O sujeito afável que atende o telefone na cidade de Monterrey, distante 10,4 mil quilômetros de Porto Alegre, é o responsável por tornar o Tigres o adversário do Inter na semifinal da Libertadores - a delegação chega à Capital na noite de domingo.
O engenheiro Alejandro Javier Rodríguez Miechielsen tem 75 anos e pela segunda vez preside o Tigres UANL - períodos que, somados, atingem 10 anos. A sigla, que também é o sobrenome do clube, significa Universidad Autónoma de Nuevo León. O clube foi fundado em 1960, da junção do Jabatos (Javalis, em espanhol) com a universidade (Nuevo León é o Estado, que tem por capital a cidade de Monterrey). Como o mascote da universidade era um tigre, ganhou o nome de... Tigres.
Com Alejandro Rodríguez, a equipe mexicana começou a surgir no cenário sul-americano, ingressando na Libertadores de 2005. Essa é a quarta Libertadores do Tigres. Jamais foi tão longe e sonha com o título, o que daria ao clube a maioridade no continente e faria do Tigres o primeiro time mexicano a vencer a Libertadores.
Nessa entrevista a Zero Hora, o presidente conta que levou a visão empresarial ao Tigres. Hoje, o clube é ligado à Universidade, mas não depende financeiramente dela. Além de ex-reitor da UANL, Rodríguez construiu a carreira profissional ligado à Cemex, a gigante mexicana do cimento. Diz que os investimentos feitos para a semifinal contra o Inter foram supervalorizados pela imprensa local e se mostra muito bem informado sobre o Inter. Em uma frase, resume o sentimento de seu clube para encarar a fase decisiva da Libertadores:
- Aqui, fazemos o que a torcida quer. Perguntamos no começo do ano o que eles preferiam: ganhar o campeonato nacional ou a Libertadores. Eles pediram a Libertadores. Temos os pés no chão, mas nossa gente sonha com esse título.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
O Inter terá pela frente o adversário mais difícil que poderia, afinal o Tigres fez a segunda melhor campanha da Libertadores, atrás somente do Boca Juniors.
Ao contrário: nós é que teremos o adversário mais duro que poderíamos encontrar. O Inter é que um rival muito grande para nós. Essa é apenas a nossa quarta vez no torneio (em 2005, caiu para o São Paulo, nas quartas de final; em 2006, perdeu para o Libertad nas oitavas e em 2012, parou na pré-Libertadores, para os chilenos do Unión Española). Sempre quisemos fazer um bom papel. Queremos fazer história, sim, mas teremos pela frente um time com tradição e títulos em Libertadores.
Há um sentimento de euforia entre os torcedores do Tigres, com a possibilidade de chegar à final?
A nossa torcida está sonhando com essa semifinal.
O investimento do Tigres para a semifinal contra o Inter foi pesado, cerca de R$ 75 milhões. É uma fortuna para o atual cenário do futebol brasileiro, por exemplo.
É um exagero da imprensa mexicana. Não falo sobre valores. Mas a cada final de torneio, tentamos robustecer nosso elenco. Contratamos cinco jogadores, é verdade (Jüergen Damm, André-Pierre Gignac, Javier Aquino, Ikechukwu Uche e Jairo González), mas perdemos outros cinco (Alan Pulido, Hugo Rodríguez, Jonathan Bornstein, Darío Burbano e Alberto Acosta). Tivemos a sorte de contratar jogadores com êxito na Europa, como o francês Gignac. Precisávamos dar maior solidez para a equipe, pensando não apenas na Libertadores, mas para a Concachamps e para a nossa próxima liga nacional.
Rafael Sobis é o espião do Tigres para assuntos de Inter?
Rafael é um excelente ser humano e uma pessoa muito agregadora no vestiário. Não precisamos de espiões, pois temos um departamento de informações. Chamamos de Departamento de Inteligência. Já assistimos a todos os jogos do Inter na Libertadores e no Brasileirão. Nossos jogadores têm assistido aos vídeos do Inter até mesmo em nossos deslocamentos de ônibus, em viagens. As derrotas para Sport e para Atlético-MG foram duras, mas ocorreram muito pelos desfalques. Sabemos que o Inter está recuperando todo o seu time para a semifinal da Libertadores. E que chegará com força total para nos enfrentar nos dois jogos. Essas derrotas do Inter no Brasileirão não representam nada para nós. Estamos cientes da força que enfrentaremos.
Se o Inter pós-Libertadores vai mal, o Tigres tirou férias, começou a pré-temporada e realizou apenas um amistoso. Os dois times tiveram prejuízos com o recesso no torneio?
Não creio. Quero os dois times completos, quero ver um espetáculo de futebol. Acho que os dois chegarão bem à semifinal. Temos os pés no chão, vamos jogo a jogo. É claro que queremos ganhar em Porto Alegre, mas vamos com calma. Estamos vivendo muito esse jogo contra o Inter. Chegaremos a Porto Alegre na noite de domingo, em um voo fretado. Vamos treinar na segunda-feira e na terça aí. Queremos sentir o clima da cidade, entrar logo nessa decisão.
*ZHESPORTES