Júlio César Jacobi é um sobrevivente do gol mil de Romário, mas, cinco anos depois, não conseguiu escapar de outro baixinho, Lionel Messi. Goleiro do Granada, o brasileiro entrou para a história no jogo em que o argentino se tornou o maior goleador dos 113 anos do Barcelona.
Catarinense de Guaramirim, 25 anos, em 2007 vestia a camisa 1 do Botafogo na semifinal da Taça Rio, contra o Vasco. Naquela partida, aos vascaínos pouco importava o resultado no Maracanã. Todos queriam comemorar o milésimo gol de Romário para poder dizer para o resto da vida "eu estava lá". Faltava só um. Apesar de ter sofrido quatro gols nos 4 a 4, Júlio César comemorou: a classificação, nos pênaltis, e o fato de estragar a festa de Romário. Mas Messi não está com 41 anos, tem 24 anos e vive a melhor fase da carreira em um time incrível.
Coube a Júlio César parabenizá-lo e entregar-lhe a bola com que sofreu cinco gols (o placar ficou em 5 a 3), três do craque argentino. Caçula de uma família de goleiros, Júlio César tem contrato com o Granada até o final da temporada. Depois deve retornar para o Benfica, de Portugal, clube com o qual tem vínculo até 2014. De seu apartamento, na Andaluzia espanhola, ele conversou com Zero Hora por telefone. Confira a entrevista:
Zero Hora - Antes do jogo contra o Barcelona, você sabia que poderia entrar para a história?
Júlio César - Pior que eu não sabia.
ZH - E como é se tornar o goleiro do recorde de Messi?
Júlio César - Pô, goleiro é assim, né, só entra para a história quando toma gol dos caras. Pelo menos em 2007 eu tive sorte, quando o Romário estava para fazer o gol mil, eu joguei pelo Botafogo contra o Vasco, e ele não conseguiu marcar. Daquela eu me livrei, mas ontem (terça-feira) o cara (Messi) estava impossível.
ZH - Dos três gols que sofreu, em dois você ficou cara a cara com o Messi. Tem como fazer alguma coisa?
Júlio César - A única coisa que te vem à cabeça é diminuir o espaço o mais rápido possível, porque como ele é muito inteligente e tem uma habilidade impressionante, consegue fazer coisas numa fração muito rápida de segundo. Tentei diminuir, mas não tem jeito, o Messi é muito rápido.
ZH - O que os jogadores do Granada conversaram após o jogo?
Júlio César - A gente comentou que o Guardiola tem toda razão. O Messi não faz gol, só faz golaço. Ontem (terça-feira) ele fez três pinturas.
ZH - Você foi mais uma vítima dos gols dele encobrindo o goleiro, que têm se tornado comuns. O jeito é não sair mais do gol?
Júlio César - Se eu falar para não sair, ele vai fazer o gol do mesmo jeito, vai entrar com bola e tudo ou dar um canhonaço. Cavar que nem ele eu nunca vi, é único. Num espaço tão curto (entre goleiro e gol), ele conseguiu fazer a bola subir e baixar tanto. Ele é um ET do futebol.
ZH - Qual característica do Messi mais dificulta o trabalho dos goleiros?
Júlio César - A velocidade com qom que ele resolve a situação e a tranquilidade. Às vezes, ele está na frente do goleiro e parece que está brincando com a bola.
ZH - Foi você que entregou a bola para Messi ao final do jogo? Na Europa, quem marca três gols leva a bola.
Júlio César - Ele deve ter uma coleção na casa dele, então. Quando o juiz apitou, eu estava com a bola na mão. Ele olhou para mim e veio na minha direção. Entreguei a bola para ele, dei os parabéns e desejei sorte. Ele sorriu, me agradeceu, e também me desejou sorte. Foi bacana.
ZH - Pretende guardar alguma recordação do jogo?
Júlio César - Para a gente que é goleiro sofrer gol é complicado, mas da forma que foram os gols, do cara que é o melhor do mundo, eu tenho de guardar uma recordação, né? A princípio, vou guardar as luvas. Se o goleiro do Albacete (Raúl Valbuena), que sofreu o primeiro gol, levou a bola para casa, eu vou guardar as luvas com carinho.
ZH - Aonde o Messi pode chegar?
Júlio César - Ele ainda vai ganhar mais umas três ou quatro Bolas de Ouro. Eu não conheço ele fora de campo, mas dentro é muito humilde, só quer jogar a bola dele, o futebol dele e ir pra casa. Admiro muito ele por essa humildade.