O caos organizado estabelecido por Eduardo Coudet e Fernando Diniz na noite de quarta (27) teve voltas, revoltas e reviravoltas. A dinâmica caótica oferecida por Fluminense e Inter precisava de alguém para personificar toda a insanidade que foi o jogo de ida das semifinais da Libertadores. A loucura se materializou nas ações de Renê. Entre erros e acertos, o lateral-esquerdo se envolveu nos quatro gols do 2 a 2. A partir dele pode-se contar os bons e os maus momentos do time colorado na primeira parte da disputa por um lugar na final.
O lateral-esquerdo passou a noite às turras com anjos e demônios. Perambulou entre a sombra dos erros e a luz dos acertos. Ofertou ao torcedor colorado o êxtase do grande lance e a crueldade da presepada improvável. Logo ele, um jogador de poucos arroubos. Um camisa 6 de desempenho constante. Um defensor sólido. No Maracanã tudo se inverteu. Seu futebol virou de ponta-cabeça. Atacou com solidez e defendeu com liquidez.
Logo nas primeiras movimentações, o diabinho saltou à frente para segurar as pernas de Renê no exato instante em que Mercado lhe ofereceu a bola para prosseguir a construção de um novo ataque. O lateral hesitou, esperou para que ela chegasse até ele. O instante de indecisão teve Arias no meio do caminho e o gol em seu final. Em velocidade, o colombiano entrou na área, centrou para John Kenedy achar Cano livre no 1 a 0 do Fluminense.
Não demorou muito para que o anjinho que habita na chuteira dos bons jogadores ganhasse espaço. Ele deve ter emprestado suas asas para que a bola viajasse até a cabeça de Hugo Mallo no cruzamento de Renê, no empate colorado antes do intervalo.
Tinha mais por vir. Em lance similar ao do primeiro gol, a bola passou sob o pé do lateral, aos 17 do segundo tempo. O erro permitiu a Arias roubar a bola, vencer a disputa de corpo e disparar em direção ao gol de Rochet, mas o chute saiu fraco.
Com Coudet, a função de Renê quando o time ataca é aparecer pelo centro do campo. E na velocidade da luz, o defensor voltou a brilhar. Foi nessa região que ele iluminou a jogada do gol da virada. Do seu pé saiu passe que deixou Inter perto da área adversária. Na sequência, a bola chegou até Mauricio, que deixou Alan Patrick em condições de virar o placar.
Renê estava redimido. Na balança, suas contribuições pesavam mais do que o erro. Mas fez-se sombra novamente sobre ele. Mais uma vez o diabinho permitiu que Arias levasse vantagem em lance simples, aos 31, em uma demonstração prática de que uma pequena mudança no início pode gerar um final completamente diferente.
Podia ser um prosaico escanteio, como os outros quatro que o Fluminense teve na partida, mas não foi. Foi no escanteio em que um Flu reduzido a 10 homens empatou em cabeçada de Nino seguida de finalização de Cano.
Confiança intacta
Apesar dos erros, Renê não se escondeu nas sombras das desculpas após a partida. Ficou sob a claridade do holofote da imprensa para falar do que aconteceu em campo de maneira direta, sem subterfúgios.
A tristeza excedeu a alegria de ter ajudado nos gols
RENÊ
lateral-esquerdo do Inter
— Faz parte do jogo. Fico feliz por ter ajudado a equipe a fazer os gols, mas triste por não ter evitado os do Fluminense. O que me resta é continuar com a minha confiança, que continua intacta — lamentou.
O tom adotado em suas redes sociais foi o mesmo. O lateral postou mensagem em que ressaltou que as falhas podem ter lhe tirado o sono, mas não a confiança. Logo, recebeu abraço virtuais de torcedores e companheiros, como Rochet, Vitão, Rômulo e Alan Patrick, entre outros.
— O Renê é muito regular. É a sua maior virtude. Acho que no primeiro gol ele não estava atento. Talvez não tenha estudado o John Arias, que é um jogador muito rápido. Depois, se redimiu fazendo um passe para o Mallo. Acho que esteve abaixo nas construções das jogadas. No segundo gol não dá para dizer que a culpa é dele. Em uma cobrança de escanteio aberta, a defesa tem que sair, mas o Mallo fica e acompanha o Cano — avalia o ex-lateral Júnior, comentarista da Globo na transmissão da partida no Maracanã.
Nos números, o camisa 6 colorado teve uma atuação dentro de sua média. Mas, nesse caso, a frieza das estatísticas derrete com o calor do jogo. Foram apenas quatro posses de bola perdidas, segundo dados da plataforma Footstats. Alan Patrick, por exemplo, teve seis ações que terminaram no pé do adversário. Com cinco desarmes, Renê foi o maior ladrão do jogo. Porém, as imagens de seus erros são mais eloquentes:
— Saio triste. Sempre que a equipe toma gol, estando eu envolvido ou não no lance, fico triste porque faço parte da defesa. A tristeza excedeu a alegria de ter ajudado nos gols. Acontece. É da nossa profissão. Agora é esquecer os erros e pensar no próximo jogo.
O próximo jogo, no caso de Renê, é a partida de volta na quarta-feira. Até lá, o torcedor colorado esperava que ele fique com os anjos e se livre dos demônios.
Renê contra o Fluminense*
- 43 passes certos
- 5 passes errados
- 1 finalização para fora
- 5 desarmes
- 1 assistência para gol
- 2 assistências para finalizações
- 3 cruzamentos certos
- 1 cruzamento errado
- 4 perdas da posse de bola
*Dados do Footstats