O homem que jogou nas três casas do Grêmio. Assim pode ser definido Milton Martins Kuelle, que aos 81 anos fala com orgulho da trajetória que teve no clube gaúcho, que completou 111 anos de história, nessa segunda-feira (15).
Por ter defendido o tricolor entre o começo da década de 1950 e meados dos anos de 1960, ele atuou nos tempos da Baixada, jogou no Olímpico e foi convidado a dar o pontapé inicial na inauguração da Arena, em 2012.
Em entrevista ao programa Dose Dupla, nessa segunda (15), o ex-atleta comentou sobre episódios de racismo registrados no jogo entre Grêmio x Santos, pela Copa do Brasil. Milton Kuelle lembrou da época em que atletas negros não era admitidos no clube gaúcho. Destacou, sobretudo, que uma das grandes vitórias que vivenciou na carreira foi justamente na luta contra o racismo.
"Uma das conquistas, muito importante para mim, das quais participei foi a quebra do racismo que existia no clube. O Grêmio não aceitava jogadores de cor. Apareceu o Tesourinha lá, que eu joguei com ele e tive uma amizade muito grande. Então, marcou muito na minha vida. Eu ingressei no Grêmio nos anos 1950, que era uma tradição germânica. Um Grêmio que se postulava imune a qualquer cidadão de cor. Isso nos incomodava, como jogadores, pois a gente ouvia frases ofensivas sobre a postura do clube. E um dia apareceu alguém, o Saturnino Vanzelotti, que foi presidente, que quebrou essa hegemonia da raça branca para introduzir uma figura extraordinária como jogador de futebol e como pessoa. Osmar Fortes Barcellos, o Tesourinha. Um homem de uma qualidade inigualável, futebolisticamente falando e de um caráter também, que eu tive a honra e o prazer de jogar com ele", disse Milton Kuelle.
Tesourinha chegou ao tricolor em 1952 e ficou conhecido por quebrar um tabu histórico de ter sido o primeiro atleta negro a ter destaque na era profissional do clube. "Esse ano marcou muito a minha carreira e a história do Grêmio", completou.
Ouça a entrevista de Milton Kuelle ao Dose Dupla: