Que intensos foram esses dois meses de Eduardo Coudet à frente do Inter, completados na terça-feira (19). Diante do Athletico-PR, às 19h30min desta quinta (21), será a 13ª partida da nova era, iniciada em 19 de julho. Foram pouco mais de 60 dias de uma campanha quase perfeita na Libertadores e de alerta no Brasileirão. Com loucura para o bem e para o mal, como o "Chacho" acostumou aos colorados.
Na matemática fria, o aproveitamento do argentino nesta volta não indica euforia. Em 12 jogos de Libertadores e Brasileirão, o percentual é de 44%. Na competição nacional, venceu apenas um jogo em oito disputados. Só com seu desempenho, estaria na 18ª posição. Na abertura da rodada, ocupa o 12º lugar, uma posição abaixo do que estava Mano Menezes quando foi demitido após 15 confrontos, seis vitórias e quatro empates. Pouco? Experimente dizer isso aos colorados que estavam no Beira-Rio em 8 de agosto.
Porque futebol não é (só) número, e aquela terça-feira pode provar. Depois de ter perdido por 2 a 1 em Buenos Aires, a torcida quebrou o recorde de público do Beira-Rio pós-Copa do Mundo de 2014 e, em uma amostragem de força, deu a volta e eliminou os argentinos depois de duas dezenas de pênaltis. Era o velho Coudet, com um time intenso, empolgado, sufocante, que fez os colorados se ilusionarem, para usar uma expressão da moda do outro lado da fronteira.
— Sou feliz aqui. Me identifico com essa loucura que tem o torcedor do Inter. Da outra vez foram poucos momentos assim, por causa da pandemia. Agora estou desfrutando também. Jogar com nossos torcedores nos dá um plus — disse, ao eliminar o Bolívar, nas quartas da Libertadores.
Esse confronto, aliás, mostra a faceta 2023 de Coudet, talvez sua grande diferença para 2020. Na altitude de La Paz, o treinador abriu mão da intensidade, da pressão por todo o campo. Montou um time cauteloso, com linha de cinco defensores, dosando as energias para durar os 90 minutos a 3,6 mil metros acima do nível do mar.
Essa flexibilidade é uma marca de seu trabalho. Em entrevista a GZH, o presidente do Inter, Alessandro Barcellos, atestou essa impressão:
— A experiência no futebol brasileiro dá a ele um entendimento maior. O ambiente de muita confiança entre todos dá flexibilidade para trabalhar e para ouvir, diferentemente do outro momento, quando ele estava talvez mais inseguro. O jogo contra o Bolívar mostra o crescimento neste aspecto, soube fazer a leitura e trabalhou uma forma de jogar diferente da que está acostumado.
Coudet, mais uma vez, mostrou-se completamente ambientado ao Inter. Em uma entrevista, chegou a pedir que os torcedores abandonassem o pessimismo, parassem de "consumir mierda" e acreditasem no trabalho.
E isso aumentou quando, enfim, venceu a primeira no Brasileirão. Disse, rindo:
— Eu também estava desesperado para ganhar.
A campanha na competição nacional preocupa, já que está na segunda página da tabela de classificação. Mas pouco se fala em correr risco de rebaixamento. É consendo de que a situação vai melhorar quando não estiver em jogo a disputa por uma vaga na final da Libertadores, o grande sonho colorado.
O terceiro mês de Coudet à frente do Inter será decisivo para o futuro na competição continental. E, de certa forma, até para a sequência do argentino. Seu contrato vai até dezembro, e as chances de permanência aumentam a cada jogo de evolução.