Estatisticamente, o Beira-Rio deixou de ser a fortaleza do Inter, ao menos na hora de decidir confrontos de mata-mata. Desde a reforma do estádio, em 2014, o time até leva vantagem quando faz a segunda partida na Avenida Padre Cacique. Mas nos últimos cinco anos, está empatado o número de vezes em que a torcida deixou as arquibancadas feliz com as ocasiões em que a caminhada para casa foi silenciosa ou sob protestos.
Nos 10 anos da reconstrução da casa colorada, o Inter fez o segundo jogo em frente aos colorados em 36 oportunidades. Venceu 23, caiu em 13. Conquistou dois títulos, os Gauchões de 2015 e 2016 (em 2014, a final foi no Centenário). A primeira eliminação levou três anos para ocorrer, na Copa do Brasil de 2017, ao perder pelo gol marcado como visitante para o Palmeiras (o resultado foi 2 a 1 para o Inter). O estádio, portanto, era um aliado importante, como sempre fora.
À exceção do Mundial, os maiores títulos da história do Inter tiveram como capítulo final o Beira-Rio. Mesmo que em muitos deles os colorados tenham aberto vantagem fora de casa (nas duas Libertadores, na Copa Sul-Americana e no Brasileirão invicto de 1979), a confirmação ocorreu diante dos colorados. Por isso, chama a atenção o índice desde 2020. Foram 16 disputas, oito classificações, oito eliminações.
Esse número destoa da média nacional. Um trabalho feito por cinco pesquisadores, coordenado pelo professor Julio Cesar Beltrão, do Departamento de Educação Física da Faculdade Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro, levantou os dados das fases decisivas das Copas do Brasil de 1989 a 2018. Eles constataram que as equipes que decidiram em casa vencem 55% dos mata-matas.
Dados à parte, o momento é de voltar a devolver a esperança à torcida. Coudet, sempre que pode, valoriza o fato de atuar em casa.
— Gostamos de jogar no Beira-Rio, com a nossa torcida. É um ponto a mais a nosso favor — disse em entrevista coletiva recente.
Remanescente dos "dois" Beira-Rio, o pré e o pós-reforma, Nilmar tem autoridade para falar sobre o tema. O atacante foi campeão nos dois cenários, e agora é assíduo frequentador do estádio enquanto torcedor.
— Tenho ficado ao lado da torcida, vejo uma certa ansiedade, que talvez pode transparecer para o atleta. Mesmo que seja profissional, ele sente a necessidade de conquistar títulos e isso aumenta quando está perto. Por mais que ter pressão seja bom, precisa ter equilíbrio emocional para tornar a vontade em realidade. Com o passar do tempo, o torcedor vai ficando mais angustiado — analisa.
Para ele, porém, o grupo é qualificado e a torcida tem apoiado o time. O aumento do número de sócios é o maior reflexo. E, segundo Nilmar, os colorados não vão abandonar por causa da eliminação no Gauchão:
— O Beira-Rio sempre foi 12º jogador. Na minha geração, a maior dificuldade era jogar fora de casa. A torcida voltou com tudo, o número de sócios é a demonstração disso. O colorado é apaixonado, isso se reflete no campo. O Beira-Rio é o melhor gramado do país, o estádio mais bonito. Quando começar o Brasileirão e tiver a primeira vitória, o torcedor vai estar lá, tenho certeza. Por mais que tenha angústia, vai ajudar.
O Inter terá outras decisões no Beira-Rio. Certamente terá pela Copa do Brasil, ainda sem adversário. E, na Copa Sul-Americana, caso avance à segunda fase.