: as pessoas falam do Douglas (meia do Grêmio). É um baita jogador, mas, às vezes, a maneira como ele se movimenta em campo, não é que as pessoas entendam que seja a melhor. Ele é o cara que pensa. E precisa de respaldo para isso. É como o Paulo Henrique Ganso: se o time não está correndo, é ele quem não serve. Mas olha o que ele tem de bom. Um meia hoje é o cara que corre, corre, corre, mas, em termos de produtividade, é inferior ao Douglas, ao Ganso... Acho que os nossos problemas começam aí: deixamos a técnica de lado e queremos caras que corram, apenas.
O jogo do Beira-Rio precisará ser de superação para o Juventude?
É jogo para se deixar tudo em campo. É a última partida e a chance de ser campeão. Vamos lutar até o fim. No decorrer do jogo você vai sentindo o que precisa fazer.
Por que o Juventude pode ser campeão?
Pelo que fez, principalmente no começo do campeonato e nessa reta final. Tirar o Grêmio da maneira como tiramos, não é para qualquer um. Temos totais condições de conquistar a taça em Porto Alegre.
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