Os quatro torcedores que assistiram à vitória do Corinthians sobre o Millonarios na noite de quarta-feira, no estádio do Pacaembu, em São Paulo, tinham apenas a intenção de apoiar o time na Libertadores. Mas o fim da história pode ser bem diferente.
Amparados por uma decisão da Justiça comum - que, segundo a Constituição, não pode ser acionada até que se tenham extinto todos os recursos possíveis na Justiça Desportiva -, eles descumpriram a punição aplicada pela Conmebol ao clube: o Corinthians deverá jogar sem torcida até o final da competição, por conta do incidente com um sinalizador que causou a morte do torcedor boliviano Kevin Espada, 14 anos, na partida contra o San José-BOL em Oruro, na semana passada. Sendo assim, quando for mandante, o time paulista atuará de portões fechados, sem torcida. Quando for visitante, nenhum corintiano poderá entrar no estádio dos donos da casa. Ainda há possibilidade de o clube paulista reverter a decisão da Conmebol.
Ontem, os advogados do Corinthians tentaram convencer os quatro torcedores a não entrarem no Pacaembu, temendo uma nova punição à equipe pelo descumprimento. Em vão.
- Tentamos demovê-los. Achamos que isso não trará nenhum problema para o clube, mas há o risco. E, se há o risco, preferíamos que não entrassem. Pelo Corinthians, não entram. Mas eles têm uma liminar que lhe dão o direito - disse o advogado do clube, Luis Fernando Santoro, pouco antes do início da partida.
Os torcedores tinham ingressos para as cadeiras numeradas do estádio, ao custo de R$ 300. Com os descontos do programa sócio-torcedor do Corinthians, cada um saiu por R$ 217,50. Um dos corintianos chegou a dizer que exercia o seu direito de consumidor, que comprara o ingresso há meses e não abriria mão de entrar no estádio. Segundo o advogado do clube, a Justiça teria concedido nove liminares para que torcedores pudessem entrar no estádio, mas as outras cinco pessoas não apareceram no Pacaembu.
Interferência da Justiça comum preocupa CBF
O fato de as liminares terem sido concedidas aos torcedores corintianos pela Justiça comum preocupa ao Corinthians e também à CBF. Há o temor de que a Conmebol informe a Fifa sobre a interferência, o que pode gerar uma nova punição.
Os advogados do clube temem, ainda, novas liminares para os próximos jogos, o que pode complicar ainda mais a situação. Eles tentarão pressionar a Conmebol para que o processo seja julgado o mais rápido possível, a fim de liberar a entrada de torcedores nas partidas do time.
A punição da Fifa pode chegar à suspensão do time de competições internacionais, caso entenda que o Corinthians foi beneficiado pela decisão. Se houver uma nova punição, a defesa alegará que o clube não teve nenhum benefício com a entrada dos quatro torcedores no estádio.
Recursos na Justiça comum ameaçaram Inter na Libertadores
Em 2005, depois do escândalo envolvendo partidas do Brasileirão com resultados combinados, no episódio que ficou conhecido como Máfia do Apito, torcedores do Inter entraram com pedidos na Justiça comum para que o Corinthians não fosse declarado campeão brasileiro. Na época, a anulação das 11 partidas apitadas por Edílson Pereira de Carvalho que tiveram resultados manipulados tirava o título do Inter, que era o líder do campeonato até o julgamento das ações da Justiça Desportiva.
Com os processos tramitando na Justiça comum, a CBF ameaçou o então presidente do Inter, Fernando Carvalho, de retirar o clube da disputa da Libertadores (o Inter jogaria como vice-campeão brasileiro) em 2006, entendendo que o time poderia se beneficiar de futuras decisões. Carvalho, então, solicitou aos torcedores que retirassem as ações, para garantir a permanência do Inter na disputa, o que foi atendido. No ano seguinte, o clube venceu a Libertadores e o Mundial de Clubes.