Medellín, Colômbia. Quase 50 mil pessoas olham fixamente para o campo, com um resquício de esperança. Em 120 segundos tudo acaba. São 49 minutos do segundo tempo e a implacável lei do mata-mata está prestes a ser aplicada ao Atlético Nacional, equipe de melhor campanha na primeira fase da Copa Libertadores.
Muitos podem pensar que é injusto um time ser eliminado vencendo pela mesma diferença de gols do que o rival, mas, para ganhar a Copa, não há espaço para choro. É assim e pronto.
Então, num balão para a área, o imponderável acontece. Orlando Berrío, depois de uma cabeçada, surge na frente do goleiro Sebastián Sosa para marcar o gol redentor e mandar para casa o bravo Rosario Central, que resistiu até o último segundo a uma pressão quase insuportável. Reparem nas imagens: o Estadio Atanasio Girardot parece que vai desmoronar. Ele explode numa catarse coletiva poucas vezes vista no futebol. Seguranças, crianças, velhos, mulheres e até os descendentes de Pablo Escobar se abraçam e pulam. É impossível conter a emoção coletiva que paira naquele canto da América Latina.
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Transtornados, os jogadores argentinos partem para cima dos colombianos. No fundo, um grito ensurdecedor anuncia que o milagre acaba de acontecer. Em casa, acompanhando o jogo ao vivo, lembrei daquele Inter e Estudiantes em La Plata, quando Giuliano apareceu no meio da fumaça para encaminhar o bicampeonato, e tive vontade de sair correndo e ir até a Colômbia celebrar a classificação. Fiquei imaginando a cidade de Rosario, os foguetes estourando e todas as TVs ligadas – o Newell's Old Boys nunca foi campeão da América e devia estar secando demais.
A Libertadores tem uma mística difícil de explicar. Ela mexe com os sentimentos mais íntimos dos apaixonados pelo futebol. Grandes e épicos jogos também acontecem na Champions League, mas lá, convenhamos, falta sal. Quem, em sã consciência, iria comemorar um gol de Berrío se levantando da cadeira e batendo palmas? Por mais que os melhores do mundo estejam na Europa e que o futebol do Velho Continente seja praticamente um espetáculo, eu prefiro muito mais a Libertadores. Por causa de partidas como a desta quinta e por causa de gols como o de Giuliano.
Sim, somos passionais e somos capazes de largar tudo por uma noite de Copa. E daí? Se eu pudesse escolher, trocaria qualquer final da Champions League para estar no meio daqueles colombianos e presenciar aquele gol. Isso é o futebol.
*ZHESPORTES