Os estragos causados pelo doping de Anderson Silva não ficam restritos à saúde. Em um competidor do nível e da fama de Spider, eles afetam profundamente a imagem e o universo milionário de patrocínios que gira em torno dela. Algumas empresas, inclusive, determinam a devolução de dinheiro em situações semelhantes. No futebol, é comum a restrição contratual à prática de esportes radicais para evitar lesões.
- O atleta é uma marca, um produto, e deve se preservar. O doping é pior do que a maioria dos escândalos no esporte. O que uma empresa faz com um produto em crise, por exemplo? Recolhe do mercado e emite uma nota para tranquilizar os consumidores. O atleta deve pensar assim também e evitar problemas, ou a retirada dos patrocínios é natural - afirma o professor de marketing esportivo da ESPM Fernando Trein.
Para o especialista, Anderson Silva deveria se manifestar o quanto antes e reconhecer que errou para tentar recuperar a credibilidade (veja mais abaixo a declaração dada pelo Instagram). Ele teria ganho US$ 6 milhões no UFC 183 e o pagamento foi bloqueado pelo evento.
- Brigar com os fatos é muito pior. Cabe a ele dizer 'errei, não façam isso, me prejudicou'. Tentar negar é errado. Ninguém se sente bem quando é ludibriado - complementa Trein.
O lutador do Bellator Thiago Minu, que ministra aulas de jiu-jitsu e muay thai para jovens em Porto Alegre, entende que o caso de Anderson Silva ajuda a reforçar o estereótipo do lutador "bombado" e prejudica o desenvolvimento das artes marciais:
- A gente prega tanto que o MMA é saúde e o cara está tomando substância que faz mal? Isso é muito ruim para a gente. As pessoas começam a estereotipar que 'lutador tudo toma bomba'. Meus alunos comentaram 'bah, e o Anderson hein, que decepção'. Quando o adolescente começa a competir, o ídolo é seu farol.
Um ídolo sob suspeita
Não é exagero afirmar que Anderson ocupa um lugar de destaque no esporte ao lado de ídolos como Ayrton Senna e Gustavo Kuerten. Graças a ele, milhares de jovens passaram a acompanhar o MMA e procurar academias para aprender jiu-jitsu e muay thai. Spider, com carisma, irreverência e ousadia, tornou-se sinônimo de sucesso e determinação, principalmente entre os jovens.
Estrela maior do UFC, caminhava para encerrar a carreira em alta após derrotar, em 31 de janeiro, o americano Nick Diaz na edição 183 do torneio, na mesma Las Vegas que o viu despontar. Porém, o que seria um retorno triunfal transforma-se, a cada divulgação dos testes de antidoping, em frustração para seus fãs.
Silva ficou 13 meses parado por fraturar a perna no embate anterior, contra Chris Weidman, e ao que tudo indica precisou de drogas para retomar a forma física. Em dois exames feitos pela Comissão Atlética de Nevada, foram detectadas as substâncias drostanolona e androsterona, aplicadas para aumento e fortalecimento dos músculos.
Ele foi suspenso temporariamente e aguarda julgamento. Em vez de ser lembrado pelo talento, Spider - assim como aconteceu com o ciclista Lance Armstrong - pode entrar para a história pela porta dos fundos, a despeito das 34 vitórias em 40 lutas e a maior sequência de defesas de título consecutivas - 10.
O UFC já anunciou que investirá milhões de dólares no aperfeiçoamento da prevenção e fará testes surpresa. Além disso, aumentará a punição para quem descumprir as regras, que hoje não passa de dois anos.
O que disse Anderson Silva no Instagram:
Não sei do que me desculpar, pois ainda aguardo o resultado dos exames e a análise dos médicos e especialistas que trabalham para revelar a verdade. Todos os remédios que tomei desde a minha fratura estão sendo analisados. Busco a verdade tanto quanto todos que se surpreenderam com os resultados divulgados. Em 18 anos de carreira, nunca tive problemas com exames. Sempre joguei limpo. Nunca fui trapaceiro. Dentro e fora do octógono jamais vacilei no respeito aos princípios que sempre me pautaram. Nunca usei qualquer substância para aumentar minha performance nas lutas. Amo o que faço e jamais poria em risco o que levei tanto tempo para construir. Acho injusta a pressa que alguns têm em me condenar. O tempo que se leva para destruir uma reputação é infinitamente menor do que aquele empenhado em construí-la. Sou o maior interessado no esclarecimento desse episódio.
Veja momentos marcantes da carreira de Spider
Vitória no UFC em 2006 e primeiro cinturão dos pesos médios:
Nocaute em Vitor Belfort com um chute no UFC 126:
Anderson Silva quebra a perna em luta contra Chris Weidman em 2013:
Vitória no Cage Rage 8, em 2004, contra Lee Murray: