Quando terminaram os três tempos do jogo contra o colombiano Dimitri Roa, Guilherme Amaral Toldo se deixou levar pelo chão escorregadio do ginásio chileno onde ocorria o Pré-Olímpico das Américas e caiu com o rosto virado para o piso. Ficou deitado por alguns segundos, olhando o chão, pensando. Só depois levantou para cumprimentar o adversário. Aos 19 anos, o esgrimista gaúcho conquistou, naquele instante, uma vaga em Londres.
- Ainda não absorvi - confessa.
A medalha de ouro na competição, vencida no domingo passado, comprova que ele realmente irá à Olimpíada. Guilherme, 1m77cm, pratica esgrima desde 2000, e muito por incentivo dos pais, Paulo Augusto e Ana Beatriz Toldo, 53 e 46 anos, respectivamente. Ambos formados em Educação Física, o casal sempre fez questão que os filhos - além de Guilherme, têm Ana Luiza, 14 anos - adotassem um esporte.O jovem passou por futebol, vôlei, natação e tênis, mas encontrou na esgrima a opção ideal.
- Exige menos do físico e mais da inteligência, da estratégia.
Para assegurar os bons desempenhos recentes, treina todos os dias, de três a quatro horas, além de fazer exercícios de reforço muscular. Dos Jogos Pan-Americanos, em Guadalajara, no ano passado, trouxe uma medalha de bronze e um sombrero. No apoio incansável dos treinos no Grêmio Náutico União está o técnico Alexandre Teixeira, mesmo de João Souza, que esteve na Olimpíada de Pequim, também com o florete.
Na Olimpíada as disputas são divididas por arma e sexo. Guilherme optou, desde o início dos treinos, pelo florete - as outras armas são espada e sabre. Como o quadro de jogos, todos em mata-mata, é montado de acordo com o ranking mundial, o esgrimista irá participar de todas as competições possíveis que somem pontuação até a realização do Jogos. Na sua lista de opções estão passagens, até o final de julho, por torneios em Tóquio, Seul, São Petersburgo e Havana.
Estudante de Ciências Biológicas da PUCRS, o porto-alegrense tem uma rotina puxada, por causa dos treinamentos e das viagens para as disputas. Neste ano, passou do começo de janeiro até o meio de abril na Itália, aprendendo mais sobre o esporte no país, que, de acordo com ele, é o melhor do mundo na esgrima. O Brasil ainda não é um exemplo na modalidade. Até por isso, um dos projetos é morar na Europa, talvez no próximo ano, para aprimorar seus conhecimentos.
- A esgrima é muito nova por aqui, por isso gosto de me inspirar nos italianos.
Guilherme sonha acordado com a medalha olímpica. Também já pensa em como será disputar uma Olimpíada em solo brasileiro, embora tenha um pé atrás quanto à organização no Rio, em 2016. Mesmo jovem, tem consciência do que o levou ao topo tão cedo:
- Não tenho medo de arriscar. Por isso, acabo me expondo, mas prefiro isso a depois ficar pensando que poderia ter feito algo que não fiz.