A 2ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) absolveu nesta terça-feira (13) o lateral Rafael Ramos no caso de injúria racial contra Edenilson na partida entre Corinthians e Inter, disputada no dia 14 de maio, no Beira-Rio. Ainda cabe recurso da decisão, que pode ser levada ao Pleno do Tribunal.
A decisão se deu por maioria de votos, sob a alegação de que cinco perícias apresentadas no processo não comprovaram que Rafael Ramos disse a palavra "macaco" para Edenilson.
O caso
As primeiras provas do inquérito foram colhidas ainda na noite de 14 de abril, quando Inter e Corinthians se enfrentaram pelo Brasileirão. Na ocasião, o jogador colorado alegou ter sido chamado de "macaco" pelo lateral-direito Rafael Ramos, do time paulista.
No Beira-Rio, o delegado plantonista Carlo Butarelli ouviu os dois jogadores e decretou a prisão em flagrante de Ramos por injúria racial. O jogador foi liberado após o Corinthians pagar uma fiança no valor de R$ 10 mil.
A defesa da Rafael Ramos, no entanto, apresentou outra versão do que teria dito o jogador. Segundo o advogado Fabiano Cerveira, em entrevista ao Sala de Domingo, da Rádio Gaúcha, um dia após o fato, o português fez um xingamento a Edenilson usando o termo “mano, caralho”.
Em 8 de junho, o IGP divulgou o laudo da perícia labial informando que não foi possível concluir o que Rafael Ramos disse para Edenilson. Em entrevista ao programa Hoje nos Esportes, da Rádio Gaúcha, naquele dia, a diretora do Departamento de Criminalística do Insituto-Geral de Perícias, Sheila Wendt, explicou por que a perícia não conseguiu apresentar uma conclusão.
— Para estabelecer algum resultado, a gente usa uma metodologia científica, que precisa ser testada e aprovada. Em várias áreas da perícia, temos metodologias consagradas. Qualquer análise tem que ser possível de ser repetida por outro perito, que chegará ao mesmo resultado. Neste caso, recebemos o pedido de leitura labial e procuramos tanto nacionalmente como internacionalmente se existia alguma metodologia, e não há. Então, se posicionar no sentido de tecer qualquer consideração sobre uma leitura labial, atualmente, é exploratório, é uma opinião. Pode ser baseado em algum conhecimento que a pessoa tenha, como um surdo-mudo, mas não é prova científica — declarou a diretora do IGP, sobre o laudo solicitado pela Polícia Civil, baseado nas imagens da partida.
Antes do parecer do Instituto-Geral de Perícias, outros especialistas em leitura labial já haviam se posicionado sobre o tema. Contratados pelo jogador corintiano, dois profissionais do Centro de Perícias Curitiba afirmaram que a palavra macaco não havia sido utilizada durante a discussão.
A defesa de Edenilson também contratou perícia, e esta apontou o uso da palavra macaco. O documento, ao qual a reportagem de GZH teve acesso, diverge das apresentadas pelo corintiano, que apontam que não houve injúria racial, e da perícia oficial do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que alegou não ser possível constatar o que foi dito pelo atleta português.
O relatório da perícia do IGP, assinado pelos peritos Roberto Carlos Meza Niella e Silvio Tavares Ferreira, apresenta análise de leitura labial das imagens do jogo e uma comparação com os fonemas pronunciados por Rafael Ramos em depoimento concedido ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Além disso, os peritos apresentam um vídeo com diversos falantes portugueses pronunciando a palavra "macaco", sustentando que a articulação vocal seria a mesma feita pelo lateral na partida.