No futebolzinho que precede o churrasco de fim de semana, PH Ganso seria a minha primeira escolha no par ou ímpar. Com R$ 30 milhões ou R$ 40 milhões para investir em um meia talentoso, eficiente, competitivo e dinâmico, jamais hesitaria: entre o jogador do São Paulo e Lucas Lima, optaria sempre pelo segundo.
Os recentes confrontos entre Santos e o Tricolor paulista na Copa do Brasil escancaram as diferenças entre os dois jogadores. Vou ainda mais longe: o passeio santista nos 180 minutos das semifinais mostrou o abismo existente entre dois conceitos de futebol. Uma dessas concepções, acorrentada ao passado, preconiza o seguinte: cabe ao volante (camisa 5) tirar a bola dos adversário e entregá-la - sabe-se lá como - ao meia (o 10), para que este resolva os problemas de criação do time e pife o centroavante, o bom e velho 9.
Já quem entende que o futebol evolui exige do meio-campista de seu time a capacidade de executar todas as tarefas de um meio-campista: marcar com eficiência, passar com qualidade, municiar os atacantes, chutar a gol, voltar para marcar...
Pois voltando a Ganso, o "craque" do passado, e Lucas Limas, o símbolo do futebol do presente, um lance protagonizado pelos dois jogadores na Vila Belmiro, na última quarta-feira, cristalizou a enorme distância entre eles. Em uma rebatida da zaga do Santos, a bola se oferece ao são-paulino. Eis que Lucas Lima surge e investe com a fúria de um Fabrício Werdum, rouba a bola do são-paulino (de forma até faltosa, a bem da verdade) e dispara em direção à intermediária, enquanto Ganso reclama e gesticula para o assistente.
Depois de percorrer em alta velocidade mais de 50m sem perder o contato com a bola, Lucas Lima inverte a jogada com um lançamento preciso para Marquinhos Gabriel. Gol do Santos.
Não consigo esconder a repulsa com certos tipos de jogadores. Pior do que ser desprovido de talento é desperdiçá-lo. Quando defendia o Botafogo, Seedorf foi perguntado se Ganso teria espaço na Europa. O holandês foi categórico, com uma sinceridade rara de se ver em programas ao vivo de TV: não. Conforme as palavras do ex-craque de Ajax, Milan, Real Madrid, para atuar no melhores times do mundo é preciso muito mais do que jogar apenas com a bola nos pés. E do jeito que Ganso, 26 anos, encaminha sua carreira, nem mesmo centros periféricos do futebol, como os mercados árabe e chinês, vão endereçar propostas ao São Paulo.
Já Lucas Lima, apenas nove meses mais jovem do que o PH, faz hora extra no empobrecido futebol brasileiro. Inexplicavelmente descartado pelo Inter, seu futuro é a Premier League, a Bundesliga ou a Liga espanhola. E, claro, a Seleção, ocupando um posto que um dia Ganso prometera ser seu.