Após a classificação nas oitavas de final da Copa Sul-Americana com a virada sobre o Colo-Colo, o caminho do Inter até a final em Córdoba, na Argentina, passa por Arequipa. Na cidade peruana com altitude de 2,3 mil metros, o Colorado vai encarar o Melgar nesta quinta-feira (4), no Estádio Monumental da Universidad Nacional de San Agustín (UNSA), que teve todos os 29 mil ingressos colocados à venda pelo clube, no último domingo (31), esgotados em menos de 24 horas.
A empolgação da torcida com o Melgar se justifica. O clube fundado em 1915 esteve décadas longe do protagonismo no futebol peruano e voltou a brilhar apenas no ano do seu centenário, em 2015, quando conquistou o Campeonato Nacional pela segunda vez em sua história. Neste ano, o Melgar foi campeão do Torneio Clausura e tem sido o símbolo de sucesso do futebol do país, já que foi o único peruano a chegar aos mata-matas das competições continentais.
Mesmo com o bom momento, o Melgar passou por uma troca no comando técnico depois da classificação para as quartas de final. Isso ocorreu porque seu treinador, o argentino Néstor Lorenzo, aceitou uma proposta para assumir a seleção colombiana. Seu substituto é o também argentino Pablo Lavallén. Aos 49 anos, o ex-defensor, campeão da Libertadores de 1996 como jogador do River Plate, ainda tem uma trajetória curta na casamata. Seu maior feito foi no Colón, em 2019, quando levou o pequeno clube argentino ao vice-campeonato da Copa Sul-Americana.
Essa experiência no torneio influenciou para sua contratação pelo Melgar. Outro fator foi a expectativa dele em dar continuidade ao que vinha sendo feito por Lorenzo sem mudanças drásticas na equipe. Lavallén estreou apenas quatro dias após a classificação para as quartas de final na Sul-Americana com vitória de 1 a 0 sobre o Carlos Mannucci, pelo Campeonato Peruano.
O treinador acumula quatro partidas no comando da equipe, com três vitórias e uma derrota. Seu único revés ocorreu diante do Sporting Cristal, no dia 17 de julho, em Arequipa. Os nove pontos somados deixam o Melgar em sexto lugar no Torneio Clausura, a quatro do líder Alianza Lima, que tem uma partida a mais.
Pablo Lavallén reconheceu que encarar o Inter é maio desafio do Melgar na temporada e admitiu o favoritismo brasileiro. O treinador, porém, mostrou confiança em fazer valer o fator local para chegar ao Beira-Rio em vantagem no confronto.
— O jogo com o Inter será o mais exigente para o Melgar em muito tempo, isso sob o meu comando e também do Lorenzo. Vamos enfrentar uma equipe reconhecida no Brasil e no mundo, que tem jogadores de muita classe. A exigência será muito grande, pois enfrentaremos um rival complicado, com muita experiência em torneios como a Sul-Americana e a Libertadores. Vamos fazer de tudo para corresponder a essa expectativa do povo de Arequipa, mas ao analisar os prognósticos, não podemos negar que o favorito é o Inter. Cabe a nós reverter isso. Sabemos que teremos uma grande oportunidade jogando em casa de poder abrir uma vantagem para ir a Porto Alegre tentar repetir o que o Melgar fez em Cali, quando foi um time agressivo, que não deixou o adversário jogar, que foi protagonista — declarou.
Time tem artilheiro, mas a força da equipe está na solidez defensiva
O Melgar tem o artilheiro da Copa Sul-Americana, Bernardo Cuesta, que marcou oito gols em nove partidas na competição. O argentino de 33 anos está em sua quarta passagem por Arequipa e chegou na vitória sobre o Sport Huancayo, no último dia 23, a 150 gols em 298 jogos pelo clube. Em 2022, Cuesta acumula 16 gols em 29 partidas.
Se tem um artilheiro em grande fase, o Melgar sofre por ter poucos jogadores que acompanham o argentino. O vice-artilheiro da equipe na temporada é Luis Iberico, com seis gols, seguido por Kavin Quevedo, com quatro. Os meio-campistas Jean Pierre Archimbaud e Martín Guedes somam três cada. Nenhum outro jogador balançou as redes mais de duas vezes neste ano.
O técnico Pablo Lavallén admite que uma de suas missões é melhorar o sistema ofensivo. Uma alternativa que ele tem buscado é aprimorar a bola parada da equipe.
— É um time que cria muito e converte pouco, principalmente nas últimas rodadas. Temos bons jogadores na bola aérea, temos zagueiros que ganham muitos duelos aéreos na defesa e precisamos ganhar também na bola ofensiva. Claro que isso também depende do cobrador de bolas paradas. Se você tem um grande batedor, a chance de ganhar por cima é maior. É preciso ensaiar as jogadas e fazer com que a bola chegue da forma treinada — admitiu.
Na Sul-Americana, o Melgar marcou 14 gols e sofreu oito em 10 partidas. A diferença entre defesa e ataque aparece mais ainda no Campeonato Peruano. Nesta temporada, a equipe tem 26 gols marcados em 22 partidas (uma média baixa de 1,18 por jogo). O time tem a melhor defesa do futebol peruano, tendo sofrido apenas 12 gols (uma média 0,54 por partida). O Melgar terminou 16 compromissos sem ter a defesa vazada.
Esse desempenho defensivo e a dificuldade ofensiva fizeram o Melgar se tornar o time do 1 a 0. A equipe venceu 13 partidas em 2022 por esse placar.
Dúvida na defesa
Essa defesa que tem sido o ponto seguro do Melgar tem dúvida para o confronto com o Inter. Titular da zaga, Leonel Galeano foi desfalque na vitória sobre o Universidad Técnica de Cajamarca, na última rodada do Campeonato Peruano, por lesão. Sem ele, a opção de Lavallén é usar o experiente volante Horacio Orzan, de 34 anos, improvisado como zagueiro.
Por ser o único representante do futebol peruano em competições continentais, o Melgar conseguiu junto à Federação Peruana de Futebol (FPF) o adiamento do jogo com o Alianza Lima, inicialmente marcado para domingo, podendo assim dedicar-se apenas aos confrontos com o Inter nestas duas semanas.