Holly Holm chocou o mundo quando no UFC 193 desferiu um chute alto no rosto da, agora, ex-campeã Ronda Rousey e nocauteou a lutadora considerada imbatível da categoria peso-galo feminino. Foi um nocaute que avisou o quanto o trabalho duro e a dedicação podem ascender alguém ao posto de estrela da noite para o dia.
Holm, para quem acompanha o boxe profissional, já era uma estrela da nobre arte, com um cartel de 33 vitórias, duas derrotas e três empates, sendo campeã mundial 18 vezes em três categorias diferentes, além de uma invejável cadeira cativa no Hall da Fama do Boxe, conquistada em 2013. Aos 34 anos, a americana de Albuquerque, Novo México, cujo pai é pastor, chegou ao patamar de campeã do maior evento de MMA do mundo. Sua técnica boxer em usar a envergadura para manter a distância e o jogo de movimentação com as pernas foram apenas alguns ingredientes para vitória.
Um chute plástico, característico dos melhores filmes de Jean-Claude Van Damme, foi o que rendeu a ela todos os holofotes da mídia especializada. E como se não bastasse o sucesso repentino, ao mesmo tempo, duvidas sobre a vitória pairaram no ar após uma marca de suplementos alimentares banidos pela Agência Mundial Antidoping (WADA) postar uma imagem da lutadora em seu site oficial. Não se admira que a polêmica ganhe força devido aos diversos casos de doping no esporte nos últimos anos, inclusive de lendas brasileiras, como Vitor Belfort e Anderson Silva. Mas, mais do que isso, a imagem que Ronda Rousey conseguiu instaurar auxiliou neste processo. Suas atuações em filmes, aliadas à postura de modelo, autoconfiança e técnica apuradíssima nas lutas renderam a Rowdy o status de insuperável, semelhante a Anderson Silva e a Fedor Emelianenko. É duro para os fãs e admiradores vê-la perder da forma que perdeu, sendo totalmente dominada em dois rounds pela desconhecida e "apenas" pugilista Holly Holm. Existe a necessidade do público em apurar quais fatores levaram a derrota da ex-campeã, mesmo que isso seja chamar Holm de desonesta e trapaceira.
Prefiro dizer que Ronda não é simplesmente uma lutadora, ela é uma marca completa e dinâmica. Tornou o MMA feminino competitivo, visado e o colocou no seu próprio espaço, algo inédito de se pensar a alguns anos atrás. Mas a fama de Holly Holm é mais do que justa. É fruto de muito suor e experiência. Gosto da sua maneira de se comportar, de superar as expectativas de todos e mostrar que o lado competitivo do esporte não é sinônimo de quem acusa mais, fala mais ou ridiculariza mais. Ela é educada, focada e, acima de tudo, respeita os adversários. Conseguiu, de maneira objetiva, relembrar às virtudes do boxe clássico e sua efetividade em combates. Sendo assim, apenas digo que aceitem a derrota de Ronda e a ascensão de Holly Holm, pois a filha do pastor não teve misericórdia.