Há uma Olimpíada que rola fora das arenas de competições. É a dos sem-ingressos, pessoas que estão em Londres para os Jogos sem bilhetes e por isso inventam as mais variadas maneiras de sentir a vibração do maior evento esportivo do mundo. Vale deitar no chão para assistir a um telão, encarar uma fila gigante para ver o Parque Olímpico de longe ou vasculhar jornais para descobrir onde passará a maratona.
O mecanismo adotado por Londres é rígido com quem não tem tíquetes. Se a pessoa não pagou para entrar, já fica em uma barreira ao sair da estação de metrô mais próxima da arena. Só passam credenciados ou com ingresso na mão. A regra é clara, gritada em megafones. Por isso, ao menos que drible a segurança, é difícil até chegar em frente aos locais das provas.
Para sentir o gostinho da festa, pessoas vão para as proximidades das arenas com cartazes atrás de tíquetes para qualquer prova de qualquer país.
- Estou há um ano tentando comprar no site. Nunca tem. Quando encontro, não consigo concluir a compra - disse o inglês Thomas Lourence, de 24 anos, enquanto segurava uma plaquinha com o título "compro tíquetes".
Quem não conseguiu bilhetes cria maneiras para sentir, mesmo que por tabela, o clima da Olimpíada. Pelo shopping de Stratford é possível chegar nas grades laterais do Parque Olímpico. Turistas se penduram para ao menos fazer uma foto com o painel de London 2012 ao fundo.
- Fui deixando para última hora e não consegui ingresso. Mas não posso voltar para casa sem uma foto daqui - contou Wiltrek Rujjer, turista polonês de 39 anos que está em Londres com a mulher.
Há dezenas de locais na capital inglesa para quem não consegue entrar nas arenas. O mais movimentado tem sido o Hyde Park, onde foram instalados quatro grandes telões. Clubes e teatros também criaram uma programação para transmitir as competições e estão ganhando dinheiro com isso. E os pubs com televisão estão cheios desde o início dos Jogos.
Telões no Hyde Park para o público
O Hyde Park, na região central de Londres, transformou-se no principal consolo para os sem-ingressos. No local há quatro grandes telões em uma área que lembra um festival de rock, com bares, barraquinhas de comida e banheiros químicos. Além de ver as provas, o público ainda pode assistir a shows todos os dias. E melhor, tudo de graça.
- Aqui é nossa Meca. Pelo o menos a gente não se esquece que está na mesma cidade da Olimpíada - disse o brasileiro Lucas Salazari, de 22 anos, que estuda inglês em Londres há sete meses e mantém a esperança de conseguir tíquetes.
Os telões geralmente transmitem provas que envolvam atletas do Reino Unido. Mesmo assim, reúnem muitos estrangeiros que também não conseguiram bilhetes para as competições.
Para quem quer levar uma recordação da Olimpíada, há uma loja com produtos oficiais.
Mirante para espiar as instalações
Quem não consegue entrar no Parque Olímpico porque está sem ingresso encontrou uma maneira para dar uma espiada nas instalações. Uma loja no shopping Westfield está cobrando ingresso de 2 libras (R$ 6,40) para as pessoas chegarem ao terraço do terceiro andar. Dali, mesmo que de longe, é possível ver o Estádio Olímpico e o Parque Aquático. A vista não é grande coisa, mas dá para fazer umas fotos. A fila para entrar na loja, entretanto, é gigantesca. É preciso esperar, em média, uma hora.
Perto dali, bem ao lado do Parque Olímpico, um bar instalou telões e cobra também 2 libras de entrada para quem quisesse sentar nas cadeiras preguiçosas.
- Pelo menos estamos aqui perto dos atletas. Dá para sentir o gostinho da Olimpíada. Às vezes até escuto os gritos de lá de dentro - contou o espanhol José Martinez, de 47 anos, que ainda na sexta-feira tentava comprar tíquetes para o atletismo.
Há ingressos que permitem aos espectadores entrar somente no Parque Olímpico, sem ter acesso às arenas, mas não estão mais disponíveis para venda.