A China quer ser a Inglaterra da Ásia. Segunda maior economia do mundo, organizou um campeonato de futebol milionário, cujos direitos de transmissão pela TV passam dos R$ 4,5 bilhões. A ordem é derrubar os japoneses e virar o ponto de referência do esporte no Oriente. Para isso, não poupa seus yuans para atrair jogadores e técnicos estrangeiros, que possam dar qualidade e ensinamentos aos novatos. E, agora, não leva mais apenas atletas em fim de carreira ou buscando ascensão: nesta janela de transferências, arrematou os craques do Brasileirão. Jadson, Renato Augusto e Mano Menezes já foram; Elias, Ralf e Anderson estão na mira.
Os brasileiros que aceitaram - ou aceitarão - as propostas da China encontram um ambiente seguro, honesto e tranquilo, mesmo sendo no país mais populoso do planeta. E, claro, um caminhão de dinheiro, mais até do que pagam os principais mercados europeus, com a vantagem de ser livre de impostos. Assim, os valores que têm aparecido nos noticiários (Jadson e Renato Augusto, por exemplo, levariam R$ 2 milhões por mês, Anderson, R$ 1,4 milhão) são aqueles que pingarão em suas contas. E sem atrasos.
- As únicas vezes em que não recebi em dia foram quando o clube antecipou os pagamentos - revela Rodrigo Paulista, aos 30 anos, ídolo do Harbin Yiteng, de saída para o Guizhou Hengfeng, da segunda divisão, a mesma que Jadson e Luis Fabiano vão disputar, treinados por Vanderlei Luxemburgo.
O ex-meia do Inter, que surgiu no time principal em 2004, desistiu de ficar no Brasil após sua passagem pelo Guarani, de Campinas, em 2011. No clube paulista, treinado por Argel, ficou cinco meses seguidos sem receber. Na China, nunca aconteceu algo semelhante.
Segurança nas ruas é mais um atrativo
A segurança financeira só é equiparável à segurança nas ruas.
- Levam a sério a punição na China. Por isso, podemos andar nas ruas com dinheiro e objetos sem medo de sermos roubados - diz o atacante Aloísio, que, no Brasil, ganhou o apelido de Boi Bandido por seu temperamento em campo, artilheiro do último Campeonato Chinês pelo Shandong Luneng.
A tranquilidade é um atrativo para levar familiares e amigos para perto, além de boas instituições de ensino para os filhos dos jogadores.
- A China vem se ocidentalizando muito ultimamente. Já existem muitos estrangeiros, e a maioria dos que conheço se adapta tranquilamente - explica Rodrigo Paulista.
A qualidade do campeonato tem aumentado, o que é outro atrativo. Prova disso é o quarto lugar no Mundial de Clubes obtido pelo Guangzhou Evergrande, atual campeão nacional e da Champions League asiática, treinado por Felipão e estrelado por Paulinho, Ricardo Goulart e Elkeson. O principal rival é o time de Aloísio, o Shandong Luneng. E é dele uma revelação que diz muito sobre o clube de Mano Menezes, Montillo e Diego Tardelli: a estrutura de treinamentos é maior que a do São Paulo, uma das referências no Brasil. Com as condições de trabalho adequadas, precisa apenas aproveitar as vantagens da vida mais segura e com menos cobrança, de um país que gosta de futebol, mas não é fanático:
- O torcedor tem carinho enorme por nós, e a pressão é menor do que no Brasil, que basta o jogador ir mal em uma ou duas vezes que já não serve mais.
Nas arquibancadas, a média de público é de 22,5 mil torcedores. Ocupa a sexta posição do ranking de campeonatos nacionais, atrás de Alemanha, Inglaterra, Espanha, México e Itália - o Brasil é 12º.
Esportivamente, o desafio é ampliar sua divulgação, para ser visto pelos técnicos das seleções nacionais. Mais especificamente, a brasileira. Apesar de Dunga garantir que a geografia não influencia suas convocações, nomes antes frequentes, Paulinho, Ricardo Goulart e Diego Tardelli perderam espaço. Renato Augusto é o próximo desta turma.
- Os jogadores têm que ver o que querem, porque na China é mais difícil ser convocado, ao menos por enquanto - reconhece Aloísio.
Marcelo Moreno, atacante do Changchun Yatai, vai no mesmo sentido, mas põe a convocação na mão dos técnicos:
- A liga fica a cada dia mais competitiva, e isso é bom para todos que jogamos lá. Agora, acho que cada técnico tem uma visão diferente e só nos resta respeitar as opções que eles tomam.
Fora do âmbito esportivo, as principais dificuldades são idioma, alimentação, poluição e saudade. A língua, nos primeiros momentos, é de impossível compreensão. A comida é apimentada demais para os padrões nacionais, a poluição deixa o ar seco e pesado e a distância de amigos e familiares precisa ser diminuída com sessões de Skype.
- Ah, o trânsito é uma loucura. Ia para os treinos em mototáxi - comenta Rodrigo Paulista.
*ZHESPORTES