O Campeonato Brasileiro inicia no dia 9 de maio, e colocará frente a frente os 20 times da elite do futebol nacional. Até lá, os participantes disputam - ou ainda buscam vaga - nas fases quentes dos estaduais e dos campeonatos regionais. Com duas exceções: Avaí e Atlético-PR, que brigam contra o rebaixamento nos Campeonatos Catarinense e Paranaense.
O que levou estes dois clubes, tão tradicionais em seus estados, a chegar nesta situação? Cada um teve seus motivos para começar 2015 assustando azzurras e rubro-negros. Veja por que Avaí e Atlético-PR começam o mês de abril na disputa dos Grupos da Morte e como isso pode se refletir no Brasileirão.
Avaí
De volta à Série A do Brasileirão após três anos na segunda divisão, o Avaí começou a temporada em alto astral. Mas isso durou pouco: o clube da Ressacada terminou a primeira fase do Catarinense na última colocação, com apenas uma vitória em nove jogos - foram quatro derrotas e quatro empates. O péssimo desempenho fez com que o time precisasse disputar o temido Quadrangular da Morte, para evitar o rebaixamento à Série B estadual.
E mesmo aí o Avaí está em situação complicada. Após quatro rodadas, de um total de seis, todos os clubes - estão na disputa Guarani de Palhoça, Atlético de Ibirama e Marcílio Dias - têm 6 pontos. O Avaí é segundo colocado pelos critérios de desempeate, e tem mais um jogo em casa e um fora.
Para Marcos Castiel, colunista do Diário Catarinense, a mudança na situação política avaiana explica os problemas do time neste início de 2015.
- O Avaí "faz coisa", como dizemos aqui. É um clube muito povão, que vai do céu ao inferno de um ano para o outro, e que inclusive já foi rebaixado no Catarinense, em 1993, um ano depois de ter sido campeão. E teve uma mudança grande na presidência após a morte do João Nilson Zunino, em dezembro de 2014, que foi presidente até 2013. Dono de um laboratório médico, ele tinha muito dinheiro e ajudava a bancar o clube, tinha capacidade gerencial muito grande. Com a sua morte, o clube perdeu a referência - explicou Castiel.
Para o jornalista, o novo presidente, Nilton Macedo Machado, não teve sucesso na tentativa de "reinventar" o Avaí.
- O clube ainda precisa entender o seu novo caminho. O Machado não é um cara que banque o clube. Assim que o Zunino morreu, a família dele cobrou uma dívida pelos empréstimos que ele havia feito, e a direção decidiu vender uma parte de um terreno ao governo estadual para conseguir dinheiro e pagar esse valor. Isso foi feito, mas aí o clube não teve como fazer contratações para o Catarinense.
Geninho não resistiu à má campanha do Avaí e deixou o cargo
Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS
Dentro de campo, os problemas também são grandes. Marquinhos, ex-Grêmio, ficou seis rodadas sem poder atuar devido a uma briga generalizada em um clássico contra o Figueirense no estadual do ano passado. Segundo Castiel, isso também influenciou nos maus resultados, que provocaram a queda do técnico Geninho e a contratação de Gilson Kleina para a sua vaga.
- A torcida está assustada, o time é frágil. O Marquinhos é tudo para o time, e quando ele voltou já era tarde. Também foi só agora que o André Lima desencantou. O Avaí nem cogita a queda no Catarinense, e precisaria pensar em muitas coisas se isso acontecer.
O jornalista destacou, contudo, que a expectativa para o Brasileirão é de aprimorar o grupo de jogadores - o que é necessário para evitar a queda à Série B na competição.
- Existe um projeto para o Brasileirão, com dinheiro guardado para investir. Não dá, por isso, para cravar que vá ser um desastre. Mas se fosse jogar com o time de hoje, sim, seria um dos rebaixados para 2016.
Atlético-PR
O Atlético-PR inicia, neste final de semana, a disputa do Quadrangular da Morte no Campeonato Paranaense. Como o clube que tem a Arena da Baixada - sede de jogos da Copa do Mundo 2014 - e que terminou o Brasileirão do ano passado em oitavo lugar chegou nesta situação, de brigar para não ser rebaixado no estadual pela segunda vez na história (já caiu em 1967)? A explicação, assim como no caso do Avaí, também tem a ver com política, mas de uma forma diferente dos catarinenses.
Desde 2013, a direção rubro-negra decidiu que o estadual seria sempre disputado com o time sub-23, para que a equipe principal pudesse aproveitar os primeiros meses do ano em uma longa pré-temporada. Deu certo naquele ano: o Atlético chegou à final da Copa do Brasil, em que foi derrotado pelo Flamengo, e garantiu vaga na Copa Libertadores. Em 2014, por conta da competição continental, os titulares entraram em campo cedo, mas novamente sem disputar o Paranaense.
Enderson Moreira assumiu o Atlético durante o Paranaense
Foto: Atlético-PR/Divulgação
A ideia era manter o planejamento para este ano, de acordo com Leonardo Mendes Júnior, jornalista da Gazeta do Povo, de Curitiba. Mas a disputa política na Federação Paranaense de Futebol acabou provocando mudanças na Baixada.
- Esse plano funcionou bem em 2013, quando o time fez seu primeiro jogo em abril. Era para ser assim de novo, e a estreia dos titulares seria nesta quinta, contra o Remo, pela Copa do Brasil. Assim, o Atlético foi à Espanha e disputou um torneio amistoso de pré-temporada. Mas a eleição na FPF teve participação do Atlético e do Coritiba, que apoiaram Ricardo Gomyde, e o Mário Celso Petraglia (presidente atleticano) prometeu que jogaria o Paranaense a valer se vencesse. Porém, o Hélio Cury foi reeleito. E mesmo assim o Petraglia mandou o time principal ir a campo pelo estadual - disse Mendes.
Para o jornalista, esta mudança de planejamento, feita durante o estadual, provocou os problemas enfrentados pelo Atlético-PR. O clube terminou a primeira fase em nono lugar, de um total de 12 times, com 11 pontos e apenas três vitórias em 11 rodadas. O desempenho fraco deixou o grupo na briga para não cair, junto com Rio Branco de Paranaguá, Nacional e Prudentópolis.
- Os jogadores chegaram da Espanha, tiveram um descanso e foram avisados na véspera que iam entrar em campo pela sexta rodada - explicou Mendes. - O Atlético foi obrigado a entrar em ritmo de competição sem ter se preparado adequadamente. Foi este o problema: houve um ritmo forte nos torneios amistosos, e o normal era desacelerar ao voltar, para entrar na melhor forma agora. Mas não: saiu disso direto para o Paranaense. Mudou tudo.
Os maus resultados derrubaram o técnico Claudinei Oliveira, que foi demitido. Para o seu lugar, foi contratado Enderson Moreira. E a preocupação atleticana, de acordo com Leonardo, não passa pela disputa no quadrangular contra o rebaixamento.
- A diferença técnica do Atlético para os outros três times é muito grande, e em termos de estrutura é incomparável. O Nacional e o Prudentópolis são semiprofissionais. O Atlético teria de fazer muita força para ser rebaixado. O clube, na verdade, já pensa no Brasileirão: está falando com Walter e quer formar um elenco para, no mínimo, ficar na mesma condição do ano passado.