Pela segunda vez em três anos, os fãs de UFC no Brasil conviveram com a longa ausência do maior ídolo do MMA no país. Anderson Silva, que completou 40 anos em 2015, volta a lutar neste sábado depois de um ano parado. Desta vez, depois de cumprir uma suspensão por doping na luta contra Nick Diaz em janeiro do ano passado - um motivo bem diferente da fratura na perna, sofrida na revanche com Chris Weidman, que o deixou de fora por todo o ano de 2014.
O combate com Michael Bisping, em Londres, é mais do que uma prova de que ainda pode lutar em alto nível. É também um teste de popularidade para o ex-campeão dos médios. Para Caju Freitas, colunista de Zero Hora, a imagem arranhada depois de um caso de doping é inevitável.
Leia mais:
- Não só o Anderson, mas todo o MMA foi afetado. O caso foi horrível para a imagem do esporte. Antigamente, eu via todos falando das lutas do Anderson. Hoje, escuto alguns comentários, mas com certa desconfiança do sucesso do retorno dele - analisa.
No entanto, a visão do repórter Guilherme Cruz, do site americano MMA Fighting, é diferente. Para ele, a forma como o UFC lidou com a situação de uma grande estrela provou a lisura da organização nestes casos - ainda que a imagem pessoal do lutador fique marcada.
- O Anderson não ficou menos popular com o caso do doping, mas a imagem dele ficou manchada. Quanto à imagem do UFC, não acredito que tenha afetado tanto, especialmente pelo fato de a organização investir em uma política antidoping cada vez mais eficiente. O fato de até uma de suas maiores estrelas ter sido pega prova que o UFC está tentando combater o doping no MMA, doa a quem doer - pondera.
Na avaliação de Eduardo de Rose, membro do Conselho de Fundação da Agência Mundial Antidoping, o tamanho do impacto varia se há a ideia ou não de que houve intenção de obter benefício esportivo.
- Sempre marca, mesmo que seja casual. Mas, para a maioria das pessoas, isso fica muito ligado à intencionalidade para ter resultados melhores, não ao doping por si só.
Para o próprio Anderson Silva, o período de longos afastamentos trouxe aprendizados.
- Foram anos de renovação. Lógico que todo mundo gosta de vencer na vida, mas faz parte perder, errar e acertar. Isso fez parte da minha transformação para que eu me torne uma pessoa melhor também - explicou o lutador, em entrevista à Agência Estado.
Impacto comercial
Anderson Silva perdeu patrocinadores ao longo do período afastado dos octógonos, mas ainda é uma arma comercial potente sob contrato com o UFC. A luta deste sábado, por exemplo, é uma aposta de mercado do Ultimate. Em vez de colocar o evento na TV convencional - seja aberta, fechada ou em sistema pay-per-view -, a organização decidiu torná-lo exclusivo nos Estados Unidos para os assinantes do Fight Pass - um produto do próprio UFC para aplicativos digitais.
- Essa não é a primeira vez que o Anderson luta fora do pay-per-view depois que se tornou campeão. Em 2008, contra James Irvin, ele lutou em TV aberta, pois o UFC quis rivalizar em audiência com uma organização rival. Com o Fight Pass, é mais uma estratégia de marca do que uma desvalorização do Anderson - analisa Cruz.
Na avaliação de Eduardo Esteves, especialista em marketing esportivo, ao mesmo tempo em que há uma aposta comercial no Fight Pass, há um fator de segurança financeira em não vender a luta de Anderson no sistema pay-per-view.
- Enquanto para o Anderson representa um recomeço, para o UFC são negócios. Anderson Silva sofreu uma grave lesão e, quando venceu, estava dopado. Para que a luta chegue através do pay-per-view, há um forte investimento pelo lado dos organizadores. É natural que o pé atrás exista pelo contexto dos últimos três anos - considera.
Para Esteves, o público que passou a acompanhar o UFC pelo interesse nas vitórias de Anderson é o que rapidamente deixa de ter interesse no MMA com a sequência negativa do ex-campeão.
- Anderson era a personificação do sucesso do UFC no Brasil. Foi a partir do foco em Anderson que muitos passaram a acompanhar suas lutas. Sem ele, este público perdeu o interesse.
No Brasil, como há um contrato independente dos feitos nos Estados Unidos, a edição terá exibição normal pelo canal Combate no sistema pay-per-view.
Fator esportivo
O Spider é o campeão com mais defesas de cinturão - foram dez consecutivas - na história do UFC. Mas, aos 40 anos, o ex-detentor do cinturão parece distante de uma nova disputa. Atualmente, o título está nas mãos do americano Luke Rockhold, que venceu Chris Weidman - o responsável por bater Silva duas vezes no período de cinco meses em 2013.
A última vitória de Anderson na categoria dos médios foi em julho de 2012, na defesa de cinturão contra Chael Sonnen. Desde então, passou por Stephen Bonnar entre os meio-pesados, perdeu duas vezes para Weidman e viu sua vitória sobre Nick Diaz ser convertida em luta sem resultado pelo caso de doping. Apesar de tudo, sua história no UFC pode pesar a favor de uma nova chance.
- Após a vitória sobre Vitor Belfort, em 2011, o Spider passou a ser um ídolo mundial. Neste rumo, com uma vitória no sábado, o UFC não terá outra alternativa a não ser colocar o ex-campaão dos médios como próximo desafiante. Assim, o Anderson poderá, sim, retomar o seu cinturão - avalia Caju Freitas.
- Anderson Silva não venceu as últimas três lutas e vem de suspensão por doping. Se fosse um lutador comum, possivelmente já teria sido até demitido do UFC. Mas é o Anderson Silva, e tudo funciona diferente para atletas no nível dele. Imaginar o Anderson disputando o cinturão do UFC ainda em 2016 é uma possibilidade real - concorda Guilherme Cruz.
UFC Fight Night 84, em Londres, no Reino Unido
Card preliminar (começo às 14h45min)
David Teymur x Martin Svensson (leves)
Teemu Packalén x Thibault Gouti (leves)
Daniel Omielanczuk x Jarjis Danho (pesados)
Norman Parke x Rustam Khabilov (leves)
Brad Scott x Krzysztof Jotko (médios)
Arnold Allen x Yaotzin Meza (penas)
Scott Askham x Chris Dempsey (médios)
Davey Grant x Marlon Vera (galos)
Mike Wilkinson x Makwan Amirkhani (penas)
Card principal (começo às 18h)
Francisco Rivera x Brad Pickett (galos)
Tom Breese x Keita Nakamura (meio-médios)
Gegard Mousasi x Thales Leites (médios)
Anderson Silva x Michael Bisping (médios)
*ZHESPORTES