No dia 29 de dezembro, a última segunda-feira de 2014, quase 33ºC numa tarde de sol, um grupo de jogadores sem-clube que atua no time do Sindicato dos Atletas renunciou às festas de fim de ano e seguiu em viagem para um jogo-treino contra o Brasil, em Pelotas.
São jogadores há meses sem emprego, sem salário e quase sem perspectiva de colocação. Participam de caravanas com a aflita esperança de serem requisitados por empresário, olheiro ou técnico. Muitos foram da base de Grêmio e Inter e seguiram em romaria por clubes menores.
Alguns conseguiram emprego, outros estão a ponto de desistir. Além do amistoso em Pelotas, ZH acompanhou esses profisisonais a Lajeado e a Novo Hamburgo. A reportagem revela o drama que espelha a situação de cerca de mil jogadores no Estado.
Com um sanduíche para enfrentar o Brasil
O ônibus do time do Sindicato dos Atletas parte para o jogo-treino em Pelotas às 13h da Praça da Matriz, na frente da Assembleia Legislativa, centro de Porto Alegre. São 16 profissionais que terão contra o Brasil um teste com esperança de ser redescoberto na casa do time recém alçado à Série C do Brasileirão.
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A viagem é em ônibus confortável, de dois andares, ar-condicionado e poltronas-leito, e essa parece ser a única comodidade de seus passageiros. Quem paga o deslocamento é o clube anfitrião - R$ 3 mil, até Pelotas. Os jogadores nada recebem. Ganham a vitrina e o jantar logo depois. Carregam a própria chuteira na mochila.
Na estrada, a delegação com média de 25 anos segue calada e enterrada na poltrona ou ensimesmada no celular, com fone da moda ao ouvido.
Passadas duas horas na BR-116, na altura do município de Cristal, um assessor do Sindicato começa a preparar o lanche no corredor do ônibus. Gerson Oliveira monta uma pilha de sanduíches de presunto e queijo e distribui a refeição e guaraná aos atletas.
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Quem comprou o sanduíche e os frios no supermercado foi o próprio técnico. Milton Pedrozo da Silva, o Miltinho, há 15 anos um faz-tudo do sindicato, acerta os jogos-treinos, arrebanha os jogadores e coloca o time em campo.
- Temos que dar o sangue - conclama Miltinho, enquanto se encaminham para o gramado do Bento Freitas. - Imagina ganhar aqui do Brasil? Vão querer saber quem são vocês, quem fez o gol, pode aparecer emprego.
Os goleiros Jamilton, ex-Remo, no primeiro tempo, e Gabriel, ex-Guarany de Camaquã, no segundo, seguram o ímpeto do time do Brasil, que faz o primeiro trabalho coletivo da volta das férias.
Com a experiência do zagueiro Alex Xavier, ex-Grêmio, a segurança do volante Patrola e o talento de Nicholas, que já foi da seleção da Nike no Brasil, o time do sindicato consegue equilibrar a desvantagem. Resultado final: o time do sindicato perde por 2 a 0.
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