No início deste mês, a União Europeia divulgou a lista de países em que os cidadãos poderão viajar para fazer turismo. Dentre as 14 nações citadas, apenas uma da América do Sul: o Uruguai. Para entender a decisão, basta comparar os números apresentados neste continente durante a pandemia de coronavírus. Enquanto os uruguaios contabilizam apenas 28 óbitos — sendo o último registro no dia 1º de julho —, a Argentina chegou aos 1,5 mil mortos, Equador e Colômbia já passaram dos 4 mil e o Brasil dos 60 mil. Este cenário encorajou o governo de Luis Lacalle Pou a se oferecer para sediar os jogos que restam e concluir a Libertadores de 2020.
— É tudo muito recente. Não temos um sistema de disputa ainda, porque a própria Conmebol está trabalhando isso como uma possibilidade, mas ainda está bastante longe de acontecer. Sei que houve contatos entre o governo do Uruguai, mais precisamente de Álvaro Delgado, secretário do presidente (uruguaio), com Alejandro Domínguez (presidente da Conmebol) e outras pessoas mais — explica Alfonso Irrazabal, repórter da Rádio Nacional, de Montevidéu. — No caso de acontecer, viriam todos os clubes e se jogaria no estilo de Copa do Mundo, sem partidas de ida e volta, como é de costume. Mas isso não é oficial — completa.
Se as estatísticas do controle sanitário transformam o Uruguai em potencial sede, resta saber se o país teria como oferecer uma estrutura adequada para receber os 32 clubes participantes do torneio continental — entre eles, Grêmio e Inter, componentes do Grupo E.
— Com relação à estrutura hoteleira, creio que estamos capacitados, porque estamos acostumados a receber pessoas durante a temporada de turismo. Alguns hotéis de bom nível, inclusive, têm academias que podem servir às equipes de futebol. Para os treinamentos, todas equipes da primeira divisão contam com seu próprio complexo esportivo. Então, me parece que isso não seria um problema. Além disso, tem também o Complexo Celeste (CT da seleção uruguaia), que tem mais de quatro campos. Para mim, a discussão está nos estádios em que se poderá transmitir o torneio — argumenta Fiorella Pose, repórter do jornal El País.
Um dos fatores que contribui para o otimismo dos uruguaios está no fato de, em 2018, o país ter sediado o Mundial sub-17 feminino. Naquela ocasião, 16 equipes realizaram 32 partidas no total, em três estádios diferentes: Profesor Alberto Suppici, em Colônia de Sacramento, Domingo Burgueño, em Maldonado, e Charrúa, em Montevidéu, que geralmente é utilizado para jogos de rúgbi.
— Creio que se colocou a estrutura à prova. Esse é um ponto a favor para que se jogue aqui. Estamos falando agora de realizar jogos em meio a uma pandemia, mas é importante ressaltar que se realizou um evento Fifa e penso que a Libertadores poderia perfeitamente se realizar aqui — opina ela.
Estádios
Com mais da metade da população vivendo em Montevidéu, o Uruguai também tem seu futebol muito centralizado na cidade. Atualmente, dos 16 clubes que disputam a elite nacional, apenas três ficam no interior do país (Plaza Colonia e Deportivo Maldonado e Cerro Largo, de Melo). Por isso, é natural que a capital disponibilize uma maior quantidade de estádios.
— O Estádio Luis Franzini, do Defensor, se usa para a Copa Sul-Americana. O Liverpool e outros times jogam ali. Mas o tema não é mais a capacidade do estádio, porque vai se jogar sem público. No ano em que o Cerro jogou a Copa Sul-Americana, não lhe permitiram que jogasse no Luis Trócolli, seu estádio. E não foi por falta de capacidade, mas por conta da iluminação. A Fox Sports (detentora dos direitos de transmissão por televisão no Uruguai) disse que não transmitiria lá. Em Montevidéu, também tem o Parque Viera (estádio do Montevideo Wanderers), onde o Fénix jogou. Então, penso que, se considerarem o Uruguai como sede, estes estádios pequenos podem ser levados em conta para receberem jogos de "equipes menores". Mas isso é uma opinião pessoal — argumenta Fiorella.
Para Irrazabal, Montevidéu tem três escolhas óbvias: o recém-inaugurado Campeón del Siglo, do Peñarol, o Parque Central, do Nacional-URU, e o tradicional Centenário, construído para sediar a Copa do Mundo de 1930. Porém, alguns outros viriam do Interior.
— Depois teríamos o estádio do Deportivo Maldonado, perto de Punta del Este, que poderia ser outra das opções. E também teria Rivera. O problema é que Rivera está na fronteira seca com Livramento, onde está todo o tema do coronavírus e não sei se gostariam de levar as partidas para lá. Enfim, isso é muito recente. Teríamos que esperar para ver a possibilidade certa — conclui o repórter.