Fernando Zuchetto Maisonnave deixou Porto Alegre em 2012 para acompanhar os Jogos Olímpicos em Londres. Não saiu mais da Inglaterra. Estabeleceu-se, cursou um MBA em Gestão do Futebol e iniciou um trabalho no Liverpool para a expansão internacional da marca do clube por meio das mídias sociais. Três anos depois, aos 34, o gaúcho virou uma referência interna em um setor que tem cerca de 70 funcionários espalhados pelo mundo para cuidar dos mais variados públicos ao redor do planeta.
Você está no Liverpool desde quando?
Janeiro de 2013. Coincidiu com a chegada do Philippe Coutinho, que veio da Inter de Milão, e aproveitamos o momento para iniciar essa expansão. Inicialmente, era focado no Brasil. Depois, em 2014, expandi minha atividade. Coordeno essas equipes internacionais de sites, Facebook, Twitter, Instagram. Aqui no Liverpool, essa operação é como se fosse terceirizada. São profissionais contratados nos próprios países. Aí no Brasil, nossa equipe tem quatro pessoas. Cerca de 70 pessoas ao redor do mundo. São muitos países, muitas línguas. Tem que ter relevância local. É uma operação bem complexa.
Como você analisa o trabalho das mídias sociais dos clubes brasileiros?
Na Europa, a grande maioria dos clubes, pelo menos nas ligas maiores, tem alguma rede social internacional, ativos internacionais fora do meio digital também. É um foco muito bem definido. Com relação ao Brasil, não se vê tanto esse movimento. Os clubes estão mais focados no mercado interno, mais no mercado local mesmo. Eu não vejo um movimento de clubes brasileiros trabalhando por uma internacionalização.
Quais são as principais diferenças entre os modelos europeu e brasileiro na área?
A principal diferença é que aqui temos realmente uma área totalmente dedicada a isso. Essas 70 pessoas trabalham no setor de mídias digitais, além mais 60 pessoas aqui na sede. É bastante gente trabalhando nas mídias digitais como um todo, redes sociais, canal de TV. No Brasil, está começando na área de marketing dos clubes, não virou um setor dedicado a trabalhar com isso, desenvolver novos mercados. Tenho certeza que aí no Brasil há condições de fazer um trabalho, mas tem que focar esforços e recursos.
Vocês têm algum medidor de resultados?
Temos vários. Alguns deles intangíveis, outros mais voltados a retorno financeiro. No Brasil, o perfil do Twitter tinha 7 ou 8 mil seguidores. Hoje está com 25 mil. O perfil no Facebook tinha somente 100 a 200 mil torcedores, hoje tem quase 900 mil brasileiros. O Brasil virou o sexto país internacional com mais seguidores do Liverpool, o primeiro das Américas, à frente de Estados Unidos e México. Outros retornos, mais ligados a números, são o maior número de vendas. Nos países que temos redes digitais, há uma maior tendência de compra. Abrimos lojas de produtos online em mercados na Ásia pelo retorno positivo.
Você crê que um projeto semelhante daria certo no Brasil?
Obviamente teriam que dar um passo do tamanho da perna. No caso do Grêmio e do Inter, poderia começar com os países mais próximos na América do Sul, Uruguai e Argentina, por exemplo. Especialmente em época que joga Libertadores. Para dar uma ideia, poderiam ter um Twitter oficial em espanhol pra ter uma interação maior com os torcedores sul-americanos. É importante sempre fazer uma comunicação de mão dupla. Apesar de a liga brasileira não ser tão internacionalizada, seria totalmente viável num âmbito mais dentro da América, expandindo depois para os Estados Unidos. O Inter está indo para uma pré-temporada nos Estados Unidos, seria uma oportunidade para ter uma iniciativa em inglês.
*ZHESPORTES