Roberto Firmino Barbosa de Oliveira é um desses milagres proporcionados pelo esporte. Depois de Neymar, talvez ele seja o principal jogador da nova Seleção Brasileira.
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Nascido na localidade de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, na periferia de Maceió, 23 anos atrás, Bebeto - o apelido de infância - conseguiu aplicar alguns grandes dribles na miséria. O primeiro deles foi sobreviver em um local que concentra boa parte dos homicídios da capital alagoana. Conforme os dados da ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, Maceió caiu da 5ª para a 6ª colocação das cidades mais violentas do mundo. No Brasil, ocupa a vice-liderança desse lúgubre ranking, perdendo apenas para a capital paraibana, João Pessoa. Em Maceió, a cada 100 mil habitantes, 72,91 morrem por homicídio.
Foto: CBF/DIVULGAÇÃO
No ano passado, a Guarda Nacional ocupou a Virgem dos Pobres, a pedido do governo alagoano, na tentativa de combater o tráfico de drogas. Aqui, o segundo drible de Firmino: fugir do lugar comum de ser recrutado pelos traficantes para ser aviãozinho - como ocorre com muitas crianças nas periferias brasileiras.
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A terceira finta de Roberto Firmino foi na mãe, Cícera, convencida que foi pelo filho a deixá-lo ingressar nos infantis do CRB. Entre os elementos de pressão do futuro Seleção Brasileira estava dormindo abraçado em uma bola de futebol velha e remendada. Jogava no Flamenguinho, um time da gurizada do bairro, quando foi convidado para a sua primeira transferência. Na base do Clube de Regatas Brasil, atuou por quatro anos, até ser analisado por um olheiro e indicado ao empresário carioca Eduardo Uram, que percebeu no menino magrinho e habilidoso uma mina de ouro.
Foto: CBF/DIVULGAÇÃO
Uram registrou Firmino na Tombense (MG), clube ao qual era ligado para a revelação e promoção de jovens atletas. Aos 16 anos, era chegada a hora de buscar novos rumos. Uram, que em 2008 dava as cartas no departamento de futebol do Figueirense, levou Firmino para o Orlando Scarpelli. Em Florianópolis, Roberto Firmino começou no sub-17. Mas os dois gols de bicicleta logo no primeiro treino com o novo time mostraram que a base perderia em breve o seu reforço para os profissionais.
- Em 15 minutos de Figueirense, ele marcou dois golaços. Já era um jogador fora de série, dedicado e trabalhador - recorda Hemerson Maria, atual treinador do Joinville e técnico do sub-17 do Figueirense em 2008. - O que faltava a Firmino era confiança. Ele chegou um pouco tímido. Mas até isso a Alemanha deu a ele. Hoje, é um atleta completo, que realiza bem todas as funções em campo. Além disso, a camisa da Seleção Brasileira não pesou em momento algum para ele. Está pronto para ter a visibilidade mundial que a Seleção dá a seus destaques - acrescentou Hemerson.
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A temporada 2009 começou para Firmino sendo eliminado na Copa São Paulo de Juniores pelo Inter - cuja estrela em ascensão era o meia Marquinhos, que depois rodou pelo futebol do Nordeste e hoje está no Santos. No segundo semestre, porém, foi integrado à equipe de cima. Apesar de um bom desempenho na Série B, não conseguiu ajudar o Figueirense a voltar para a elite: o clube ficou em sexto.
No ano seguinte, Firmino ganhou asas. Revelação da Segunda Divisão nacional, foi vice-campeão com o Figueirense, colocou o clube de volta à Série A e encerrou a sua meteórica passagem pela capital catarinense noivando com a modelo catarinense Larissa Pereira.
Foto: HEULER ANDREY/MOWA PRESS
Pois o guri nascido na periferia de Maceió de repente se viu obrigado a pronunciar duas palavras recheadas de consoantes: Hoffenheim e Baden-Württemberg. A primeira, o seu novo time. A segunda, o Estado onde passaria a residir, no sudoeste da Alemanha.
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Firmino foi o presente da direção do clube alemão ao técnico Ralf Rangnick, que havia perdido dias antes o atacante Carlos Eduardo (ex-Grêmio) e que meses depois ficaria sem o volante Luiz Gustavo. Carlos Eduardo havia sido vendido ao Rubin Kazan, da Rússia, por 17,5 milhões de euros. Luiz Gustavo sairia logo depois por 17 milhões de euros, vendido ao Bayern, de Munique _ Firmino foi adquirido por 3,5 milhões de euros.
- Quando fui para lá, o Ralf Rangnick, o treinador da época, gostava muito de jogadores brasileiros. Ele viu o Firmino também, que estava indo muito bem no Figueirense. O Hoffenheim é um clube espetacular, no qual todos se adaptam fácil, e tem o melhor centro de treinamentos da Alemanha. Creio que essa estrutura toda, esse carinho do clube, também tenha sido fundamental para o sucesso do Firmino - destaca Carlos Eduardo, que depois de passar pelo Flamengo voltou ao Kazan.
A Alemanha e Larissa transformaram Roberto Firmino. Desde que chegou ao Hoffenheim foi goleador do time. Começou com a camisa 22, agora veste a 10. Recebe 4 milhões de euros anuais e deverá ser vendido na janela de agosto por mais de 25 milhões de euros. Ao que tudo indica, o PSG é o destino - ainda que o Manchester City esteja de olho no meia-atacante alagoano.
Dos tempos de Figueirense, a tatuagem mais simples, com o seu sobrenome no braço esquerdo, ganhou companhia. Firmino tatuou todo o braço direito (com desenhos bem mais elaborados), além do peito, onde surge perto ao pescoço (supostamente) a frase "Deus é fiel"... em grego. Logo abaixo, o nome de sua filhinha: Valentina, ornada com uma coroa e um diamante.
Pois o nascimento de Valentina, em novembro passado, na Alemanha, foi o complemento de dias plenos para Firmino - e para Dunga. Aficionado pela seriedade e da organização do futebol alemão - onde jogou por duas temporadas no Stuttgart _, o treinador da Seleção Brasileira se informou sobre o seu comportamento dentro e fora de campo. Sobre o seu desempenho no Hoffenheim, Dunga já tinha conhecimento: Firmino é um dos líderes do time há pelo menos três temporadas e o líder técnico da equipe.
Além disso, após três convocações e dois gols em amistosos com a Seleção Brasileira (contra Turquia, Áustria e Chile, marcando sobre austríacos e chilenos), o meia-atacante ganhou a camisa 18 e a confiança de Dunga. Em recente publicação da Fifa, foi capa da revista oficial da entidade, com um fotão de seu rosto e a manchete: "O novo Brasil".
Na Copa América, em uma semana no Chile, a primeira competição oficial da Seleção após o desastre da Copa do Mundo, Firmino terá a chance de mostrar se ele é mesmo o novo Brasil.
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Confira a entrevista exclusiva com Roberto Firmino:
Você recebeu uma oportunidade com Dunga e acabou convencendo em cada chance. O que você tenta fazer de melhor para se manter na Seleção?
Trabalhar sério sempre. Não existe outra receita para as coisas darem certo na vida.
Você saiu cedo do país, ganhou sucesso na Europa e projeção na Seleção. Hoje você tem maior reconhecimento quando volta?
Claro que jogar na Seleção dá maior visibilidade. Você tem um reconhecimento maior nas ruas. Ganha ainda mais respeito.
Qual seu objetivo na Seleção?
Quero primeiro me firmar. Depois, conquistar títulos, porque a Seleção entra em todas as competições para vencer.
No esquema de Dunga, sem um centroavante de ofício, como um meia consegue atuar adiantado e suprir a ausência do 9?
Não tenho muita dificuldade em fazer a função. Me sinto bem atuando dessa maneira. Jogar ao lado de Neymar, então, fica mais simples. Ele é fora do comum.
Quais características do futebol europeu mais o ajudou?
O futebol europeu me ensinou muitas coisas. Me ensinou a jogar taticamente, a obedecer alguns conceitos, a ter um maior conhecimento do jogo. Eu cresci muito trabalhando na Alemanha.
Você mora há cinco anos no país que impôs a maior derrota ao Brasil em uma Copa do Mundo. Como foi a reação aos 7 a 1 entre os colegas de clube?
Qualquer derrota é ruim. Houve algumas brincadeiras, mas não passou disso. Foi tudo muito rápido.
Qual espaço você acha que já conquistou no grupo de Dunga?
Na Seleção Brasileira não tem espaço garantido. Você sempre tem que fazer o seu melhor. Sempre trabalhar firme e entender que nada está garantido.
Aos 18 anos, você deixou o Brasil para atuar em um clube que muita gente não conhecia. Quais seus próximos planos?
Tenho alguns planos para minha carreira. Sou muito bem orientado pela Rogon, a empresa que me trouxe para a Alemanha e me dá todo suporte para jogar com a cabeça tranquila. Eu faço minha parte dentro do campo e deixo que fora de campo eles cuidem de tudo.
Qual a emoção de vestir a camisa da Seleção?
R: A emoção é sempre muito forte. Desde pequeno você tem esse sonho de um dia vestir a amarelinha. E quando chega o dia, a emoção é grande. Todo jogo é a mesma coisa. Um sentimento muito bom.
O Dunga conversou com você antes da convocação? O que ele pede?
São conversas entre jogador e treinador. Prefiro deixar isso internamente.
Quem se destaca em competições costuma ganhar espaço para a Copa do Mundo. É o seu objetivo?
Disputar uma Copa é objetivo para todo jogador. Pela Seleção, então, se torna ainda mais especial. Mas ainda falta muita coisa para 2018. Vamos dando um passo de cada vez, trabalhando sempre forte para continuar a ser convocado.
Quem são os adversários mais fortes no caminho do Brasil na Copa América?
Essa será a Copa América mais difícil dos últimos anos. Nosso continente está com ótimas seleções. A Argentina é sempre perigosa. O Chile é forte e joga em casa. O Uruguai tem jogadores espalhados pela Europa e também uma boa seleção. A Colômbia tem sua melhor geração. O México sempre incomoda. Enfim, será uma competição muito difícil para o Brasil.
O Brasil é favorito ao título da Copa América?
Favoritismo só existe para vocês da imprensa e para o torcedor. Dentro de campo é diferente. Se você não der o máximo, o adversário passa por cima. Mas temos uma excelente Seleção e condições de sairmos vencedores.
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