Os números deixam claro o tamanho da façanha que o Inter buscará em Buenos Aires na terça-feira (1º), pelas oitavas de final da Libertadores. Desde que inaugurou a nova versão do Monumental de Núñez, em fevereiro, o River Plate jogou 15 vezes em sua casa. Ganhou 14. É uma máquina de atropelar adversários. Mas — e é aqui que estão as esperanças coloradas — houve uma derrota. O que fez o modesto Arsenal de Sarandí para vencer na pressão dos Millonarios, cuja capacidade aumentou de 72 mil para 86 mil com arquibancadas mais próximas do campo?
— É impressionante, né? A cada dia que passa, fica ainda mais forte aquele jogo. Aproveitamos o que tínhamos, nossa preparação, um certo desajuste e um desgaste deles, e executamos o plano — recorda um orgulhoso Carlos David Ruiz, hoje técnico do Tristán Suárez, da segunda divisão argentina, mas que em 26 de fevereiro comandava o Arsenal, na histórica noite que sua equipe fez 2 a 1 em Núñez.
Era a quinta rodada do campeonato. Martín Demichelis ainda organizava a equipe e buscava a formação ideal do River. No segundo jogo do renovado Monumental, o time da casa aproveitou a força do ambiente e abriu o placar logo aos oito minutos, com Paradela. O gol não brecou os mandantes, que seguiram atacando e forçando. Mas o Arsenal, aos poucos, foi se assentando.
Encontrou as falhas que haviam sido apontadas previamente. Tendo mais a bola, passou a investir no controle primeiro, e na velocidade depois para deixar o River em apuros. O empate chegou aos 19, com Guzmán de pênalti. O time da casa sentiu o golpe. Sem conseguir aumentar a produção, levou a virada a nove minutos do fim, gol de Leal.
O Arsenal foi o único que enfrentou os Millonarios, na casa deles, e venceu. Mas houve outras derrotas do River. Belgrano e Barracas Central fizeram de suas pequenas canchas ambientes inóspitos para buscar as vitórias. O The Strongest aproveitou a altitude de La Paz. O Fluminense estava no auge do Dinizismo. O Talleres, atual vice-líder do campeonato nacional, conseguiu ganhar em Cordoba e também em campo neutro (pela Copa Argentina).
Os gigantes, os pequenos, os da altitude e os do campo neutro souberam controlar as maiores virtudes do River e se beneficiar de suas maiores debilidades. E são unânimes na análise: quem quer ganhar do time de Demichelis não pode pensar só em se defender e esperar o tempo passar. Só vence os Millonarios quem joga como eles.
— Eles nunca tiram o pé do acelerador. Se fizerem um gol, vão seguir atacando. Na comparação com o time de Gallardo, vejo que são menos diretos, ficam mais com a bola, giram os atletas, não ficam em posições fixas. Eles vão buscando espaços até ficar em situação de driblar. E isso vai até o fim do jogo, não pode perder a concentração — opina o técnico Sergio Rondina, do Barracas Central, que fez 2 a 1 no River em 1º de julho.
Na hora de falar sobre as fraquezas, também houve unanimidade entre os treinadores de Barracas e Arsenal. Rondina e Ruiz alertaram: um time que ataca tanto eventualmente dá espaço atrás.
— Coudet conhece bem o River. Sabe que, como eles têm tanta qualidade, vão para a frente mesmo. E não se importam de defender, por vezes, no um contra um. Outro ponto é a bola parada. A ofensiva, um perigo. Mas acontece de falhar defensivamente — completa Rondina.
Ao menos no discurso, o Inter aponta para esse caminho. Em entrevista à ESPN argentina, o lateral Bustos afirmou:
— Estamos passando por uma mudança de ideias e creio que vamos ao Monumental jogar de igual para igual. Vocês sabem como jogam as equipes do Coudet.
Será preciso pôr em prática o discurso para sair vivo de Buenos Aires. Coudet sabe bem disso.