As duas rodadas sem vitória no Gauchão ligaram alerta do Inter e mostram que a manutenção do time vice-campeão brasileiro não foi o bastante para garantir bom início de temporada. O alvo das dificuldades da equipe está no ataque.
Mostrando até uma sinceridade pouco comum em treinadores publicamente, Mano Menezes cobrou melhor desempenho de Alemão e admitiu a possibilidade de fazer uma improvisação no comando do seu setor ofensivo.
Afinal, a posição de centroavante é que gerou maior debate nesta janela de transferências do Inter. A diretoria tenta a contratação de um jogador para a posição, mas há um entendimento de que a concretização de um negócio poderá ficar para depois do fechamento da janela europeia, que ocorre em 31 de janeiro.
Sem novos reforços e com a saída de Braian Romero, negociado ao Tijuana-MEX, Mano Menezes iniciou 2023 tendo Alemão, Lucca e Mikael à disposição. O último, contratado em agosto, segue com suas dificuldades físicas e sequer foi relacionado nas primeiras rodadas do Gauchão.
Embora não confirme publicamente, a direção colorada procura por um clube que aceite assumir o empréstimo ou acertar uma outra negociação com a Salernitana-ITA, dona dos direitos econômicos de Mikael, para facilitar sua saída. Já Lucca subiu da base neste ano e ainda não é considerado pronto para ganhar sequência pela comissão técnica.
Esse cenário fez com que Alemão iniciasse o Gauchão como titular e quase sem concorrência na equipe colorada. Após dois jogos, porém, o centroavante, além de não ter marcado nenhum gol, sequer finalizou diante do Avenida. Contra o Juventude teve dois chutes para fora. Ou seja, em duas rodadas ainda não acertou nenhuma finalização no alvo.
Os números mostram que Alemão não é um centroavante que costuma ter um alto número de finalizações. No último Brasileirão, por exemplo, em 34 jogos, ele teve uma média de 1,4 chutes por partida. Levando em consideração as finalizações no alvo, a média ficou em 0,6.
Ainda assim, Mano Menezes vê problemas na movimentação do centroavante, algo que ele entendeu ter melhorado quando Pedro Henrique virou centroavante no segundo tempo do empate com o Avenida.
— O time todo está sofrendo um pouco mais de falta de opção de jogadas na frente. Isso é nítido e precisamos resolver. Tentamos colocando o Pedro (Henrique) por dentro. Ele não é da posição, mas melhorou porque criou dificuldades aos zagueiros, movimentou mais e partiu em profundidade, que é o que está faltando para nós. Aí as coisas começaram a melhorar um pouco — avaliou.
A profundidade citada por Mano Menezes é um conceito que no futebol diz respeito à distância entre o defensor mais recuado e o atacante mais adiantado em um time. Quem defende busca ficar de forma compactada para reduzir os espaços do campo. Quem ataca tenta esticar seu rival para criar os espaços a serem explorados. Nesse cenário, a movimentação do centroavante é vital para empurrar a defesa adversária para trás.
— No Brasileirão, as equipes saem mais para jogar e sobra espaço nas costas dos defensores. Ele (Alemão) sendo um jogador de força e velocidade, você faz uma bola mais longa e ele tem maior possibilidade de sucesso. Quando se joga contra uma equipe com uma postura mais defensiva em bloco baixo e que espera para sair em contra-ataque, o que é realidade dos pequenos contra os grandes nos estaduais, os espaços às costas dos zagueiros somem ou diminuem consideravelmente. O centroavante precisa fazer outro tipo de movimentação, o pivô, oferecer a tabela para as ultrapassagens e assim possibilitar que a bola chegue com maior frequência dentro da área — explica Israel Teoldo, Coordenador do Curso de Especialização em Futebol da Universidade Federal de Viçosa.
Teoldo ressalta que a característica de Alemão prevalece no jogo com espaço. Por isso, há necessidade de adaptação no cenário atual do Inter, o que depende de maior tempo de treinamento e também de uma coordenação coletiva do time.
— Há espaço de força e de habilidade, o Alemão usa mais o espaço de força. Não havendo espaço para a força dele ser utilizada, acaba ficando limitado. Para superar essa dificuldade há uma necessidade de evolução dele e de toda a equipe. Através de treinamentos do treinador consegue trabalhar os comportamentos mais associados ao modelo de jogo da equipe e também evoluir esse modelo. Como ainda é um começo de temporada, o Mano certamente vai buscar evoluir isso no decorrer dos treinos e a equipe conseguirá apresentar alternativas e soluções para essa limitação inicial apresentada — completa o professor.
O professor da CBF Academy e auxiliar técnico de futebol profissional Bebeto Sauthier explica que a profundidade pode ser gerada por outros jogadores além do centroavante.
— Gerar profundidade é um dos grandes desafios das equipes em seus processos ofensivos. Atacando a última linha do adversário, geralmente fazemos com que os defensores andem para trás e assim, surge o chamado entrelinhas, que é o espaço entre as linhas do adversário, ou o espaço nas costas dos últimos defensores. É importante frisar que não apenas os atacantes podem gerar profundidade. Você pode gerar com o ponta, com o meia ou com o próprio lateral, de forma simultânea ou não. Isso vai muito da estratégia e da preferência dos seus treinadores, como características de seus atletas — avalia.
Diante das dificuldades de Alemão, o Inter pode ter uma improvisação no comando do ataque diante do São Luiz. Como Wanderson deve voltar a ocupar a ponta esquerda, Pedro Henrique é o ficha 1 para atuar como centroavante caso Mano resolva deixar o atual titular como opção.