O assunto pulsa nos debates do futebol gaúcho. O que ocorreu com o Inter de 2022 depois que o ano virou? O time vibrante, vice-campeão brasileiro, não consegue o desempenho em 2023, e os resultados corroboram com a análise.
Mano Menezes reclamou da comparação. Na entrevista coletiva após o empate com o Independiente Medellín, afirmou que o time do ano passado tinha ficado para trás em dezembro. Antes, havia dito:
— Não existe time de um ano para outro. É uma utopia. Você se forma diferente. Hoje temos outros jogadores e você muda a forma de jogar.
A comparação é inevitável, mesmo que o clube repudie, porque se trata do mesmo time, mesmo técnico e com basicamente os mesmos jogadores. É que em um intervalo de menos de meio ano, caiu abruptamente de rendimento, segundo a opinião de analistas e até nas análises feitas externamente por comissão técnica, atletas e dirigentes.
O dono da maior pontuação da história colorada no Brasileirão de pontos corridos não repete a temporada promissora: foi eliminado no Gauchão na semifinal e teve estreia com empate na Libertadores de desempenho criticado.
Mas, para não ficar apenas na comparação de resultados, elencamos alguns itens práticos do que o Inter não consegue repetir e que foram os pontos fortes de 2022.
Gols sofridos
Engana-se quem pensa que o problema do Inter em 2023 seja ofensivo. Pelo contrário: está no sistema defensivo. Ao menos é o que mostram os números. Indepenentemente do debate teórico sobre postura e comportamento, o fato é que o time de Mano tem vazado bastante.
A média de gols sofridos é basicamente a mesma do ano passado. Em 46 jogos sob comando do treinador na última temporada, levou 36 gols. Em 2023, são 14 partidas 11 gols.
Em um contexto, precisa-se destacar que a comparação é com equipes do Brasileirão, sabidamente mais fortes do que as do Gauchão. E é urgente corrigir as falhas da bola aérea, forma como os adversários venceram Keiller nas duas últimas partidas.
Maus desempenhos
É consenso de que Keiller, Bustos, Mercado, De Pena e Alemão tiveram quedas abruptas de desempenho. Johnny, Wanderson e Mauricio tiveram uma evolução menor do que se esperava, com alguns lampejos em meio a atuações medianas. A rigor, apenas Alan Patrick e Pedro Henrique melhoraram de fato, e Renê manteve o nível.
Com as más atuações da maior parte dos atletas, há uma visível sobrecarga especialmente em Alan Patrick. O time depende dele para ser criativo e gerar oportunidades. Ou quando Pedro Henrique resolve por si. Quando muitos jogadores diminuem de rendimento, é sinal de que há um problema coletivo. Ou que o item a seguir precisa ser resolvido
Está mais "visado"
A análise partiu do próprio Mano Menezes, ao final da partida de terça-feira:
— Ano passado era outra situação, outro campeonato. As pessoas nos conheciam menos. Agora somos uma referência pelo vice-campeonato brasileiro, os adversários nos respeitam e nos estudam mais.
Claro que o Inter seria mais "respeitado" em partidas do Gauchão. Naturalmente, encontraria posturas mais defensivas nos adversários. Mas, mesmo contra equipes que não fizeram retranca, a equipe encontrou dificuldades. É preciso criar alternativas para sair das marcações adversárias.
Falta de combate
Tem uma peça em especial que o Inter perdeu em 2023 e não consegue igualar a 2022. Trata-se de Gabriel. A dedicação do volante na marcação, sua capacidade de organizar o setor e de criar mecanismos de compensação aos demais meias são sentidas na temporada. Nenhum de seus substitutos (Johnny, Baralhas e Matheus Dias) consegue suprir essas características.
— O Inter tem sofrido para conseguir recompor suas linhas e reestruturar o bloco defensivo nas transições, chegando sempre com menos jogadores do que deveriam. A linha da defesa até consegue se reestruturar, mas a de meio-campo é lenta, os jogadores demoram para chegar nas suas posições — aponta Mauro Júnior, analista de desempenho que acompanha o Inter nas redes sociais.