Eliminado pela segunda vez seguida do Gauchão antes mesmo da final, o Inter tem mais ou menos uma semana para arrumar a casa e se reagrupar em vista da Libertadores. Serão dias de trabalho para Mano Menezes ajustar a equipe, mas não apenas isso. Será necessária uma atenção especial a fatores externos, como a recuperação da autoestima do torcedor e à pressão em cima de jogadores. A seguir estão alguns diagnósticos da derrota nos pênaltis para o Caxias e as lições que os colorados precisam aprender com urgência para ir adiante na competição continental.
Política do pontinho fora
Na semifinal do Gauchão, Mano Menezes valorizou o empate com o Caxias na partida de ida. Ao ser perguntado sobre a bronca que deu em Johnny nos instantes finais, explicou que a crítica se deu porque o volante havia se desprendido da marcação e subido ao ataque, permitindo espaço quando o adversário recuperou a bola. Segundo ele, o 1 a 1 estava de bom tamanho para decidir em casa.
Mas essa máxima não vale apenas para Mano. É algo já intrínseco ao clube. Em 2019, na final da Copa do Brasil, o Inter teve uma postura altamente defensiva contra o Athletico-PR apostando em uma reviravolta no Beira-Rio, o que não aconteceu.
Na história colorada, a maior parte dos títulos nacionais e internacionais conquistados teve vitória fora de casa: Brasileirão de 1979, as Libertadores de 2006 e 2010 e Sul-Americana de 2008 são os exemplos.
Desatenções nos acréscimos
A crise do Inter em 2023 pode até ter dado sinais nos empates com Juventude e Avenida, mas eclodiu mesmo no Gre-Nal. E se instalou definitivamente na eliminação para o Caxias. Em comum a esses dois últimos jogos, o fato de ter levado gol nos acréscimos. Para o Grêmio, saíram gols após os 45 do primeiro e do segundo tempos. Diante da equipe da Serra, também foi depois do tempo regulamentar da etapa inicial.
A Libertadores eleva o nível e exige atenção em todos os momentos. Se no Gauchão uma falha já pode causar prejuízos, em competições com equipes melhores, certamente será fatal.
— Era hora de acabamento. O time tinha estabelecido a vantagem com mérito e poderia ter feito mais. E por um descuido, talvez de forçar uma jogada ofensiva na hora em que poderia ter rodado a bola para encerrar o primeiro tempo, levou um gol um pouco desarrumado — lamentou Mano.
Chances perdidas
O Inter teve 23 finalizações em 90 minutos contra o Caxias. Destas, pouco menos da metade foi na direção da trave (11). Apenas uma virou gol. O índice de criação e aproveitamento da equipe precisa ser melhorado com urgência.
A partir de agora, a equipe não terá mais tanta superioridade sobre os adversários como ocorre no Gauchão. Por isso, será necessário caprichar, estar concentrado e converter as oportunidades criadas.
— Se a chance de Wanderson, que bateu no travessão, entra, ou se o chute de Mauricio que teve desvio do goleiro e passou ao lado da trave, poderíamos ter outra história e estaríamos conversando sobre outra situação aqui — disse o treinador na última entrevista.
Jogadores em má fase
Certezas da temporada passada, Bustos, Vitão, De Pena e Alemão não conseguem repetir os desempenhos tão elogiados. Wanderson também começou abaixo do que deixou como expectativa (apesar de ter recuperado parte do prestígio sendo o líder de assistências do time). Mercado ainda pode melhorar. Johnny, idem. Apenas Alan Patrick, Mauricio e Pedro Henrique melhoraram suas situações em 2023.
E essas quedas de rendimento não têm a ver apenas com sistema de jogo. Até porque na maior parte dos casos, não houve mudanças táticas significativas que exigissem adaptação dos atletas. Caberá a Mano fazer um trabalho intensivo com seus jogadores para reencontrar o futebol que já apresentaram.
Ambiente turbulento
O símbolo do ambiente colorado foi o final do jogo contra o Caxias. Ao não tolerar a comemoração de Wesley, alguns jogadores (especialmente os mais experientes, como Alan Patrick, Mercado e Moledo) partiram para cima dos adversários e iniciaram a pancadaria, que culminou com a invasão de campo de alguns torcedores no geral e no que carregava uma criança no colo em específico.
Alan Patrick ainda tentou justificar e admitiu o erro:
— Acabei participando ali de cabeça quente. Somos seres humanos. Momento de frustração e houve uma parte de provocação de alguns jogadores deles. Eu, como homem, reconheço que falhamos. Deveríamos ter tentado controlar um pouco as emoções para não gerar essa confusão toda. É triste, lamentável. Vi a cena de um pai com uma filha no colo. Isso tem que acabar e começa pela gente dentro de campo. Temos que ter esse controle emocional.
A falta de títulos (o Inter não é campeão desde o Gauchão de 2016, e, fora do RS, desde a Recopa de 2011) pesa para deixar ainda mais pressionado o ambiente. Algo a ser administrado também pelo clube.